Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
TCM: Modelo têmpero-cognitivo
Uma perspectiva dinâmica, não-linear e cooperativa do tempo humano e sua expressão lingüística
Miléa Angela Fróes

(1º parte)

 

We all know objective truth is not obtainable,
that when some event occurs we shall have
a multiplicity of subjective truths which we assess
and then fabulate into history, into some
God-eye version of what ‘really’ happened.

Julian Barnes

I. Espaçotempo, cognição, e as línguas naturais

A noção e a existência do tempo são tão fundamentais que não chegamos a atribuir-lhe a importância e a complexidade que, de fato, o caracterizam. No cenário humano a noção é intuitiva—vivemos no tempo e com o tempo, e não acusamos problema algum seja ao seguirmos o curso da cronologia, seja ao navegarmos mentalmente os labirintos do tempo.

Não obstante, para a física, o tempo constitui uma entidade complexa e multifária (cf. Shallis, 1982). O que seria, então, possível dizer a respeito do tempo humano, cuja complexidade extraordinária se manifesta através da grande diversidade de teorias filosóficas sobre o tempo? E que tempo, em realidade, é este que emerge ao nos comunicarmos?

Excluindo-se o campo da filosofia, cujas indagações há muito buscam a natureza do tempo e oferecem uma multiplicidade de abordagens, a maior parte das áreas científicas que lidam direta ou indiretamente com o tempo não demonstra preocupação quanto a elucidar a sua essência.

Dois domínios científicos tão diversos como física e lingüística prestam-se a ilustrar a pouca atenção dedicada ao tempo pela comunidade científica em geral. À física, por exemplo, interessam as propriedades das entidades. Mas muito embora estas entidades sofram alterações com o tempo, como o fluir do tempo não constitui uma propriedade em si destas alterações, ele também não chega a despertar interesse, no que tange à descrição de tais alterações (Shallis, 1982). A situação é bastante análoga no campo da lingüística.

À sintaxe (ramo da lingüística), por exemplo, interessa o modo pelo qual o homem constrói seus enunciados. Estes enunciados tipicamente incluem verbos e/ou outros meios próprios [1] para expressar relações, observadas ou experienciadas, entre entidades/eventos e o trinômio passado-presente-futuro (ou qualquer outro padrão de aferimento cronológico culturalmente estabelecido), e [2] para expressar também alterações ou mudanças observadas ou experienciadas. No entanto, o tempo propriamente dito tampouco constitui interesse em lingüística, onde o tempo (verbal) domina as atenções (trazendo, ainda, consigo o risco de ser ocasionalmente confundido com o primeiro(1)). Em contraste à pouca atenção dedicada ao tempo (cronológico), um exame criterioso da literatura que aborda a questão dos verbos e seus tempos evidencia a necessidade de se recorrer a alguma noção temporal nas referências a tempo (verbal).

Por outro lado, facetas bastante diversas do tempo (cronológico) saltam à vista em ambos os ramos científicos mencionados acima. No domínio das partículas (física), por exemplo, muitos dos processos elementares são reversíveis (como que atribuindo ao tempo, destarte, uma dupla direção), o que contrasta de modo evidente com a "flecha do tempo" irrefutavelmente determinada pela segunda lei da termodinâmica (Park, 1980).

Na sintaxe dos tempos (lingüística), por sua vez, o cenário não é menos paradoxal. O tempo pode-se manifestar como um mero intervalo, como um vetor, como uma sucessão de pontos (dinamicamente percebida ou não), como também pode-se apresentar seja claramente delineado, seja tal como uma mera extensão amorfa ou difusa, ou ainda como um ancoradouro de eventos (relativa ou precisamente definido), para não se mencionar o fato de que o uso da língua nem sempre acusa reconhecimento cognitivo da segunda lei da termodinâmica (a despeito da sugestão de Hawking de que a "flecha psicológica do tempo" corresponderia, em princípio, à "flecha termodinâmica do tempo"—o que, em um contexto global, Hawking considerou "necessary for intelligent life to operate (2)" (1990:151)).

Ainda que breves, as referências acima são suficientes para ilustrar a complexidade inerente à presença comum mas multifária do tempo em um e outro domínio científico, física ou lingüística. A situação é relativamente análoga nos demais campos científicos que direta ou indiretamente lidam com o tempo. Não obstante, fundamental como possa de fato ser o tempo, "one of the problems with time in science is the lack of a coherent programme to study its properties"(3) (Shallis, 1982:20).

No âmbito do tempo humano, que constitui interesse central no presente estudo, poder-se-ia alegar auspiciosamente que a psicologia cognitiva e experimental, em especial, têm demonstrado interesse quanto à questão do tempo. No entanto, abordagens de cunho quantitativo se sobressaem nitidamente por sobre qualquer tentativa de investigação quanto à extraordinária complexidade inerente ao tempo humano, tal como o sugere a grande diversidade de abordagens filosóficas mencionadas mais acima.

A complexidade que caracteriza o tempo humano, em realidade, transcende o âmbito temporal propriamente dito, o que se evidencia na comunicação lingüística. Esta extrapolação relativa ao domínio temporal transpira, por exemplo, na tendência bastante comum (nas línguas ocidentais, ao menos) de se expandir a extensão semântica de termos de referência espacial para cobrir também referências temporais, e vice-versa (ex: dois dias atrás, São Paulo fica a seis horas do Rio). Nosso comportamento lingüístico e correspondentes representações cognitivas que emergem nesta tradução de tempo em espaço e vice-versa, aliás, exibem coerência com uma noção básica em Relatividade (cf. Einstein) a respeito da interconectividade que subjaz tempo e espaço.

As diversas facetas do tempo mencionadas acima a título de ilustração do caráter múltiplo que assume o tempo em sua utilização lingüística parecem gozar de correlatos espaciais análogos. Tuan (1983:14-15) indica que também o espaço pode ser experienciado de vários modos, dentre os quais: [1] como uma localização relativa para objetos e lugares, [2] como distâncias e extensões a separarem ou ligarem lugares, [3] como espaço demarcado (i.e., uma área definida por uma rede de lugares e/ou objetos).

Outro aspecto da complexidade inerente ao tempo humano manifesta-se no fato de que tempo e cognição, tal como tempo e espaço, encontram-se intrinsecamente ligados ou aliados, no uso corrente das línguas. Advérbios de tempo, tais como agora e ao mesmo tempo, são comumente utilizados não-temporalmente. Isto é, trata-se de uma utilização meramente cognitiva, e em contextos desprovidos de significado temporal. Estes são casos em que os advérbios em questão vêm comumente seguidos por uma vírgula—i.e., uma pausa na linguagem oral. Seu uso implica mero contraste (ex: Bem sei que ele anda dizendo que ganhou na loteria. Agora, essa riqueza repentina em realidade se deve a uma herança que ele recebeu de um tio rico.).

