Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
TCM: Modelo têmpero-cognitivo
Uma perspectiva dinâmica, não-linear e cooperativa do tempo humano e sua expressão lingüística
Miléa Angela Fróes

(2º parte)

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On the whole, it must be more important
to be skilful in thinking than to be
stuffed with facts.

Edward de Bono

III. A abordagem Têmpero-Cognitiva, como alternativa metodológica

O TCM não fornece, portanto, uma definição rigorosa para cada tempo verbal (tal como seria imprescindível no campo da lógica, por exemplo). Tal característica (que poderia, a priori, fazer imaginar-se como pouco preciso o que o modelo oferece), não deixa de constituir uma dificuldade especialmente para aqueles que tacitamente anseiam por memorizar regras a serem utilizadas tal como se fossem "receitas." Ocorre, todavia, que tais regras apenas inicialmente poderiam constituir bom investimento. Pois quanto mais buscamos ou nos deparamos com usos criativos da língua, menos a utilização de "receitas" se mostra produtiva (cf. Dreyfus e Dreyfus 1986, Benner 1984, e especialmente Enkvist 1995, e Marton-Säljö 1979).

Reconhecimento inteligente—versus "decoreba" mecanizada—não apenas é possível, como desejável quanto à aplicação didática do TCM. A abordagem–TC, em suma, presta o seu tributo à criatividade e inteligência humanas. Neste respeito, o TCM exibe coerência com pesquisas recentes no âmbito do treinamento/aperfeiçoamento e educação, como indicado acima. Estes estudos oferecem evidência convincente de que [1] peritos/especialistas, qualquer que seja a sua área, valem-se especialmente de um raciocínio intuitivo na execução de suas funções e práticas diárias, em vez de buscarem apoio analítico (e exclusivamente racional) em regras e instruções que lhes havia sido necessário aprender nos estágios iniciais de seu treinamento, e de que, de forma análoga, [2] alunos revelam valer-se menos de regras aprendidas ao aplicarem de forma prática seus conhecimentos do que nós, professores, temos a crer, baseando-se eles preferencialmente em intuição e bom senso.

Se o sistema que se depreende como língua sistematicamente elude explicação coerente no domínio da sintaxe dos tempos verbais, por outro lado, uma das metas da ciência traduz-se na busca de modelos que possam prestar contas de fenômenos e entidades da forma mais coesa possível. O espírito que norteia a pesquisa científica não se predispõe a aceitar que algo seja desta ou daquela maneira porque assim é. No contexto do ensino de línguas, e mais especialmente ainda no contexto do ensino de uma língua estrangeira, os alunos anseiam por explanações que lhes façam sentido. Ademais, a própria história do desenvolvimento científico constitui evidência viva de que aquilo que já se tomou ou aceitou por dogma, conserva tal status apenas até que a ciência caminhe um passo à frente e encontre-se pronta a assimilá-lo e a integrá-lo no domínio do panorama científico corrente, que via de regra proporciona um ponto de vista original (22). Embora a lingüística seja uma ciência tão jovem, não há porque deva ser diferente.

IV. A abordagem Têmpero-Cognitiva—uma breve ilustração introdutória

O TCM será visto em ação abaixo, a título de ilustração, com o que a questão complexa relativa a tempo cronológico versus tempo verbal vai-se também delinear. Muito embora não haja ambição outra que a de proporcionar uma breve amostra a título de ilustração, a fineza de detalhe que a abordagem-TC oferece permitirá uma apreciação suficientemente ampla dos enunciados a serem examinados. Isto não significa, no entanto, que o modelo possa estar plenamente ilustrado através de alguns poucos exemplos. Para uma visão global do TCM, vide as duas figuras incluídas no início da seção II, acima. Os rótulos tradicionalmente atribuídos aos tempos verbais e o jargão relativo ao TCM encontram-se ambos escritos com iniciais maiúsculas, abaixo, para facilitar a referência (23)ACHERON4.M__023. Quando não se auto-evidenciam a partir do contexto, os termos referentes ao TCM estão brevemente explicados.

Um simples enunciado, tal como

1.a He gave her the key so that she would come very early tomorrow and do the cleaning before the guests got up,

1.b Ele entregou-lhe a chave para ela vir amanhã bem cedo e fazer a limpeza antes dos hóspedes se levantarem,

1.c Ele entregou-lhe a chave para que ela viesse amanhã bem cedo e fizesse a limpeza antes que os hóspedes se levantassem,

exibe um tempo verbal no Passado (gave/entregou) que se ocupa em expressar tempo (cronológico) também em referência ao passado. A relação tempo verbal–tempo cronológico, porém, já deixa de ser linear quanto aos demais tempos verbais que figuram nos exemplos acima. Em 1.a, há ainda o modal would (no Passado) mais as formas Infinitivas come e do a expressarem tempo futuro, e outro tempo no Passado (got) também a expressar tempo futuro, relativamente ao Aqui-Agora da enunciação da frase (isto é, o momento em que a comunicação se dá). Em 1.b e 1.c, o futuro se encontra respectivamente expresso através do Infinitivo (vir, fazer, levantar) e do Pretérito Imperfeito do Subjuntivo (viesse, fizesse, levantasse), outra forma verbal do Passado.

A fim de assegurar que as relações temporais a que são feitas referências abaixo estejam plenamente claras, é conveniente passar em revista os critérios em pauta. A posição de um evento dentro da cronologia, relativamente ao momento em que se dá a comunicação, confere ao evento a sua Ancoragem. O momento em que a comunicação se dá é o Aqui-Agora do CVS. O CVS, vale lembrar, pode representar tanto o falante como o ouvinte de um enunciado—ambos, entidades possuidoras de uma existência cognitiva e capacidade comunicativa, em plena comunicação ou atividade mental apoiada na língua (24). Uma vez estabelecida, uma Ancoragem não está sujeita a variações. Destarte, a Âncora instituída para cada evento determina de forma objetiva se ele é um evento passado, presente ou futuro, ou se ele precede ou sucede cronologicamente a outro evento, relativamente também ao momento em que se dá a comunicação (este momento estabelece o ponto "0" [zero] na Crônica (25)).

Uma relação temporal diversa (e independente da anterior) entre o CVS e os eventos comunicados se expressa através das Calibragens Temporais: cada uma destas Calibragens sinaliza uma direção utilizada pela mirada cognitiva ao focalizar um evento—ou seja, as Calibragens sinalizam a perspectiva a partir da qual o CVS "vê" (representa mentalmente) os eventos em questão e, em última análise, mentalmente mapeia uma cena. A mirada cognitiva, vale lembrar, pode ser passado-futuro (Calibragem Têmpero-Prospectiva), futuro-passado (Calibragem Têmpero-Retrospectiva), ou pode não exibir perspectiva temporal além de um dado Aqui-Agora—i.e., um Hic-Nunc—(Calibragem Têmpero-Concorrente). Estas Calibragens podem ser usadas em relação a eventos passados, presentes ou futuros, indistintamente.

Uma analogia visual trivial permite que se imagine as Ancoragens como se resultantes de uma visão objetiva à distância (panorâmica) da cronologia, ao passo que as Calibragens Temporais retratariam o caminho visualmente utilizado para seguir-se de perto os eventos em questão através do desenrolar do tempo. Tanto as Ancoragens quanto as Calibragens constituem microdimensões TC (as macrodimensões necessárias ao exame dos eventos em pauta irão aparecendo à medida em que eles forem observados).