No contexto da Relatividade, a relação entre espaço e tempo não exclui, evidentemente, uma relação também entre tempo e cognição. A Relatividade, aliás, conferiu a tempo e cognição sua associação científica oficial. Ao identificar a aferição do espaçotempo como relativa ao observador, Einstein não somente estabelecia um novo arcabouço teórico para a física, como também reconhecia o papel significativo da cognição. Esta relação intrínseca tempo-cognição se evidencia, quanto à relatividade, no fato de que a cada contexto ou sistema de referência espaçotemporal dá-se uma visão ou percepção singular do que está sob observação. Isto quer dizer que produz-se uma "realidade" singular, de um ponto de vista cognitivo. A coerência aparente entre o nosso comportamento cognitivo (tal como revela o uso corrente das línguas) e o que dita a ciência moderna apenas sublinha a complexidade que caracteriza o tempo humano.

Em meio a toda esta complexidade, há uma restrição curiosa a ser abordada. Trata-se de uma restrição quanto à expressão de direções e movimentos que envolvam três dimensões. Isto é também pertinente ao tema central, haja visto o fato de que tempo está diretamente envolvido na noção de movimento, que implica em uma mudança de posição tanto no espaço quanto no tempo. Os termos expressivos de movimento comumente encontrados no léxico das línguas ocidentais apresentam-se, via de regra, em pares bidimensionais: acima–abaixo, à direita–à esquerda, e assim por diante. De modo semelhante, termos indicadores de um curso ou trajetória também se encontram bidimensionalmente confinados (ou seja, presos a um plano(4)) tal como ocorre com ao redor de, inclinado, enviesado. Este uso exclusivo de termos bidimensionais parece indicar uma escolha intuitiva e primária quanto a lidar-se cognitivamente com o espaço em bases bidimensionais. Este traço emergente da nossa comunicação diária revela-se coerente com a observação feita por Kippenhahn (1987) de que a habilidade para visualizar várias dimensões limita-se a uma dimensão abaixo do número de dimensões existentes no universo no qual se habita.

Agora (5), quando a questão inclui a expressão lingüística de direções/movimentos que envolvam uma tridimensionalidade, é-nos necessário lançar mão de combinações de termos, em meio ao nosso vocabulário bidimensionalmente confinado: um pouquinho à direita, e mais para cima, por exemplo, para localizar-se um ponto tridimensional. Por fim, quando se trata de seqüências de movimentos tridimensionais, a língua parece reduzir-se a um meio pobre de comunicação: pilotos de aviação, ao descreverem as suas manobras, inevitavelmente utilizam-se das mãos, como uma forma de compensarem não-verbalmente os meios de expressão lingüística que seus idiomas nativos não lhes podem oferecer. Esta restrição peculiar a um bidimensionalismo quanto a termos de referência espacial aparenta, mais uma vez, consonância com o nosso uso de termos de referência temporal, em cuja classe encontram-se pares tais como cedo–tarde, antes–depois.

A introdução do aeroplano no contexto da experiência humana, permitiu ao homem não apenas adquirir uma mobilidade física tridimensional, que antes não lhe era possível, como também permitiu-lhe adquirir uma visão vertical do mundo a que se havia acostumado a mirar horizontalmente (6). Esta nova visão também, se traduz em uma situação de relacionamento diversa do homem com o seu próprio mundo: se a visão horizontal proporcionava-lhe uma experiência do seu mundo a partir de um ponto de vista interno a este mundo, a visão vertical deu-lhe a possibilidade de relacionar-se com o seu mundo a partir também de um ponto de vista externo a ele. No âmbito da poesia, em seguida ao aparecimento do aeroplano, coincidentemente dá-se início a uma preocupação com a forma—i.e., a poesia passa a ser também apreciada como se vista a partir de uma perspectiva externa, vertical, e não mais exclusivamente do ponto de vista usual do conteúdo, o qual encerra uma perspectiva interior, horizontal, e por isto mesmo envolvente. Todavia, se esta nova possibilidade de relacionamento com o mundo adquirida pelo homem muito possivelmente encontra eco na poesia, a língua, seja em sua estrutura, seja no próprio léxico, não parece, a priori, acusar esta mudança fundamental por que passou o homem moderno. Tal conservadorismo lingüístico aparente sugere, mais uma vez, coerência com a observação de Kippenhahn (1987) supra-citada (7).

O último tema relevante ao nosso relacionamento cognitivo com o espaçotempo, como também às nossas representações mentais tais como evidenciadas no uso corrente das línguas, chega-nos por obra das investigações de Bettini (1988) a respeito da cultura romana e do latim. Segundo o autor, por vezes a referência de um falante aparentava posicionar o futuro como que (cognitivamente) à sua frente, embora em outras ocasiões o futuro já aparentaria encontrar-se como que atrás do falante. Analogamente, referências ao passado indicavam-no como que posicionado ora atrás, ora à frente do falante. O uso moderno das línguas (ocidentais, ao menos) tende a corroborar as observações de Bettini (8), que chegou mesmo a identificar os termos correspondentes a tais referências aparentemente paradoxais no latim.

A complexidade do tempo humano, em suma, é tamanha. Como visto, por vezes o tempo chega a aparentar uma característica bidirecional. Além disso, nem sempre parece fluir de modo linear, como pretenderia a própria cronologia. E como que para confirmar a sua complexidade, o tempo humano não apenas exibe uma série de facetas que não se apresentam necessariamente de forma mutuamente congruente, como também evidencia por vezes uma ligação—ou mesmo uma substituição—a determinadas noções espaciais ou cognitivas, tal como demonstra o uso corrente das línguas.

A existência dos pares bidimensionais supra-citados, os quais evocam, ainda, a noção de antônimo (que igualmente sugere uma oposição par a par), não parece imprópria, em vista da natureza altamente metafísica da linguagem humana (9). Por outro lado, a existência de tais pares também implica em um continuum indivisível (os membros individuais de cada par representando metaforicamente polos de um magneto—cf. Bohm, 1994). Em suma, tais dualidades, divisões e fragmentações caracteristicamente metafísicas (ou cartesianas) inerentes à linguagem humana, sugerem (paradoxalmente, prima facie) totalidades indivisíveis, traço passível de emergir não apenas no léxico como também na própria estrutura da língua (i.e., sintaxe), e obviamente também na comunicação de noções temporais. A imagem mental obtida, fragmentária ou inteira, resulta, em última instância, da perspectiva cognitiva utilizada. A escolha quanto ao enfoque cognitivo (particularidade de suma importância) pode, portanto, permitir à língua transcender a sua própria natureza metafísica. O tempo humano, também sujeito ao enfoque cognitivo escolhido (conscientemente ou não), apresenta-se como uma entidade extremamente complexa, muito embora os usuários de uma língua mal se dêem conta da complexidade de sua atividade cognitiva relacionada ao tempo, enquanto se comunicam uns com os outros. Em verdade, nem do tempo, nem tampouco da língua, chegamos a nos dar conta de fato, embora nos utilizemos de ambos sem cerimônias (10).