Uma analogia espacial pode também contribuir para uma idéia mais clara do funcionamento destas microdimensões: entidades (pessoas ou objetos) que aparecem em uma cena a ser filmada ou fotografada manterão relações espaciais invariáveis entre si (atrás, ao lado, entre, em frente, etc), supondo-se que a cena permaneça imóvel. À máquina de filmar ou fotografar, no entanto, é possível focalizar estas entidades a partir de qualquer ângulo dentro de um perímetro de 360 ao redor de cada. E a escolha do ângulo pode evidentemente sugerir no filme (entre as diversas entidades que compõem a cena) relações espaciais que não coincidam com as relações espaciais que uma mirada prévia à cena, a partir de uma dada posição, haja estabelecido. Além disso, Uma vez que a máquina de filmar (ou fotografar) faz a tomada de uma cena a partir de um ângulo de perspectiva, todos os outros ângulos possíveis para aquela cena ficam automaticamente excluídos do filme (ou foto) que será obtido.

Ao se fazer uso dos tempos verbais, advérbios e conectivos para a comunicação dos diversos eventos, ambos os tipos de relações vistos acima despontam—isto é, [1] relações razoavelmente fixas, ou estáveis, a partir de um ponto de vista cronológico (com o momento em que a comunicação se dá apresentando-se como ponto de referência para o Aqui-Agora absoluto), assim como [2] relações voláteis, ou instáveis, relativas às perspectivas temporal e cognitiva, com o auxílio das quais ([1] e [2]) a percepção e comunicação dos eventos tem lugar. (A referência acima a "relações razoavelmente fixas" deve-se ao fato de que algumas Âncoras são cronologicamente indefinidas ou inespecíficas, ainda que invariáveis.) No TCM, as Ancoragens e as Calibragens Temporais expressam estas relações "fixas" e "voláteis", respectivamente. Falta acrescentar que é tão somente possível fazer-se uso de apenas uma Calibragem Temporal e uma Calibragem Cognitiva por vez, cada uma delas excluindo automaticamente a representação mental que as Calibragens preteridas poderiam evocar (26).

Estas relações permitem-nos, por exemplo, referência a um evento (Ancorado) no passado, mas com o qual nos relacionamos tal como se fosse um evento futuro (Calibragem Têmpero-Prospectiva)—tal situação usualmente comunica a idéia de que ignoramos se o evento de fato se deu, ou ignoramos o seu resultado (tal como ilustrado mais abaixo).

A direção temporal de que a mirada cognitiva se utiliza (no caso dos exemplos de número 1—1.a, 1.b e 1.c) não permanece constante (o que deve evidenciar-se do mero fato de a frase fazer referência a eventos tanto no passado como ao futuro). A direção principal da mirada cognitiva obviamente é futuro-passado, ou seja, Calibragem Têmpero-Retrospectiva. O CVS encontra-se em seu Aqui-Agora ocupando-se cognitivamente de uma ocorrência Manifesta (a entrega da chave) que precedeu este Aqui-Agora. Além do mais, a entrega da chave traduz-se não apenas no único evento "concreto" (Manifesto) nesta série, como também constitui o evento que ativa ou possibilita a ocorrência dos demais. A entrega da chave estabelece, portanto, a Âncora temporal principal junto à Constelação de eventos a que se referem estes enunciados (os eventos são os nossos indicadores de tempo por excelência—cf. Givón, 1979).

Nos exemplos de número 1 (1.a, 1.b e 1.c), acima, a mirada cognitiva inicial se volta para uma cena no passado. A partir da determinação deste ponto de Ancoragem, porém, a mirada cognitiva toma uma direção passado-futuro, isto é, Calibragem Têmpero-Prospectiva. No ponto de referência temporal para a entrega da chave, os eventos de chegar muito cedo, fazer a limpeza e levantar-se ainda constituem processos não-Manifestos—não é possível referir-se a eles como ocorrências. São eventos aspirados ou planejados (chegar muito cedo e fazer a limpeza) ou esperados (o levantar-se dos hóspedes) em algum "ponto futuro" relativamente ao Hic-Nunc no passado estabelecido pela Ancoragem de a entrega da chave.

A partir disto, deve estar claro que a utilização de formas verbais do Passado (would e got, no exemplo 1.a, em inglês, e os Imperfeitos do Subjuntivo viesse/fizesse e se levantassem, no exemplo 1.c, em português) não é motivada por qualquer temporalidade atribuída a chegar, limpar e levantar-se, eventos que ainda jazem no futuro. A utilização destas formas verbais do Passado ocorre, sim, como um meio de associação destes eventos ao evento Ancorador (a entrega da chave), que se encontra no passado, além de representar também uma forma de indicar relações têmpero-cognitivas entre estes eventos (27). A marcação de tempo para estes eventos futuros expressos por uma forma verbal do Passado se cumpre através dos advérbios evidentes no enunciado: tomorrow/amanhã e before/antes, com os primeiros originando uma Âncora temporal atada, e os segundos uma Âncora temporal flutuante, para os seus respectivos eventos. (Uma Âncora flutuante é relativa a outra, e portanto mais indefinida, de um ponto de vista cronológico.) Ambos os advérbios (amanhã e antes) apresentam também as mesmas funções no exemplo 1.b, exemplo, este, que ostenta formas do Infinitivo em referência ao futuro(28).

Passando então em revista, há uma forma do Passado (gave/entregou) a sinalizar tempo passado—i.e., atividade têmpero-cognitiva em Retrospecção, a partir do ponto de vista do Aqui-Agora—e três outras formas do Passado (would come, [would] do, got up, e os Imperfeitos do Subjuntivo viesse, fizesse e se levantassem), encarregando-se de sinalizar uma associação temporal destes eventos (Prospectivos) ao primeiro evento (que sinaliza a Retrospecção inicial) (29). Além disto, very early tomorrow e amanhã bem cedo cumprem o papel de sinalizar um tempo futuro (Prospecção) a partir do ponto de referência que o Aqui-Agora constitui em uma "cronologia universal," enquanto before e antes incumbem-se da sinalização de um tempo futuro (Prospecção) relativamente a very early tomorrow e amanhã bem cedo. (Os eventos em que se Calibra o foco cognitivo Prospectivamente, nestes exemplos, apresentam-se também como eventos futuros, a partir de um ponto de vista exclusivamente cronológico. Não há, no entanto, necessidade de coincidência entre Prospectividade e futuridade, como ficará evidenciado nos exemplos de número 2, abaixo.)

Além da perspectiva de cunho temporal examinada no parágrafo acima, tanto very early tomorrow/amanhã bem cedo como (tomorrow) before/(amanhã) antes indicam que, do ponto de observação do Aqui-Agora, estes eventos encontram-se ainda em estado não-Manifesto.