Como mencionado acima, o tempo mal pode ser evitado nas referências aos verbos e seus tempos encontradas na literatura lingüística. O tempo, por sua vez, permanece a mesma entidade multifária, a exibir, muito provavelmente, várias faces mutuamente exclusivas (cf. Shallis, 1982). O tempo humano, isto é, a experiência e consciência do tempo, sugere uma complexidade ainda maior, como indicam as breves referências acima. Considerando-se que ainda não há uma noção de tempo desenvolvida com o uso da língua, ou a habilidade comunicativa humana, em vista—a despeito do freqüente interesse lingüístico demonstrado por psicólogos, filósofos e outros cientistas—um questionamento emerge carente de relevo especial, a respeito da propriedade de se definir ou explicar uma categoria (tempo verbal) com base em outra categoria (tempo cronológico) cuja definição é obscura, ou elusiva, ou ao menos grandemente conotativa.

O tempo é comumente encontrado nas análises lingüísticas [1] como uma noção de algum modo tida como "conhecida" intuitivamente, ou "de um modo geral estabelecida" (com o que mal se faria necessária uma explicação suplementar), ou então [2] alguma noção de tempo é tomada por empréstimo ou inspiração à filosofia. Fora isto, a comunidade lingüística encontra à disposição o trinômio passado–presente–futuro—que já se revelou patentemente inadequado para explicar a comunicação humana de noções temporais. Aliás, dentre as línguas ocidentais, o Lituano é a única citada como possivelmente apresentando uma correspondência ao referido trinômio em seu sistema verbal (cf. Shopen, 1985a). Agora, enquanto os falantes nativos de uma língua gozam de conhecimento intuitivo quanto à expressão de noções temporais (cf. Chosmky), o sistema de conhecimento (knowledge system) identificado na sintaxe verbal elude sistematicamente uma explicação coerente.

Em linhas gerais, tempo (cronológico) não se presta a explicar tempo (verbal) especialmente porque no contexto da língua, lado a lado ao "tempo objetivo," ou "tempo universal," emerge o "tempo cognitivo"—não raro de modo prevalente. E o tempo cognitivo, i.e., tempo tal como cognitivamente experienciado/mapeado pelo ser humano responsável pela elocução que se tenha em foco, pode ou não corresponder à sua contraparte objetiva, como um sem-número de exemplos no contexto lingüístico substanciam.

Weinrich oferece uma ilustração (quase dramática) das dificuldades que o uso inconsistente do tempo (cronológico) nas análises lingüísticas tem acarretado. Em sua expressão de descontentamento, Weinrich onera a filosofia com a responsabilidade de não haver lidado satisfatoriamente com a questão do tempo (Weinrich, 1968). Obviamente, este foi o modo que Weinrich encontrou para sublinhar a sua aflição face ao desarrumo que identificou no cenário da lingüística, resultante especialmente de empréstimos inconciliáveis à filosofia. Weinrich evidentemente sabe a filosofia uma ciência cujas características diferem, por exemplo, da física, em cujo contexto o advento de uma nova teoria muito comumente significa a desarticulação de teorias mais antigas, na extensão que for (uma característica que, claramente em contraste com o que se evidencia na filosofia, também auto-seleciona quais as teorias disponíveis e adequadas, na eventualidade de se chegar à física para um empréstimo).

A categoria lingüística do tempo (verbal) é estudada já há quase dois mil e quinhentos anos. Não obstante, embora tenhamos acumulado um grande conhecimento a seu respeito, a nossa compreensão da mesma ainda deixa muito a desejar (Binnick, 1991:vii). Além das dificuldades já mencionadas quanto à improdutividade das tentativas para explicar os tempos verbais por meio de referências ao tempo cronológico (cf. Weinrich, 1968), a literatura lingüística disponível demonstra pouca consistência em seus métodos para lidar com os verbos e seus tempos. Os tempos verbais já foram definidos e explicados das formas mais variadas: [1] valendo-se de referências à morfologia, sintaxe, ou semântica, [2] levando-se em consideração (ou em detrimento de) as noções de aspecto e/ou modo, [3] recorrendo-se a regras sistemáticas ou partindo-se em busca de uma compreensão mais intuitiva. Outrossim, uma variedade de contextos lingüísticos apresentam-se nestas explicações, estendendo-se do nível verbal propriamente dito ao nível textual. Esta variedade de enfoques não-coincidentes revela, por sua vez, uma gama de perspectivas escolhidas para o exame da categoria tempo verbal, de acordo com os objetivos dos diversos autores. A literatura lingüística, ademais, ocasionalmente apresenta advertências a possíveis equívocos quanto à distinção entre as categorias de tempo (cronológico) e tempo (verbal), como também adverte quanto à distinção devida entre tempo (morfologicamente derivado) e tempo (categoria lingüística abstrata que se ocupa da expressão de noções temporais), e ainda adverte quanto à atribuição exclusiva ao verbo do papel de portador de noções temporais (Jespersen, 1934:254).

Esta não coincidência quanto ao uso de categorias, estratégias e contextos

utilizados no exame dos tempos verbais constitui mais um indício do papel multifário que representa também a categoria lingüística do tempo (verbal). E não obstante serem entidades bem distintas, tanto tempo (verbal) como tempo (cronológico) compartilham, pois, esta característica multifária, a qual sem dúvida alguma é responsável por grande parte da dificuldade em se lidar com uma ou outra noção (para não mencionar o verdadeiro desafio em que se constitui o lidar com ambas a um só tempo).

Por outro lado, a dificuldade em evitar menções ao tempo (cronológico) nas explanações que se oferece aos tempos verbais traduz-se em evidência convincente da importância crucial tanto [1] do papel do tempo (cronológico) para uma compreensão dos tempos (verbais) como [2] da necessidade de se estabelecer um denominador comum no que concerne ao tempo humano. Quanto a esta necessidade, no entanto, seria bem pouco produtivo um empenho em examinar o tempo (cronológico), onerado com cuidados tais como a "separação do tempo da nossa consciência a seu respeito"—como Shallis (1982:20) relata ter sido o maior desafio enfrentado por um grupo de eminentes físicos, cosmólogos e filósofos reunidos na Universidade de Cornell em 1963 a fim de discutir a natureza do tempo. Tampouco tentativas visando uma explanação rigorosa e formal teriam chance de sucesso, fossem inspiradas a partir da lógica, ou motivadas pelo que Weinrich (1968) melancolicamente alude como sendo o esprit de géometrie subjacente à inclinação a um formalismo rigoroso em meio às ciências humanas. Em realidade, preocupações desta ordem, no que concerne ao tempo (e aos tempos), bem podem ter sido responsáveis por desacertos em lingüística (especialmente em face à distância como um critério tácito de objetividade científica). Pois, em realidade, é precisamente a nossa consciência do tempo que pode encerrar a chave para uma noção do tempo adequada à análise das línguas.