Caso o enunciado acima houvesse sido

2.a He gave her the key so that she would come very early the following day and do the cleaning before the guests got up,

2.b Ele entregou-lhe a chave para ela vir bem cedo no dia seguinte e fazer a limpeza antes dos hóspedes se levantarem,

2.c Ele entregou-lhe a chave para que ela viesse bem cedo no dia seguinte e fizesse a limpeza antes que os hóspedes se levantassem,

very early the following day/bem cedo no dia seguinte indicariam que estes eventos (chegar, limpar e levantar-se) permaneciam sob o foco Retrospectivo principal sinalizado pela Ancoragem de maior relevo gave/entregou. Neste caso, então, a Prospecção indicada por chegar, limpar e levantar-se exibiria um matiz mais acentuadamente cognitivo que têmpero-cognitivo (em contraste com os exemplos de número 1). Tal situação dar-se-ia devido a que, a partir de um ponto de vista estritamente temporal, estes eventos seriam sabidamente eventos do passado. O que não seria do conhecimento do CVS era se os eventos em pauta, ou quais dentre eles, haveriam de fato assumido o status de Manifestos. Dito de outra forma, até o momento da enunciação (i.e., o Aqui-Agora do CVS, que também representa a última possibilidade de atualização quanto aos eventos comunicados), os eventos chegar, limpar e levantar-se teriam permanecido na qualidade de aspirações, planos ou expectativas, ou seja, Dobrados (não-Manifestos) de um ponto de vista Epistemológico. Em tal situação é impossível ao CVS asseverar que/se qualquer um destes três eventos deveras ocorreu, ou afirmar o que quer que seja quanto ao seu desfecho, como lhe é possível, em contraste, quanto à entrega da chave (evento expresso através do Passado Simples, em inglês, e do Perfeito Simples do Indicativo, em português).

Uma outra alternativa que mantém a mesma Ancoragem para a entrega da chave vem a ser:

3.a He gave her the key so that she will come very early tomorrow and do the cleaning before the guests get up.

3.b Ele entregou-lhe a chave para ela vir amanhã bem cedo e fazer a limpeza antes dos hóspedes se levantarem.

3.c Ele entregou-lhe a chave para que ela venha amanhã bem cedo e faça a limpeza antes que os hóspedes se levantem.

Esta é a forma de expressão mais simples para este grupo de eventos, visto que encontram-se todos ancorados relativamente ao Aqui-Agora (Retrospectivamente, gave/entregou, e Prospectivamente, os demais eventos). Nestes exemplos, tanto as Ancoragens como as Calibragens ostentam absoluta coerência temporal.

Evidenciam-se, pois, a partir de todos os exemplos examinados acima, algumas características interessantes no que concerne ao tempo cronológico e aos tempos verbais quanto aos seus respectivos papéis junto à expressão de um dado evento. Encontram-se estas características delineadas abaixo.

O traço concernente à Prospecção (via de regra representando uma "futuridade relativa" do ponto de vista do CVS, independentemente de sua localização por entre as três Dimensões Temporais) pode meramente indicar conhecimento insuficiente (i.e., Hipostemia) a respeito da manifestação ou não de um evento, ou do desfecho aspirado, planejado, esperado, imaginado, etc. Tal se dá nos exemplos acima, em que tanto em 1.a, 1.b e 1.c, como em 3.a, 3.b e 3.c, a Prospecção se encontra associada a um ponto no futuro, ao passo que em 2.a, 2.b e 2.c, a um ponto no passado. Em tais circunstâncias, o conceito de um "futuro relativo a um dado ponto (cronologicamente Ancorado)" subentende não apenas uma noção temporal como também cognitiva (epistêmica). Em outros casos, obviamente, o traço concernente à Prospecção pode apresentar maior significância cronológica—muito embora uma calibragem Prospectiva exiba uma conotação também cognitiva (epistêmica), já que dificilmente se pode gozar de qualquer certeza a respeito da manifestação autêntica de um evento futuro.

Outra característica é que os advérbios (em especial os advérbios de tempo) constituem indicadores cronológicos mais fiéis que os próprios tempos verbais. Pois os tempos encontram-se vinculados a tempo, espaço e cognição (ou seja, os tempos podem expressar experiências ou noções de cunho espacial, temporal ou cognitivo), ao passo que os advérbios, ou expressam diretamente, ou demonstram vínculo direto com o tempo, particularmente a cronologia. Como visto acima, sempre que os tempos e os advérbios revelam mensagens incompatíveis, leva-se em conta o que está indicado adverbialmente como expressivo de uma "cronologia universal," i.e., uma cronologia global comum a todos os membros de uma sociedade. Esta "cronologia universal" transcende a atividade cognitiva individual (idiossincrática), com o que se investe da responsabilidade de oferecer Ancoragem aos eventos, seja em termos absolutos, como no caso das datas, ou relativamente a um ponto no tempo ou a outros eventos, tal como nos casos de the following day/no dia seguinte e before/antes, acima.

O vínculo advérbio–"cronologia universal" evidencia-se ainda no fato de que, a despeito das diferentes nuances têmpero-cognitivas depreendidas a partir de cada um destes enunciados (1, 2 e 3), os exemplos 1.b, 2.b e 3.b mantêm-se inalterados—a não ser precisamente quanto ao sintagma adverbial no dia seguinte, que substitui amanhã em 2.b. Os exemplos 1.b e 3.b, aparentemente ambíguos quanto à sua interpretação têmpero-cognitiva, despojam-se desta ambigüidade ilegítima a partir do momento em que não mais se vejam desprovidos de contexto. Pois em seus respectivos contextos, estarão plenamente evidentes os dois pontos de observação (Hic-Nuncs) distintos a partir dos quais o CVS aplica a Calibragem Têmpero-Prospectiva ao evento chegar bem cedo—em 1.b, este Hic-Nunc corresponde à Ancoragem dada pela entrega da chave, enquanto que em 3.b, ao Aqui-Agora (ou seja, ao momento em que se dá a elocução). Já em 2.b, o uso do sintagma adverbial no dia seguinte deixa inconteste o fato de que o Hic-Nunc a partir do qual se dá a Calibragem Têmpero-Prospectiva concernente ao evento chegar bem cedo corresponde à Ancoragem dada pela entrega da chave. Se coubesse de fato aos tempos verbais (e não aos advérbios) a tarefa básica de serem portadores por excelência da temporalidade dos eventos comunicados, como se explicaria então o fato de não haver uma alteração sequer nos verbos que constam dos enunciados 1.b, 2.b e 3.b, não obstante as diferentes mensagens têmpero-cognitivas que cada um destes enunciados é plenamente capaz de transmitir?

Em realidade, a importância dos advérbios na expressão de noções temporais parece não haver sido sublinhada o suficiente. O fato é que este papel temporal importante que a classe adverbial desempenha permite a que os tempos verbais cuidem de sinalizar noções outras que de mero cunho temporal. Desta forma, os tempos e os advérbios que lhes estão vinculados sintaticamente podem exibir coerência cronológica (em cujo caso tanto os tempos quanto os advérbios sinalizam noções temporais afins, a despeito de qualquer noção de cunho espaço-cognitivo que os tempos também indiquem), ou podem igualmente tempo verbal e advérbio sinalizarem noções temporais distintas, cada qual (em cujo caso a noção temporal propriamente dita reside junto ao advérbio, enquanto o tempo verbal se encarrega de indicar uma noção espaço-cognitiva).

Uma das estratégias que os tempos sinalizam (quando em divergência com os advérbios ou sintagmas adverbiais que lhes acompanham) constitui o que no contexto do TCM é denominado Retrospecção Hiperbólica. Trata-se de uma das estratégias mais úteis e produtivas no que concerne à manipulação do tempo com fins comunicativos, evidente nas línguas ocidentais. O que parece tão extraordinário é que, muito embora façamos todos uso extensivo da Retrospecção Hiperbólica em nossa comunicação diária, bem poucos dentre nós se dão conta de fato do que fazemos todos quanto à "manipulação do tempo." Ou seja, não aparentamos estarmos nada conscientes das "mensagens subliminares," por assim dizer, que são trocadas enquanto nos comunicamos. De fato, damo-nos muito pouco conta da língua que falamos, ainda que dela nos utilizemos sem cerimônias.