A improdutividade de tentativas visando a uma explicação linear, racional, para a expressão humana de noções temporais pode-se, ainda, justificar a partir de outras observações. Ao caráter não-linear peculiar ao processo inerente à comunicação de noções temporais—onde o input e o output não raro se relacionam de modo bastante desproporcional—pode-se atribuir um quinhão de responsabilidade. Outra observação pertinente tem a ver com a falta de equivalência quanto às categorias em apreço: por um lado, se nos apresentam as explanações formais existentes relativas às estruturas lingüísticas através das quais se veicula o tempo, ao passo que por outro lado, deparamo-nos com a expressão intuitiva de noções temporais pelos falantes de uma língua.

Edward de Bono (1991:109) observa que "where the solution [to a problem] consists of interrelated parts, the problem cannot be solved by the staging method" (11) (este "método gradativo" a que se refere o autor implica na divisão de um problema em etapas a serem vencidas uma de cada vez, hierarquicamente). A solução para um problema cujas partes são inter-relacionadas deve ser buscada de forma holística, portanto. As palavras de De Bono induzem a uma reflexão interessante quanto a este último ponto mencionado, em especial no que toca ao ensino de línguas estrangeiras, visto que as línguas naturais se prestam à imagem de um todo que consiste de partes (grandemente) inter-relacionadas. No entanto, no ensino de línguas estrangeiras, enquanto o input fornecido aos alunos se baseia em explanações racionais, fragmentárias, o output desejado reflete um comportamento intuitivo, holístico. E, para aumentar a complexidade da situação, o enfoque linear característico na tradição gramatical onera esta explanação racional fornecida aos alunos com uma coleção de situações divergentes (também descritas de modo racional), o que dificulta por fim o seu próprio êxito em um bom número de circunstâncias, nas quais nenhuma das explanações revela-se operante.

As dificuldades relacionadas à não-equivalência categórica entre input e output têm sido largamente discutidas em pesquisas recentes nos campos relacionados com a atividade mental, tais como engenharia do conhecimento, treinamento e especialização (cf. Marton-Säljö, 1979; Dreyfus e Dreyfus, 1986; de Bono, 1991; Benner, 1995; e Enkvist, 1995, entre outros (12)). Não obstante desenvolvendo suas pesquisas em uma variedade de ramos científicos, estes autores corroboram a observação de Dreyfus e Dreyfus de que "there is more to intelligence than calculative rationality" visto que "a vast area exists between irrational and rational that might be called arational." O comportamento arracional se identifica com "action without conscious analytic decomposition and recombination" (cf. de Bono, acima), ao passo que ao comportamento racional é atribuída "the connotation of ‘combining component parts to obtain a whole.’" Os autores concluem que "Competent performance is rational; proficiency is transitional; experts act arationally" (Dreyfus e Dreyfus 1986:36) (13).

TCM (Modelo Têmpero-Cognitivo), que será brevemente discutido a seguir, teve por motivação especial [1] a inadequabilidade das noções de tempo (cronológico) disponíveis para explicar a comunicação humana a respeito do tempo, [2] a aparente ausência de uma investigação visando a uma noção de tempo compatível com a expressão humana de noções temporais, como evidenciada no uso corrente das línguas, e [3] a indisponibilidade de explanações formais de fato produtivas quanto à comunicação de noções temporais (especialmente no que diz respeito ao contexto do aprendizado de línguas estrangeiras). Esta motivação incluiu, outrossim, os desafios emergentes a partir [4] da grande diversidade de perspectivas focalizando tanto tempo (verbal) quanto tempo (cronológico), todas circunscritas a um ou alguns poucos aspectos, ou ângulos selecionados; a partir [5] do caráter elusivo de ambos tempo verbal e tempo cronológico (mais especificamente, em sua acepção como tempo humano); a partir [6] do paradoxo emergente da necessidade evidente em se tomar por base alguma noção temporal para a explicação dos tempos verbais e o evidente insucesso quanto à explicação destes por aquele (cf. Weinrich, 1964 e Binnick, 1991); a partir [7] de uma tomada de consciência da situação peculiar ao contexto do aprendizado de línguas, em que o input e o output constituem categorias desprovidas de equivalência (cf. Enkvist, 1995), visto o input lingüístico fornecido aos alunos (também no que diz respeito ao contexto do tempo verbal–cronológico) basear-se em uma explanação racional, enquanto que o output almejado reflete um comportamento intuitivo, como observado acima; e ainda a partir [8] da não-linearidade que subjaz o processo de comunicação de noções temporais nas línguas naturais, em discrepância com a abundância de explanações de caráter linear disponíveis—os tempos verbais e a sua utilização de fato (como referências temporais) não se relacionam de modo proporcionalmente harmônico, visto exibirem variações de cunho altamente assimétrico.

Em poucas palavras, o TCM é um modelo que objetiva retratar a experiência e consciência do tempo, levando em consideração especial a habilidade comunicativa humana. Em um sentido metafórico, o TCM pode ser descrito como capaz de proporcionar uma espécie de interface dinâmica entre a experiência/consciência do tempo e a sintaxe dos tempos. Em contraste com a tradição gramatical, o TCM não exibe interesse direto em uma divisão analítica das estruturas emergentes na comunicação humana em partes componentes, interessando-se, sim, primordialmente na investigação da codificação dinâmica (i.e., codificação e decodificação) na qual tanto [1] a experiência e consciência humana do tempo e [2] as estruturas expressivas de noções temporais correspondentes se alternam como input e output.

Embora abordado este assunto em contexto mais amplo na seção VI, vale adiantar que um estudo interessado nas formas pelas quais os falantes de uma língua mapeiam têmpero-cognitivamente os eventos a respeito dos quais eles se ocupam mentalmente e se comunicam é potencialmente útil em uma variedade de áreas. Um estudo desta ordem pode ser útil, outrossim, no processo freqüentemente árduo de se aprender uma língua estrangeira de forma a utilizá-la com maestria. Um estudo com tais características pode, ademais, proporcionar a falantes nativos possibilidades de uma mirada mais próxima e mais apurada em nuances e sutilezas pertinentes ao sistema lingüístico que eles aprenderam a utilizar intuitivamente em sua infância e em relação ao qual, portanto, carecem da habilidade necessária a uma perspectiva analítica. Tais possibilidades tornam-se viáveis no contexto do uso corrente das línguas, justo porque o TCM também busca identificar as motivações subjacentes às escolhas dos diversos tempos verbais, conectivos e preposições que perfazem a sintaxe dos tempos (14)

The creative use of language is a mystery
that eludes our intellectual grasp.

Noam Chosmsky

II. TCM—apresentação sucinta

Sendo o tema em questão o tempo humano, central ao TCM é o "‘Self’ Cognitivo Virtual," ou "CVS" (com uma possível segunda leitura como "‘Self’ Comunicativo Virtual"), em linhas gerais, o usuário de uma língua. O contexto lingüístico relevante ao CVS inclui não apenas as formas verbais, em si, como também advérbios, conjunções e preposições pertinentes, todos no exercício de funções têmpero-cognitivas de importância capital na comunicação de eventos (os nossos indicadores de tempo por excelência—cf. Givón, 1979).

Já o contexto têmpero-cognitivo relevante constitui-se em um Hiperespaço que "gravita" ao redor do CVS. Este Hiperespaço reúne dimensões várias, de cunho cognitivo ou espaçotemporal, incluindo-se aí também uma microestrutura (que permite assestar pontos discretos e percolações por entre o Hiperespaço). As macro e micro dimensões do modelo, exibem relacionamento óbvio, intensa conectividade e complementaridade harmoniosa, interagindo de forma coesa, características que permitem ao modelo ser expressivo de qualquer mapeamento cognitivo ou relação humana quanto ao espaçotempo (no mundo ocidental industrializado, ao menos). A respeito do funcionamento do Hiperespaço, pode-se ainda descrevê-lo como que evocando uma rede de cunho holográfico, que permita o reconhecimento de padrões formais (estes, no entanto, de forma alguma resultantes de qualquer recomposição, tal como nos casos de decomposição de estruturas em partes integrantes, brevemente abordados mais acima).


Figura 1

 

As dimensões evidentes na Figura 1, pois, constituem o Hiperespaço-TC, uma rede harmoniosamente orquestrada, que permite, entretanto, uma abordagem gráfica funcional bidimensional (não-redutiva), tal como retrata a Figura 2.

O Hiperespaço, como delineado na Figura 2, constitui uma "oficina multidimensional" que permite a que eventos mencionados (em quaisquer enunciados) sejam discreta e dinamicamente situados ou registrados, relativamente uns aos outros e ao CVS. As relações evidentes a partir de uma associação multidimensional cooperante e complementar que reúne os dois eixos (CronoLógico e TopoNoético) evocam o jogo dinâmico entre as varias dimensões que compreendem o Hiperespaço-TC.


Figura 2

Há ampla evidência de que, no uso corrente das línguas, tempo e espaço figuram de modo interposto, além de tempo e cognição darem-se as mãos com freqüência, como já mencionado mais acima—esta segunda relação também se depreende a partir da Teoria da Relatividade de Einstein, tal como brevemente observado acima, a qual reconhece de modo oficial, não obstante indiretamente, o papel incontestável da cognição. O TCM reconhece em suas dimensões ambas estas relações.

A dimensão temporal corresponde, de modo aproximado, à idéia geral que se faz do trinômio temporal . Assim sendo, permite retratar que alguns eventos ocorreram e foram "reais" muito embora já não possam ser experienciados, que outros se identificam como sendo experienciados/testemunhados no agora, e que ainda há outros os quais jamais foram "reais" ou experienciados mas sobre os quais pensamos, planejamos, e temos a expectativa de que se tornem "reais" em algum ponto ao longo do curso da vida. Tais circunstâncias, identificadas como Passado, Presente e Futuro, constituem a Dimensão Temporal mor de que faz uso o TCM. É relevante, entretanto, diferenciar-se entre Tempo e uma Crônica. Esta última permite uma ordenação linear de eventos, enquanto o primeiro constitui uma macrodimensão a abranger três grandes dimensões temporais (15).

Dois aspectos fundamentais podem resumir, em linhas bem gerais, o nosso existir cognitivo: [1] fazemos uso do raciocínio e aptidão analítica, atividades que incluem uma tomada de distância do objeto de observação, e [2] submetemo-nos a experiências, imersos em seu contexto. Raciocínio e experiência, respectivamente de cunho objetivo e subjetivo, emergem como duas linhas mestras funcionando de modo complementar na dimensão cognitiva global da existência humana.

A motivação para o raciocínio e análise relaciona-se tipicamente com a aquisição de conhecimento (qualquer que seja). Assim sendo, a dimensão que se ocupa deste aspecto cognitivo no TCM foi denominada Epistemológica. Tal como a Dimensão Temporal, ela também engloba três subdimensões, ou Enfoques Epistemológicos, os quais expressam o modo pelo qual o CVS contempla os eventos e/ou o que o CVS conhece a respeito dos mesmos. Estes Enfoques Epistemológicos são, a saber: Manifesto, que inclui eventos os quais, em um dado agora, são tidos como "reais," como pertencentes ao universo tal qual o conhecemos; Dobrado (16), que inclui eventos os quais, em um dado agora, não são tidos como pertencentes ao universo tal qual o experienciamos, muito embora façamos referências mentais ou explícitas a eles; e Hipostêmico—termo cunhado para indicar ‘deficiência’ (hypo) ‘quanto ao conhecimento’ (episteme)—que equivale a uma deficiência de meios para afirmar-se, em um dado agora, se os eventos em questão devem ser tidos por Manifestos ou por Dobrados. Em contraste com os Enfoques Manifesto e Dobrado, o Enfoque Hipostêmico encontra-se epistemicamente vazio. De fato, este é um enfoque meta-epistêmico, e não propriamente dito epistêmico.

A Hipostemia traduz desconforto epistemológico, o qual o CVS procura sobrepujar, valendo-se especialmente de dedução lógica (ou raciocínio estatístico, ou então mera especulação, no caso das outras possibilidades falharem). O uso de dedução lógica (em linhas gerais, "se isto, então aquilo," ou "p6 q"), inclui o uso de ordem temporal, isto é, de uma Crônica, evidenciando, assim, uma flecha do tempo que corre na direção passado–futuro (independentemente de o processo de raciocínio se iniciar a partir da causa ou da conseqüência, visto uma causa sempre preceder cronologicamente a sua conseqüência). As dimensões temporal e epistemológica, pois, como evidenciado aqui, mantêm um relacionamento muito próximo. (Vale ressaltar, neste contexto, que esta "flecha do tempo" acima mencionada não constitui a única a emergir a partir do uso corrente da língua—cf. Fróes, a ser publicado.)

A fim de evitar a expressão desazada "em um dado agora," os termos latinos nunc para agora e hic para aqui são usados para conferir neutralidade espacial e temporal. Destarte, um Hic-Nunc significa um dentre quaisquer Aqui-Agoras possíveis, seja em 253 AC, 1449, 1996 ou 2130. Isto permite que Aqui-Agora fique reservado para denotar neste preciso momento e lugar, isto é, o Aqui-Agora que o CVS testemunha e/ou experiência ao ter lugar uma comunicação qualquer.