Creativity is the action of the infinite
within the sphere of the finite.

David Bohm

V. A Estratégia Heurística de Retrospecção Hiperbólica, também brevemente ilustrada

Em termos simples, o que a Retrospecção Hiperbólica envolve (de um ponto de vista semântico-sintático) é a expressão de um evento mais ao passado do que este evento de fato está, ou deveria ser expresso, de acordo com o que dita a sintaxe dos tempos. Agora, o vocábulo "passado" deve aqui ser compreendido em termos relativos, isto é, não como um "passado absoluto." Por exemplo, em Antes que ele chegue, já teremos arrumado os armários, a organização dos armários se encontra ao passado, relativamente à chegada dele. No âmbito do Hiperespaço-TC, a estratégia de Retrospecção Hiperbólica simboliza movimento, ou des-locamento da experiência e o seu contexto, para longe do Hic-Nunc em questão, seja em direção a, seja para dentro de, seja mais para dentro de o Contexto InAbsentia (os Contextos Fenomenológicos estão vinculados a experiência e espacialidade, não custa lembrar).

O ponto mais importante sobre o qual se está tacitamente de acordo quanto à interpretação a ser atribuída ao uso da Retrospecção Hiperbólica traduz-se em

« um deslocamento do evento expresso Hiperbólico-Retrospectivamente da cena em que seus adjuntos adverbiais, ou o contexto global (especialmente na falta daqueles), naturalmente inseririam este evento. Tal deslocamento resulta em uma textura esmaecida e diluída quanto à imagem (ou representação) mental do evento em causa. »

Em outras palavras, esta estratégia produz uma bifurcação do significado (i.e., o advérbio e/ou contexto transmitem uma mensagem, e o verbo outra, no que concerne ao evento lexicalmente expresso). Informalmente, poder-se-ia descrever o efeito que se evidencia como o de uma interpretação temporal dividida quanto ao evento em pauta.

Seguem-se alguns dos usos mais comuns da estratégia de Retrospecção Hiperbólica (doravante, estratégia-RH) em orações independentes ou coordenadas. Estes usos são todos inter-relacionados: evitar embaraço, assegurar polidez, ou simplesmente enfraquecer ou esmaecer o significado do que quer que se esteja expressando (o que obviamente está subentendido nos dois primeiros usos mencionados). Isto obtém-se através da retenção da Ancoragem temporal, fazendo-se ao mesmo tempo com que a experiência seja deslocada da cena (ou contexto) na qual de fato se dá, ou seja, um deslocamento virtual espaço-fenomenal (ou psicológico) (30)

Faz-se necessário imaginar agora uma cena, para que os exemplos a seguir possam ser de fato apreciados. Suponhamos que um funcionário estivesse consertando o sistema de aquecimento de um hotel. Ao concluir seu trabalho, ele inicia uma ronda por todo o hotel, aposento por aposento, para inspecionar se porventura haveria ar em qualquer um dos radiadores, o que não deixaria o calor fluir. Quando ele entra em um dos salões, no entanto, ele se dá conta de que uma reunião importante parece estar se realizando ali. Naturalmente ele logo se sente embaraçado por havê-la interrompido abruptamente. Dá-se conta também de que, com a sua entrada, suspendem a discussão, e todos os olhares se voltam para ele. Mas agora, que a interrupção já se deu, de fato, nem ela pode ser apagada, nem tampouco ele pode fazer o tempo voltar atrás para evitar, assim, entrar naquele salão.

Ele tem algumas alternativas possíveis à mão. Obviamente ele pode optar por não fazer absolutamente nada; ou ele pode balbuciar qualquer desculpa. No contexto da última alternativa, há duas possibilidades de interesse para a presente discussão. Ele pode [4.a e 4.b] decidir-se por encarar o evento objetivamente—dizer que lamenta haver atrapalhado, explicar sucintamente o motivo importante que havia motivado a inconveniência, e inspecionar o radiador. Ou ele pode [5.a e 5.b] sentir-se tão perturbado que só teria vontade de estar a quilômetros de distância daquele lugar e cena e/ou de jamais haver se interessado em cumprir com seu trabalho de forma tão cuidadosa e meticulosa, etc. Neste último caso, ele ou simplesmente fugiria agoniado dali, após talvez balbuciar alguma desculpa, ou quem sabe encontrasse coragem suficiente para enfrentar os participantes da reunião mas, para atenuar a situação, tentaria fazê-los "sintonizarem-se" com ele, como que "fazendo de conta" que (embora pudesse ser fisicamente visto por todos) ele jamais houvesse aparecido ali para atrapalhar a reunião (como de fato ele jamais pretendeu). Em vista destas duas alternativas, ele poderia dizer:

4.a I apologize for the inconvenience, but I have been fixing (or: I am working on) the heating unit and I need to verify the radiators in this room (or: it is necessary to verify the radiators in this room)

4.b Lamento a inconveniência, mas estou concertando o sistema de aquecimento e preciso verificar os radiadores nesta sala (ou: é necessário verificar / que eu verifique os radiadores nesta sala)

5.a I am sorry!... er... I was just coming to verify (or: I just wished/wanted to verify) the radiators in this room. (After which, he may still go about his job, or may be so embarrassed that he will choose to leave that one radiator unchecked.)

5.b Desculpe!... é... Eu só vinha verificar (ou: eu só queria verificar) os radiadores nesta sala. (Após o que ele talvez ainda continue com o seu trabalho, ou quiçá sinta-se tão atrapalhado que decida deixar aquele radiador por verificar.)

Nos enunciados 4.a e 4.b, ele se utiliza de verbos em tempos do Presente (inclusive para desculpar-se)—os usos do Present Perfect Progressive em inglês e da forma perifrástica "estar+-ndo" em português referem-se a momentos imediatamente anteriores à elocução (31). O funcionário está se expressando a respeito do que está ocorrendo naquele preciso momento que todos experienciam como seu Aqui-Agora. Já nos enunciados 5.a e 5.b, ele preferiu utilizar-se de tempos do Passado para explicar a razão pela qual ele está lá! Esta preferência deve-se a que ele deseja tentar atenuar a inconveniência que sua presença representa naquele instante, ao dizer à sua audiência algo tal como "os senhores se dão conta de que não tive intenção alguma de perturbar; peço-lhes portanto que façam de conta que não estou aqui (ainda que efetivamente me possam ver neste lugar)." Tal procedimento permite-lhe, pois, diluir a inegável ocorrência de sua presença e interrupção, por resultar em os eventos como que abruptamente "levados para o passado," através do uso de um tempo do Passado—isto é, des-locados para o Contexto InAbsentia—em vista da cena vigente.

Os exemplos 4.a/4.b e 5.a/5.b ilustram dois modos distintos de se avaliar (e expressar) o tempo (cronológico), cada um baseando-se na perspectiva de um sistema referencial próprio: os dois primeiros, baseiam-se no sistema comum a (e compartilhado por) todos; os dois últimos, baseiam-se no sistema individual (psicologicamente motivado) do funcionário. No primeiro caso, ele traduz a cronometria tanto do pesar quanto da obrigação relativos à sua presença ali, na cronologia do mundo à sua volta; no segundo caso, ele tenta influenciar sua audiência inesperada a "sintonizar-se com ele" para compartilhar cognitivamente a experiência de seu referencial de espaçotempo individual—e é justamente a escolha que faz de tempos verbais que lhe possibilita o sucesso neste empreendimento.