O uso corrente das línguas naturais revela certos intervalos Hic-Nunc como cognitivamente relevantes, quanto à escala do intervalo de tempo que um Hic-Nunc constitua: o Hic-Nunc Instantâneo, no limiar da cognição, correlacionado com a menor unidade possível de intervalo de tempo cognitivamente significante; o Hic-Nunc Extensivo, que se estende até o limiar cognitivo superior, i.e., em direção ao infinito; e o Hic-Nunc Intensivo, um intervalo de tempo cuja escala oscila entre as escalas dadas pelos outros dois intervalos, e que é experienciado como "o tempo que se move acompanhando o CVS" (em linhas gerais, comparável ao presente heideggeriano). É mister enfatizar que estas três unidades de intervalo de tempo Hic-Nunc correspondem a escalas relativas—analogamente ao modo pelo qual 2 horas (tal como medidas no mostrador do relógio) podem arrastar-se como uma infinidade, em uma experiência, para voarem como se fossem não mais que 2 minutos, em uma outra experiência. Os diversos intervalos Hic-Nunc traduzem, por assim dizer, a escala cognitivamente inerente à experiência de cada evento ou grupo de eventos em questão (17).

Toda experiência se dá em algum contexto, que, por sua vez, tem um caráter espacial. Em vista disso, as dimensões atribuídas a experiência e espaço funcionam em cooperação estreita no contexto do TCM e (assimetricamente ao que se dá quanto às dimensões epistemológica e temporal, que, embora apresentando uma relação patente, funcionam como dimensões autônomas) experiência e espaço compartilham as mesmas subdimensões. Estas, em número também de três, são os Contextos Fenomenológicos (o primeiro termo em alusão a experiência, o segundo a espaço), a saber: InPræsentia (que implica proximidade da experiência, englobando eventos que estão sendo testemunhados/experienciados, ou seja, eventos incluídos no presente contexto de experiência do CVS), InAbsentia (que sinaliza afastamento ou distância da experiência, englobando eventos que se encontram fora do presente contexto de experiência do CVS, mas os quais já constituíram eventos uma vez testemunhados/experienciados, a despeito de quando ou por quem), e InPotentia (que implica um afastamento ou distância ainda mais remotos, quanto a eventos que nem chegam a fazer parte do presente contexto de experiência do CVS, nem tampouco foram testemunhados/experienciados).

Básica, para o TCM, é a noção de que tempo e espaço funcionam em plena complementaridade. Vale a pena mencionar, neste contexto, uma coerência lexical curiosa, que parece sugerir uma alusão à correspondência que se verifica entre a instanciação de uma experiência/evento e a identificação de ambos os seus Hic e Nunc pelo CVS como co-ocorrentes. (Muito embora o TCM tenha sido grandemente motivado a partir de inspeção minuciosa da sintaxe dos tempos, a observação que se segue refere-se ao campo lexical, como mencionado.) O termo presente pode exibir o antônimo passado (ou futuro), mas igualmente o antônimo ausente, em uma série de línguas. Destarte, algo que esteja no passado poderia ser considerado como ausente do agora. Da mesma forma, algo que se encontra ausente poderia ser considerado como passado (past ou passed) quanto ao aqui. Vale ressaltar que uma ausência implica já haver existido uma presença (tal como um passado implica um presente anterior), ou implica ao menos uma presença esperada—uma entidade futura não pode ser dita ausente; na melhor das hipóteses, estará faltando... Devido à homonímia entre presente (espacial) e presente (temporal), visto ser o contraste relevante no contexto da comunicação de noções temporais, os termos que designam os Contextos Fenomenológicos foram pois tomados por empréstimo ao latim.

Tempo e espaço se entremeiam de tal forma, a partir de um ponto de vista comunicativo ou cognitivo, que pode ser de valia abordar algumas situações em que eles funcionam de forma dissociada. Ao falar ao telefone com alguém, o CVS experiencia o seu interlocutor no Presente mas InAbsentia—exceto, obviamente, a sua voz (juntamente com o timbre, a intonação, etc). Um odor ou uma melodia que inesperadamente faça com que o CVS vividamente re-experiencie mental/emocionalmente uma cena do passado, constituirá uma experiência no Presente, a despeito de a totalidade dos eventos re-vividos encontrarem-se InAbsentia—exceto o odor ou melodia, que obviamente são experienciados InPræsentia. Tal re-experiência pode fazer com que o CVS chore, sorria, gargalhe, sue frio, trema, etc, todas estas reações fisicamente Manifestas, inquestionavelmente Presentes e InPræsentia, ao passo que o re-experienciar responsável pela reação conspicuamente Manifesta se desenrola inteiramente InAbsentia. O antecipar vividamente algo que está para ocorrer oferece uma experiência no Presente mas InPotentia—a experiência "real," isto é, Manifesta, ainda jaz ao Futuro (o que significa que ainda se encontra Dobrada (Enfolded), até onde é possível confirmá-la cognitivamente).

As dimensões Temporal, Epistemológica e Fenomenológica da experiência cognitiva co-operam numa interação não-linear, holística. Seu relacionamento dinâmico se evidencia na Heurística-TC, que inclui tanto as atitudes ou perspectivas têmpero-cognitivas quanto as estratégias têmpero-cognitivas usadas pelo CVS em face às diversas dimensões têmpero-cognitivas que se delineiam no decurso da atividade mental com base lingüística (vocalizada ou não).

As Perspectivas Heurísticas, pois, ocupam-se de como o CVS lida com eventos e os mapeia. Este mapeamento cognitivo inclui uma série de relações dinâmicas, algumas das quais envolvendo noções aparentemente irreconciliáveis, mas funcionando, não obstante, de forma complementar. O raciocínio causal, por exemplo, vinculado à Hipostemia, cuja natureza linear e fragmentária exibe um componente temporal pronunciado e pressupõe objetividade mental, além de afastamento do objeto sob raciocínio analítico (este, reduzido a uma unidade cronológica discreta), ilustra algumas das Perspectivas Heurísticas. Ao mesmo tempo, a senciência proveniente de imersão em uma experiência, um processo mental subjetivo que reclama um componente espacial óbvio, tipicamente contextualizado em um intervalo de tempo generosamente estendido, bem pode constituir solo Heurístico no qual floresce atividade mental Hipostêmica. As Perspectivas Heurísticas (que podem emergir como incôngruas ou não) poderiam ser descritas a grosso modo, e a priori, como (aparentes) epifenômenos globais ante cada uma das dimensões têmpero-cognitivas que se desenrolam ao longo da atividade mental apoiada na língua e da comunicação, e ainda também ante a interação e cooperação dinâmicas entre estas dimensões. Estas Perspectivas, no entanto, representam em linhas gerais opções têmpero-cognitivas quanto ao observar ou experienciar eventos pelo CVS. São duas as perspectivas Heurísticas principais: Logos (compreendendo uma relação [epistemo]lógica) e Noos (compreendendo uma relação fenomenológica)—mas como o TCM também inclui tempo e espaço, Logos e Noos interagem com Cronos (que compreende uma relação temporal) e Topos (que compreende uma relação espacial), originando assim quatro subperspectivas possíveis.

Lado a lado com estas (sub)perspectivas, o TCM apresenta oito Estratégias Heurísticas de deslocamento, ou anastróficas, também agrupadas sob duas veias principais: Noo-Anástrofe e Logo-Anástrofe. A primeira inclui duas Hipérboles e duas Elipses têmpero-cognitivas—Retrospectivas e Prospectivas—enquanto a segunda inclui duas Explicaturas—Noumenal e Fenomenal—assim como duas Implicaturas—Lógica e Ontológica (18). Estas oito estratégias anastróficas tipificam a manipulação de eventos, ou da "realidade," incluindo-se aí situações em que o CVS como que subjuga ou faz com que se dobre a ele o tempo. Já na dimensão lingüística, estas estratégias anastróficas evidenciam padrões regulares, os quais traduzem também casos convencionalmente designados como usos excepcionais ou irregulares dos tempos verbais. Estas estratégias levam a denominação de anástrofes como uma forma de aludir ao fato de que elas indicam movimentos virtuais possíveis dentro do Hiperespaço-TC, cuja direção e extensão expressam nuances diversas de significado, ou conotações. A grosso modo, estes movimentos virtuais são relativos à configuração espaçotempo-cognitiva onde o CVS encontra senciência ontológica—elas podem se dar relativamente tanto ao [1] Aqui-Agora do CVS, quanto ao [2] mundo Manifesto. Ambos movimentos virtuais permitem uma bi-direcionalidade, ou seja, em direção ao seu ponto de referência ou para longe dele (este ponto de referência, em uma visão bem geral, pode ser atribuído ao próprio CVS). Já na dimensão lingüística, a Anástrofe-TC é tipicamente indicada através da forma verbal (morfológica), enquanto que os advérbios e conectivos de ancoragem fornecem referência temporal e/ou epistêmica relevante para a compreensão do enunciado em questão.

Como mencionado mais acima, as várias dimensões têmpero-cognitivas em seu relacionamento recíproco constituem um Hiperespaço, em cujo "centro gravitacional" se encontra o CVS. Este "espaço" multidimensional que constitui o modelo, a despeito de sua complexidade, pode ser representado graficamente através de não mais que uma simples cruz, cujos dois madeiros correspondem ao Eixo CronoLógico (CLEx), o vertical, e ao Eixo TopoNoético (TNEx), o horizontal. O ponto de interseção destes eixos corresponde ao ancoradouro "oficial," ou default para o CVS—ou seja, o Aqui-Agora, no qual pensa-se ou comunica-se a respeito de eventos, quaisquer que sejam. Muito embora dois "eixos" adicionais, CronoNoético e TopoLógico, se fizessem necessários, em teoria, a fim de representar graficamente as nuances dinâmicas inerentes à variedade de referências têmpero-cognitivas possíveis aos diversos eventos, o caráter não-cartesiano do Hiperespaço-TC permite referência gráfica adequada a todo o sistema por meio tão somente dos dois eixos que formam a figura do Hiperespaço. Referências visuais para cada tempo verbal, tal como utilizado no pensamento ou comunicação, assim como para os advérbios e conectivos (conjunções e preposições) pertinentes, que acompanham os tempos verbais, podem ser todas distintamente marcadas ou indicadas na figura que alude ao Hiperespaço-TC.

Os últimos componentes do modelo a serem apresentados, mas igualmente de capital importância dentro do sistema, são duas das microdimensões do TCM: Ancoragens e Calibragens. As Ancoragens propiciam um ancoradouro cronológico para os eventos, marcando um ponto no curso da cronologia para cada um dos eventos sob foco. As Ancoragens são tipicamente indicadas pelos advérbios, podendo no entanto também sê-lo por conjunções e preposições (em associação com os tempos verbais). As Ancoragens podem ainda ser sinalizadas pela valência-TC inerente aos verbos transitivos (a valência permite atribuir-se ordem). Alternativamente, as Ancoragens podem ser indicadas morfologicamente por meio de tempos verbais vinculados à Heurística CronoLógica, especialmente na falta dos morfemas e sintagmemas mencionados. Há oito tipos diversos de Ancoragem possíveis, nem todos mutuamente exclusivos, traço único no contexto das dimensões-TC.

A percepção de eventos (e por conseguinte também a referência a eventos) é sintonizada de modo mais fino por meio de duas Calibragens principais possíveis, uma Temporal, outra Cognitiva. As Calibragens Temporais indicam a direção (temporal) seguida pela mirada cognitiva de encontro a um evento: Prospectiva (ProsTeCa), sinalizando uma futuridade relativa; Retrospectiva (RetrosTeCa), sinalizando um passado relativo; ou Concorrente (ConTeCa), sinalizando uma contemporaneidade (ou simultaneidade) relativa ao posicionamento têmpero-cognitivo do CVS. As Calibragens Cognitivas indicam a qualidade ou modo que caracteriza a mirada cognitiva de encontro a um evento: Extrínseca (ExCCa) ou Intrínseca (InCCa). ExCCa, que é de natureza objetiva, patenteada na fragmentação sujeito–objeto, permite a percepção do "tempo exterior" de um evento. O tempo externo resulta da percepção de um evento no contexto da "cronologia universal," tal como se visto à distância, com o que emerge a sua face-TC exterior, portanto. Esta forma de enfoque (ExCCa) coloca o evento dentro do fluxo ordenado de uma cadeia (Crônica) de eventos. InCCa (Calibragem Cognitiva Intrínseca), por sua vez, que é de caráter subjetivo, patenteada em uma percepção dinâmica, holística, permite a percepção do "tempo interior" a um evento, isto é, o evento é percebido não apenas como se em movimento sincrônico com o próprio tempo (ou seja, movendo-se com o tempo), mas como se ele próprio, evento, ditasse o ritmo para o fluxo do tempo. A percepção do tempo interno resulta do próprio desenrolar de um evento ao engendrar o contexto temporal experienciado (em outras palavras, o contexto temporal não é dado por uma "cronologia externa," exterior ao evento em si, mas sim pelo próprio evento em questão). É relevante notar que a imersão cognitiva no contexto temporal proporcionado por um evento (InCCa) resulta na perda de perspectiva quanto à "cronologia universal" e ao movimento ou fluxo do tempo propriamente dito (cuja percepção é proporcionada por ExCCa), e vice-versa. Quando a Calibragem ExCCa é utilizada, os eventos ficam cognitivamente reduzidos a um Hic-Nunc Instantâneo, enquanto que a Calibragem InCCa pode facultar qualquer intervalo de tempo possível que se estenda entre os Hic-Nuncs Intensivo e Extensivo.