É relevante observar que este uso interessante (e por vezes deveras útil) do Passado não é possível aos tempos vinculados à Perspectiva Heurística CronoLógica. Os tempos verbais que pertencem a este grupo exibem bem menos flexibilidade de utilização por entre as várias Estratégias Heurísticas que os tempos vinculados à Perspectiva Heurística TopoNoética. Tal situação deve-se possivelmente a que os tempos vinculados à Perspectiva Heurística CronoLógica [1] indicam de forma categórica uma postura analítica e [2] são deficientes quanto a expressar espacialidade, contexto necessário a qualquer experiência, além de [3] estarem estes tempos Ancorados, i.e., cronologicamente firmados, ao passo que os tempos vinculados à Perspectiva Heurística TopoNoética encontram-se apenas indiretamente Ancorados, e assim, menos compromissados com qualquer cronologia—Cronos e Logos. Ademais, o fato de que a Perspectiva Heurística CronoLógica sinaliza a possibilidade de se encadear eventos sob uma perspectiva não só analítica ou causal, como também [4] linear deve ser levado igualmente em consideração. Estas características implicam, ainda, na utilização de Calibragem Cognitiva Extrínseca, que, por sua vez, reduz os eventos a meros Hic-Nuncs no fluxo de uma Crônica de eventos. Já os tempos vinculados à Heurística TopoNoética não apenas permitem aos eventos suas próprias dimensões temporais (Calibragem Cognitiva Intrínseca), como também lhes permitem um mapeamento têmpero-cognitivo não-linear, dinâmico e complexo, traços que podem, todos, legitimarem a maior flexibilidade que o uso corrente das línguas revela gozarem os tempos vinculados à Perspectiva Heurística TopoNoética, em contraste com o comportamento mais rígido dos tempos vinculados à Perspectiva Heurística CronoLógica.

Como nas línguas românicas o tempo TopoNoético do Passado é o Imperfeito do Indicativo, e assim o tempo do Passado disponível para que se esmaeça ou dilua as situações embaraçosas que se presencia (i.e., no presente), lida-se com este uso particular da estratégia-RH, tal como ilustrado acima, como um caso excepcional do uso do Imperfeito do Indicativo (visto identificar-se um tempo do Passado usado em referência a um momento no presente). A este uso do Imperfeito do Indicativo, dá-se o nome de Imparfait de Politesse. O termo cunhado é de fato descritivo da situação. O que as gramáticas deixaram de notar é que [1] este não se trata absolutamente de um uso excepcional, mas da realização de um padrão recorrente na língua, como ficará mais evidente abaixo, [2] nem tampouco dá-se preferência a utilizar um tempo do Passado com vistas exclusivamente à polidez, o que ocorre em casos tais como o ilustrado acima. A polidez, quando conotada, é resultante do contexto, inclusive extra-lingüístico.

O que de fato é sinalizado a cada uso da estratégia-RH é um deslocamento do evento expresso pelo verbo em causa, da cena onde, de outra feita, este evento estaria naturalmente inserido. A conotação de polidez, de abrandamento de qualquer "realidade" expressa (e por conseguinte também do embaraço que ela possa encerrar), de descomprometimento, de insegurança, ou o que mais nesta linha, não é senão um mero resultado de um uso contextual da estratégia-RH. É preciso, no entanto, considerar-se mais que apenas o tempo (cronológico), em contraste com o que tem sido o procedimento usual, para que se discirna ordem naquilo que superficialmente aparece caótico.

Da mesma forma, ao se fazer uso dos modais ingleses, tem-se a noção de que o uso das formas do Passado suaviza o sentido do que é expresso, com o que dá-se preferência a usar could em vez de can e would em vez de will, com vistas a uma forma de expressão polida. Em língua portuguesa, a preferência recai sobre o uso do Futuro do Pretérito do Indicativo ou do Imperfeito do Indicativo (ambos tempos do passado), em vez do Presente (ou Futuro) do Indicativo, para obter-se efeito semelhante.

6.a Could / Would you mail this letter for me on the way home?

6.b Você poderia / podia pôr (poria) esta carta no correio para mim a caminho de casa?

ao invés de

7.a Can / Will you mail this letter for me on the way home?

7.b Você pode pôr (põe) esta carta no correio para mim a caminho de casa?

Sente-se igualmente que o uso de uma forma do Passado é menos compromissiva quando se prefere usar might em vez de may e should em vez de shall, em situações nas quais ou não se quer assumir uma responsabilidade quanto às palavras que se enuncia, ou no que concerne qualquer outra obrigação, ou quando se deseja evitar o risco da atribuição ou cobrança de uma responsabilidade mais tarde. Isto evidencia que a preferência por uma forma do Passado utilizada em uma situação claramente do presente (ou até mesmo do futuro) pode também expressar insegurança. Este sinalizar, seja polidez, seja insegurança, obviamente também constitui uma questão de pragmática, podendo ser adicionalmente determinado pelo contexto global (inclusive extra-lingüístico). O português não faz uso direto e simples de Estratégias Heurísticas para estas situações, tais como ilustradas abaixo (em inglês), mas serve-se de uma sintaxe mais complexa (comumente nela incluindo tempos do Subjuntivo), ou do mero aditamento de sintagmas adverbiais (tal como talvez). Seguem-se, pois, ilustrações em língua inglesam apenas:

8.a It might rain. Would't you consider taking your umbrella?

versus

9.a It may rain. Won't you consider taking your umbrella?

10.a We should have the report ready by noon.

versus

11.a We shall (will) have the report ready by noon.

De forma análoga aos exemplos acima examinados, há uma diferença marcante entre o noivo que confiantemente pergunta à sua amada

12.a Will you marry me?

12.b Você quer se casar comigo? / Você se casa comigo?

e ao mesmo tempo sinaliza a ela motivação para responder-lhe positivamente, em contraste com

13.a Would you marry me?

13.b Você (queria) gostaria de se casar comigo? / Você se casaria comigo?/ Você se casava comigo?

em cujos últimos exemplos ele inoportuna e desazadamente desloca a visualização do casamento como uma realidade próxima, da cena ou contexto que estão vivenciando. Uma compreensão da língua que se fala pode ser vantajoso. Mas fortunadamente os nativos falantes fazem suas escolhas de modo intuitivo.

Os exemplos acima, que poderiam também serem descritos como usos excepcionais de um tempo do Passado para a expressão de um momento presente, na abordagem que oferece o TCM descrevem-se formalmente como Presente Noo-Anastrófico (estratégia-RH) Manifesto InAbsentia, o que constitui uma configuração inteiramente possível para um tempo do Passado em um bom número de línguas, entre as quais, inglês e português. (Os diversos intervalos Hic-Nunc, não incluídos no presente estudo a título de economia e concisão, responsabilizam-se pela opção entre o Simple Past e o Past Progressive em inglês, caso em que também pode-se incluir a opção quanto a algumas das formas perifrásticas em português, em especial a que foi mencionada acima en passant, "estar+-ndo.") Deve estar já evidente que os tempos verbais são bem mais fiéis aos Contextos Fenomenológicos que às Dimensões Temporais, ou ao tempo (cronológico) propriamente dito, sempre que as referências a espaço e tempo não forem de todo congruentes—a questão do tempo fica entregue à classe adverbial. Também deve já estar despontando como óbvio o fato de que uma das formas de se "manipular" o tempo é através de uma alteração (ou translação) quanto ao "espaço da experiência," o que se efetua no âmbito dos Contextos Fenomenológicos. O tempo (cronológico), em realidade, permanece exatamente o mesmo; mas fica-se com a impressão de que se conseguiu dobrar ou entortar os ponteiros do relógio, desfigurar-lhe o mostrador.

VI. Palavras finais

Evidentemente não é possível oferecer em tão poucas páginas uma descrição mais sólida de um modelo com o nível de complexidade do TCM, além de informação substantiva de cunho geral. O que posso esperar que haja ficado evidente são alguns traços distintivos que subjazem o TCM, e aos quais os próximos parágrafos farão referências. O século vinte presenciou uma alteração no paradigma científico, no qual a visão mecanicista de um mundo não-ambíguo, invariante, deu o lugar a uma visão relativista de um universo dinâmico em constante mutação. O velho paradigma, no entanto, persiste ainda em muitos campos da prática científica, lado ao lado com o novo. Dentro de um contexto científico amplo, o TCM foi tido em consonância com o paradigma científico moderno (especialmente quanto aos campos do estudo do cérebro e da física).

O TCM é um modelo dinâmico, a despeito de sua representação gráfica aparentemente inerte—uma metáfora visual aparentemente inerte que proporciona uma "oficina" ou "espaço de operação" útil, onde as marcas correspondentes a cada evento evocam as nossas representações cognitivas dos eventos a se desenrolarem ao longo da evolução de todo o sistema que constituem. O TCM também é um modelo holístico, não obstante comportar, ao mesmo tempo, a inspeção de uma série de dimensões têmpero-cognitivas discretas relevantes ao mapeamento de cada evento, além de permitir um encadeamento linear de eventos. A configuração têmpero-cognitiva para cada evento, entretanto, só pode ser determinada em face a todo o contexto global a partir do qual emerge. Além disto, estes contextos globais não se permitem de forma alguma serem imaginados como equivalentes a um mero ajuntamento, ou coleção das características-TC distintas abrangidas por cada evento. O TCM, outrossim, proporciona uma abordagem não-linear que, de certa forma, representa uma interface entre uma atividade mental mais abstrata e sua expressão ou correlatos (não-)verbais (pensamento apoiado na língua e comunicação propriamente dita), e vice-versa. Neste âmbito, aliás, o TCM revela-se sensível o suficiente para pôr a descoberto intenções não-conscientes. Estas constituem representações de cunho espaço-têmpero e cognitivo localizadas mais além do limiar da atividade mental consciente, e igualmente inaparentes nos níveis léxico-morfo-sintático (tal como tradicionalmente examinados), porém indubitavelmente correspondidas no fluxo da comunicação e responsáveis pela motivação de escolhas sintáticas. Na abordagem-TC, um exame da sintaxe dos tempos traduz-se na investigação a respeito da codificação do significado, um processo dinâmico em si, em contraste com a noção de sintaxe como estudo de estruturas complexas, consuetudinária na tradição lingüística.

Finalmente, ao longo de toda a sua multidimensionalidade, o TCM é um modelo humanístico, no qual o ser humano (o ‘Self’ Cognitivo—e Comunicativo—Virtual), tanto racional como intuitivo, goza de status central e não-fragmentado. Como mencionado mais acima, as Perspectivas Heurísticas e as Calibragens fornecem ampla margem no Hiperespaço-TC para uma cooperação harmoniosa também entre noções aparentemente incomensuráveis tais como inércia e dinâmica (movimento), fragmentação e holismo, objetividade e abstração, percepção temporal intrínseca e extrínseca, dentre várias outras, todas emergentes no fluxo da atividade cognitiva, cujo ponto congruente de referência é o ‘Self’ Cognitivo Virtual, um ser humano virtual (usuário da língua, cognitivamente ativo) e cujo cérebro funciona tanto racional como arracionalmente (32)

Não apenas encerra a abordagem-TC a possibilidade de transcender a barreira em que se constituem estruturas lingüísticas não-explicadas (tradicionalmente identificadas como casos especiais/excepcionais ou opções estilísticas), como também é-lhe possível prestar contas do tempo humano de forma congruente com a categoria tempo (verbal)—potencial vigente no que concerne ao mundo industrializado ocidental. O TCM, em suma, oferece uma abordagem original, a qual, a despeito de suas características holística, não-linear e dinâmica, dá também margem a uma representação gráfica bidimensional correspondente não-redutiva (um auxílio visual útil), o que representa ulteriormente uma possibilidade latente de se desenvolver esquemas binários em plena coerência com as características distintivas do modelo.

O TCM pode, portanto, significar uma alternativa para a representação de conhecimento (knowledge representation) dentro do escopo das noções temporais emergentes nas línguas naturais, isto é, na atividade cognitiva e comunicativa humana, um traço que pode atribuir ao modelo uma utilidade também na área da inteligência artificial. Em consonância com suas motivações iniciais, o TCM pode evidentemente traduzir-se em bom proveito (especialmente) ao estudante avançado de língua estrangeira, como também ao falante nativo interessado no funcionamento da sua língua e nas minúcias a ela inerentes. Ainda no cenário das línguas, o TCM também pode ser de boa utilidade aos tradutores. Por fim, o fato de que o TCM concentra seus interesses nas representações cognitivas que motivam a atividade mental apoiada na língua (enunciada ou não), como também na codificação da motivação inicialmente experienciada—e no caso da comunicação, igualmente na decodificação de mensagens comunicadas por meios lingüísticos, e o mapeamento cognitivo das motivações comunicativas pretendidas—o TCM representa a possibilidade de oferecer uma alternativa complementar interessante à investigação das línguas, considerando-se o cenário lingüístico vigente, e em vista das características originais do Modelo.

O pensamento apoiado na linguagem—e mais especificamente a comunicação humana—constituindo-se nas vias de acesso mais concretas à psique e universo cognitivo humanos, um estudo a respeito das formas pelas quais os falantes de uma língua mapeiam tempero-cognitivamente os eventos a respeito dos quais eles se ocupam mentalmente e se comunicam não tipifica senão uma limitação aparente; pois um estudo desta ordem, além de poder evidenciar aspectos cultural e psicologicamente relevantes (no que diz respeito a ambos os domínios do tempo e da cognição), pode ele também servir de oportunidade para validar o próprio modelo, de forma a que transcenda o status de uma mera estrutura teórica abstrata. Destarte, a abordagem e ilustração acima não devem constituir assunto irrelevante fora da comunidade que se ocupa do ensino de línguas e da comunidade lingüística em geral. Mais além do âmbito lingüístico, qualquer que seja o domínio de conhecimento e pesquisa científica no qual o ser humano, individual ou socialmente—e, de modo mais específico, seu universo cognitivo—possa vir a constituir objeto de interesse, não está vedada a esta ciência ou ramo de ciência a possibilidade vir a encontrar alguma utilidade no TCM. Pois através do relacionamento íntimo que une tempo humano e cognição, atributos da psique humana—mais além de traços culturais—transpiram por entre as muitas facetas têmpero-cognitivas que o TCM consegue retratar.

Finalmente, deve estar evidente que o TCM de forma alguma representa um esforço no sentido de propor uma solução à problemática complexa e evasiva do tempo, ou de pretender explicar a entidade tempo. O TCM é um modelo que trata de questões relativas à nossa consciência do tempo, e como tal preocupa-se em retratar a experiência e o relacionamento humanos com o tempo em suas várias dimensões no domínio da cognição, um traço que caracteriza o TCM também como um modelo cognitivo. Uma reflexão a respeito do elo científico oficial entre tempo e cognição, estabelecido com a Teoria da Relatividade, faz parecer plausível, como observa Shallis, que "time's elusiveness makes the problem of time, perhaps, insoluble" (1982:20) (33), dado que a solução para este problema exigiria uma investigação a despeito da cognição, ou para além do seu domínio. O tempo humano, no entanto, mostra-se menos inacessível—o TCM tipifica uma representação metafórica do mesmo.

VII. Referências

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Notas

(1) Este risco é mais patente ainda nas línguas românicas, em vista da homofonia de que gozam ambos os termos, tempo (verbal) e tempo (cronológico). (Para evitar uma possível ambigüidade, os termos verbal e cronológico encontram-se amiúde entre parênteses, abaixo.)

(2) Isto é: "necessário para que haja vida inteligente" (Hawking, 1990:151).

(3) "Um dos problemas quanto a uma abordagem científica do tempo resume-se na inexistência de um programa coerente a fim de estudar as suas propriedades," (Shallis, 1982:20).

(4) Isto é, um plano bidimensional—em contraste com a projeção de um evento no espaço tridimensional, como utilizado pela Teoria da Relatividade.

(5) Não custa assinalar que este constitui um exemplo vivo do uso meramente cognitivo (i.e., para fins de contraste) do advérbio de tempo agora, tal como foi mencionado mais acima.

(6) Esta imagem pressupõe um mundo percebido horizontalmente dentro dos limites da visão do próprio homem (interna ao seu mundo), em contraste com a visão vertical (externa ao seu mundo) cuja percepção vertical, ou vertical-inclinada, contrapõe-se à percepção horizontal anterior.

(7) A forma pela qual bidimensionalizamos, ou "espacializamos" as nossas referências temporais, revela-se especialmente curiosa quando vista à luz da referida observação de Kippenhahn (1987). Mera coincidência ou não, ao ser desenvolvido o modelo para a experiência humana do tempo apresentado e utilizado mais adiante (Modelo Têmpero-Cognitivo), verificou-se a necessidade de serem atribuídas três macrodimensões têmpero-cognitivas principais à experiência/consciência humana do tempo (cada uma destas também subdivididas em três subdimensões). E embora no ramo da física que se ocupa com teorias da unificação, e em especial no âmbito das supercordas, faça-se uso de um número superior de dimensões espaciais e temporais àqueles tradicionalmente utilizados na Teoria da Relatividade, é obviamente impossível saber-se até que ponto idiossincrasias cognitivas poderiam ser capazes de sugerir qualquer possibilidade de características não apenas verificáveis e reproduzíveis, como também de algum interesse ou relevo (fosse para a física ou ciências afins). Por outro lado, idiossincrasias cognitivas constituíram, em parte, motivação para a própria Teoria da Relatividade. Aliás, seja qual for o ramo da ciência, não lhe é possível alhear-se de todo à cognição (visto ser-nos vedado conhecer, o que quer que seja, de um ponto de vista absoluto e exterior ao nosso contexto cognitivo). Esta estranha assimetria emergente do nosso lidar cognitivo com espaço e tempo (reduzindo o primeiro e ampliando o segundo, ambos a duas dimensões, a partir de um contexto espaçotempo quadridimensional, no qual três dimensões são tradicionalmente atribuídas ao espaço), pode, pois, constituir não mais que uma mera redução do espaço a duas dimensões, e uma relação com o tempo por analogia à relação com o espaço. No entanto, somada esta assimetria curiosa à reduzida atenção dedicada ao estudo do tempo como entidade, tal consideração poderia oferecer terreno fértil para que se especulasse a respeito de uma possível tridimensionalidade vir eventualmente a ser atribuída ao tempo. Ou, dito de outra forma: considerando-se o vínculo tempo–cognição, estabelecido pela própria teoria da Relatividade, poderia este comportamento cognitivo curioso chegar a sugerir uma possível hipótese de que o tempo eventualmente viesse a revelar-se uma entidade tridimensional, tal como o é o espaço, e não simplesmente uma quarta dimensão, adicionada às três espaciais? Tais cogitações meramente especulativas, no entanto, por extrapolarem o escopo do presente estudo, não devem ofuscar a observação deste traço ao menos curioso relacionado ao nosso mapeamento cognitivo no que concerne à nossa experiência espacial e temporal e comunicação a respeito da mesma: embora ao espaço sejam objetivamente atribuídas três dimensões e ao tempo apenas uma, o nosso comportamento lingüístico evidencia lidarmos com ambos tempo e espaço de modo semelhante, evidenciando ainda, no léxico, a utilização de pares de antônimos para ambas referências, temporal e espacial.

(8) cf. Fróes, a ser publicado.

(9) O termo metafísica está sendo usado em contraste com pós-moderno, no sentido utilizado por Heidegger e Derrida. Embora seja plausível o contra-argumento de que a língua permite não apenas o seu uso poético, como também outras formas de expressão criativas, tais como trocadilhos (nenhum dos quais usos fariam a linguagem humana aparentar características metafísicas), a rigidez e inflexibilidade características à postura metafísica emergem irremediavelmente ao se pretender uma expressão objetiva que transcenda o corte cartesiano.

(10) O mesmo se dá quanto à própria consciência, de uma maneira geral, da qual também mal nos damos conta.

(11) "Quando a solução [de um problema] envolve partes inter-relacionadas, este problema não pode ser resolvido através do método gradativo," (de Bono, 1991:109).

(12) Os trabalhos de Enkvist e Marton-Säljö focalizam estritamente o âmbito do aprendizado de línguas estrangeiras. Enkvist oferece uma ampla bibliografia.

(13) "A inteligência transcende uma racionalidade calculadora" visto "haver uma vasta área entre o irracional e o racional que pode ser denominada arracional." O comportamento arracional se identifica com "ação desprovida de decomposição e recombinação analítica consciente" (cf. de Bono, acima), ao passo que ao comportamento racional é atribuída "a conotação de ‘uma combinação de partes componentes com vistas à obtenção de um todo.’" Os autores concluem que "o desempenho competente é racional; a proficiência é intermediária; os peritos, ou especialistas, agem arracionalmente" (Dreyfus & Dreyfus 1986:36).

(14) Os meus agradecimentos a A. E. Almeida Pinto por diálogos no campo da física.

(15) Uma crônica traduz-se em uma abordagem ordenada e linear do tempo (cf. Øhrstrøm & Hasle, 1995); no contexto do TCM, representa uma perspectiva linear redutiva da quadridimensionalidade inerente ao espaçotempo.

(16) Em inglês, língua na qual o TCM foi originalmente idealizado e descrito, enfolded. O termo enfolded foi tomado por empréstimo a David Bohm, 1980, para o domínio cognitivo. Já o termo dobrado, que deve ser interpretado em oposição a desdobrado, lamentavelmente é bem pouco expressivo em português, e até mesmo enganoso. Este foi entretanto o termo utilizado na tradução para língua portuguesa (1992) da obra de Bohm, na qual a noção de enfolded é introduzida. Para evitar um pluralismo terminológico que só traria dificuldades àqueles já afeitos às teorias de David Bohm, em vista da existência da tradução de sua obra para língua portuguesa, abstive-me da utilização de um termo em português que melhor se pudesse prestar a indicar a noção por ele representada. A noção de enfolded inclui a idéia de como que "dobrado por sobre si mesmo, não-exposto, em forma latente," que o termo dobrado não chega de todo a indicar.

(17) Teoricamente há ainda um quarto intervalo distinto, complementando esta série de Hic-Nuncs: o Hic-Nunc Existencial, cuja amplitude relativa não apenas varia de ser humano para ser humano, como também encontra-se vinculada à própria extensão de vida de cada ser humano em cada Aqui-Agora experienciado. Este intervalo, embora não se tenha revelado de importância no âmbito da expressão de noções temporais, ganha relevo no que concerne às avaliações relativas quanto a extensões de tempo. Neste âmbito, por exemplo, contrastam sobremaneira o cômputo relativo que crianças e adultos atribuem a um mesmo intervalo de tempo marcado no relógio, ou no calendário (cf. Piaget, 1946).

(18) O uso dos termos explicatura e implicatura (explication e implication no meu original em inglês) também se inspira em David Bohm, 1980, em cuja obra o autor elege os termos explicate e implicate como sinônimos alternativos para unfolded e enfolded, respectivamente. A tradução de Bohm, 1980, em língua portuguesa (1992) mais uma vez encontra dificuldades quanto à capacidade descritiva não-ambígua dos termos utilizados por David Bohm na teoria original que propõe o autor. No caso dos dois termos em questão, explicate e implicate, o tradutor optou mais uma vez por uma tradução literal, ou seja explicado e implicado. Visto a alusão absolutamente equivocada que a utilização de termos de uso tão freqüente no dia a dia, como explicação e implicação, acarretaria no contexto do TCM, optei por uma pequena modificação na derivação destes termos em português, recorrendo a um sufixo de conotação mais abstrata e geral, daí explicatura e implicatura. Desta forma, não fujo de todo à tradução de Bohm, 1980, em língua portuguesa, como também não corro o risco de que se tome estas Estratégias Heurísticas em questão como indicadoras de meros casos de "explicação" e "implicação."

(19) O Hic-Nunc de uma experiência encontra-se "embebido em sons, cenas, sabores, odores, e texturas" (Peat, 1988:86).

(20) Em Globus (1995), a auto-sintonia constitui traço marcante do funcionamento do cérebro.

(21) Os meus agradecimentos a E. F. de Almeida por diálogos no campo da física.

(22) Ou, como afirma David Bohm, "all scientific knowledge is limited and provisional" ("todo o conhecimento científico é limitado e provisório"—Bohm, 1994:16).

(23) As referências a tempo cronológico, no entanto, continuarão a serem feitas sem o uso de maiúsculas iniciais, com o que se torna possível evitar uma repetição entediante dos termos tempo verbal e cronológico sem que se produza ambigüidade.

(24) Não custa lembrar que CVS é a abreviatura utilizada para "Self" Cognitivo Virtual, com uma possível segunda leitura como "Self" Comunicativo Virtual.

(25) Uma crônica, vale lembrar, constitui uma perspectiva linear redutiva da quadridimensionalidade inerente ao espaçotempo.

(26) A representação mental, tal como aqui mencionada, desponta como o "resultado cognitivo" de qualquer que seja nossa experiência. Em realidade, representa ela o fluxo cognitivo que nos apresenta o universo tal qual o erigimos. No caso da comunicação lingüística, este fluxo é incessantemente ativado e alimentado a partir da recepção/percepção das "mensagens" continuamente transmitidas pelas calibragens e heurísticas. Ou, dito de outra forma, a representação mental, tal como mencionada aqui, constitui de fato o universo que cada ser humano experiencia.

(27) O exemplo 1.b parece fugir a esta observação. Não obstante, por funcionarem também à moda de "coringas," os Infinitivos comumente exercem uma função têmpero-cognitiva dêitica, a partir dos tempos verbais que lhes são mais próximos sintático-semanticamente—usualmente aqueles que se encontram nas orações principais a que as orações reduzidas de infinitivo se unem. Os Infinitivos, portanto, apenas aparentemente não estariam igualmente sinalizando uma associação entre os eventos por eles designados e o evento Ancorador (geralmente na oração dita principal).

(28) Por haver sido originalmente escrito em inglês o presente estudo, não houve preocupação quanto a um exame da opção pelo Subjuntivo—não pertinente em tais circunstâncias em língua inglesa—como também não foi examinada a opção pelo uso do Infinitivo, em orações reduzidas, que em português se torna particularmente interessante, visto sua alternância com o Subjuntivo. Os exemplos aqui apresentados foram traduzidos, e o texto brevemente adaptado para que pudesse acomodar as traduções dos exemplos originais, agora também em língua portuguesa. Um exame mais profundo das questões que surgem em português (divergentes daquelas que se apresentam para o inglês) não apenas tornaria o texto bastante mais complexo do que seria concebível em uma simples amostra, como também o faria ao menos duplamente longo. Por estes motivos, não foi incluída aqui uma complementação de fato ao estudo inicialmente elaborado. Todos estes assuntos relativos tanto ao emprego dos tempos do Subjuntivo e dos Infinitivos Flexionado e Não-flexionado como à alternância possível entre eles, porém, encontram-se amplamente ilustrados em Fróes (a ser publicado), estudo no qual a língua portuguesa recebe abordagem prioritária. Por ora, é suficiente mencionar que os usos do Subjuntivo e do Infinitivo implicariam em considerações também a respeito das dimensões Dobrada (Enfolded) e Hipostêmica, além de Estratégias Heurísticas, em várias oportunidades.

(29) Fica a cargo do traço dêitico têmpero-cognitivo do Infinitivo sinalizar associação semelhante para os eventos expressos por vir, fazer e levantarem, no exemplo 1.b.

(30) A classe adverbial não retém o privilégio exclusivo de Ancorar eventos. Os conectivos (conjunções e preposições) também indicam Ancoragens em associação com os tempos e a transitividade. Evidentemente todos desempenham papel de relevo no relacionamento tempo verbal-ancoragem, aqui examinado apenas com a presença de advérbios, para efeito de concisão. Também os casos de subordinação, em que o papel das Ancoragens torna-se especialmente relevante, não estão examinados aqui, com vistas a economia e simplicidade. Referências completas quanto às Estratégias Heurísticas (Anástrofes) encontram-se em Fróes, a ser publicado.

(31) Embora haja em português um tempo verbal em princípio correspondente ao Present Perfect (Simple/Progressive)—o Pretérito Perfeito Composto do Indicativo—esta correspondência dá-se apenas quanto à forma (âmbito da morfologia), mas é limitada quanto ao uso, ou seja, no campo da sintaxe destes dois tempos. Sendo este um assunto por demais complexo para ser abordado aqui, fica apenas a observação de que geralmente é possível traduzir-se um Pretérito Perfeito Composto do Indicativo por um Present Perfect (Simple/Progressive); a recíproca, porém, muito comumente não é verdadeira. Maiores referências a respeito desta questão podem ser encontradas em Fróes, a ser publicado.

(32) No que concerne ao ‘Self’ Cognitivo/Comunicativo Virtual, o TCM assume em princípio um cérebro que essencialmente não computa, ou melhor, um cérebro primordialmente também capaz além do mero raciocínio algorítmico característico da computação. Isto não implica, no entanto, um cérebro inepto à computação, mas um cérebro cujo funcionamento transcende, adicionalmente, o domínio de um desempenho aos moldes das máquinas. Quanto ao contraste entre desempenho racional e arracional, como dito mais acima, ele é amplamente discutido em Dreyfus e Dreyfus, 1986.

(33) "O caráter elusivo do tempo torna o problema do tempo, talvez, insolúvel" (Shallis, 1982:20)

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Revista de Psicoanálisis y Cultura
Número 4 - Diciembre 1996
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