As Calibragens-TC (a nível microcósmico) ostentam simetria com as Heurísticas-TC (estas, a nível macrocósmico), muito embora o uso concomitante de uma e outra dimensão não seja necessariamente côngruo ou coincidente (isto é, o uso de certos traços de uma não implica necessariamente a utilização de traços que ostentem simetria na outra). Aliás, o uso divergente quanto às Calibragens e Heurísticas indica conotações distintas, tal como assinaladas pelas estruturas dos tempos e formas verbais, variando obviamente de língua para língua.

A Perspectiva Heurística CronoLógica, que inclui a possibilidade de encadear eventos sob uma perspectiva linear, analítica, ou causal, se faz acompanhar, com freqüência, pelo uso da Calibragem Cognitiva Extrínseca, que, por sua vez, focaliza os eventos tal como se eles constituíssem meros Hic-Nuncs Instantâneos no decurso da Crônica de eventos. Tal situação obviamente não permite o mapeamento cognitivo do sabor exclusivo que constitui a experiência de um evento (característica da Perspectiva Heurística TopoNoética). O Hic-Nunc de uma experiência encontra-se "bathed in sounds , sights, tastes, smells, and textures" (19) (Peat, 1988:86), assim como também embebido nas emoções ao mesmo tempo experienciadas. Este geralmente constitui o contato em primeira mão que temos com os eventos. Ao serem experienciados, pois, os eventos apresentam-se tal como sistemas complexos carregados com alta energia, um estado que os coloca em linha com os fenômenos que (quando descritos matematicamente) requerem a utilização de equações diferenciais não-lineares—ou seja, tais eventos representam fenômenos que estão além do âmbito de descrição através de equações lineares. Obviamente esta observação não significa que os usuários de uma língua façam eventualmente uso de descrições matemáticas dos eventos a respeito dos quais se comunicam. Trata-se, sim, de um meio de caracterizar eventos qualitativamente, visto que a própria ordem da descrição matemática utilizada para um fenômeno também é expressiva do tipo de fenômeno com que se está lidando.

De modo análogo, na língua, para referências de cunho racional, analítico, causal, ou dedutivo aos eventos (Perspectiva Heurística CronoLógica), eles são cognitivamente "reduzidos" ao status de um Hic-Nunc Instantâneo (Calibragem Cognitiva Extrínseca), condição em que se pode facilmente lidar com eles de modo linear. Em contrapartida, nas referências a eventos como indícios de uma experiência (Perspectiva Heurística TopoNoética), permitimos cognitivamente a estes eventos seus próprios intervalos de duração (Calibragem Cognitiva Intrínseca). Tal procedimento corresponde também a acusar a dinamicidade, complexidade e energia inerentes a estes eventos, em seu mapeamento cognitivo. Em contraste, quando eventos são cognitivamente "reduzidos" a um ponto no tempo, o que se pode experienciar cognitivamente como dinâmico é o fluxo do tempo, como um encadeamento linear CronoLógico no qual cada evento representa um ponto ou nível. No âmbito da língua propriamente dita, esta dupla possibilidade de percepção é indicada através da escolha de tempos verbais, sintagmas adverbiais e/ou conectivos.

Cada evento comunicado ou, a nível da língua, cada tempo verbal utilizado (juntamente com seus conectivos e advérbios adjetos), indica uma subdimensão em cada uma das macrodimensões principais do TCM—Temporal, Epistemológica e Fenomenológica, e Perspectivas (opcionalmente também Estratégias) Heurísticas—assim como indica uma Calibragem Temporal e uma Cognitiva, e é ainda "atado" crono-logicamente por dois ou mais tipos de Ancoragem em co-operação. As diversas configurações obtidas a partir da cooperação dinâmica entre todas estas dimensões apenas encontra restrições quanto à associação resultante parecer absurda (ou então entediantemente tautológica).

De um ponto de vista lingüístico, as Calibragens são geralmente morfo- ou lexicalmente dadas, representando condicionantes que reverberam também, e com freqüência, a nível sintático. Muito embora a língua praticamente se revele inadequada à sua própria descrição mais além do seu nível Manifesto, conspícuo, alguns traços distintivos podem ser vislumbrados no que seria o contexto do funcionamento do cérebro. As Calibragens, no que concerne ao cérebro, seriam operacionalmente realizadas como condicionantes de sintonia, atuando, pois, tal como constituintes dinâmicos correlacionadores entre a estrutura sintática (língua) e a auto-sintonia (cérebro) (20). As ancoragens, por sua vez, sinalizadas a nível lingüístico pelos advérbios (incluindo-se aí sintagmas adverbiais em qualquer nível de complexidade), conectivos (conjunções e preposições), transitividade, ou tempos verbais, podem ser vistas dentro do contexto do Hiperespaço-TC como decorrentes da ânsia humana por cronologia e ordem, para que o mundo tenha sentido. De certa forma, pode-se dizer que as Ancoragens permitem traduzir atividade cognitiva abstrata em termos ou referenciais universais mais concretos, ao permitirem ao conteúdo daquela ser quantificado, receber a atribuição de uma escala e de uma direção, ser focalizado seja como uma série ordenada de unidades discretas, seja como um complexo coeso, ou ambas as coisas. Pode-se também dizer, neste sentido, que as Ancoragens funcionam à moda de conectores ou correlatores entre a atividade introspectiva da cognição individual e o que é tido por universo (ou "realidade") objetivo. A dimensão da Ancoragem ostentaria igualmente a correlação língua-cérebro acima mencionada, com a habilidade de promover uma sintonia ainda mais fina, de um ponto de vista objetivo. A Dimensão Temporal, os Contextos Fenomenológicos, os Enfoques Epistemológicos e as Perspectivas e Estratégias Heurísticas seriam também responsáveis—a partir de um input (lingüístico>cognitivo)—por condicionantes motivadores de sintonia cerebral congruente a um nível mais global ou "contextual," relativamente à sintonia cada vez mais fina associada às Calibragens e Ancoragens.

No contexto do funcionamento do cérebro, as primeiras dimensões mencionadas acima (macro) seriam compreendidas como promotoras de condicionantes globais, imediatamente correspondidos por uma série da configurações locais por toda parte, ao passo que as últimas dimensões mencionadas acima (micro) seriam compreendidas como promotoras de uma variedade de condicionantes locais, imediatamente correspondidos por estados globais de equilíbrio dinâmico, ao longo da evolução do sistema. Ter-se-ia, assim, assim, conexões bidirecionais locais-globais.

Esta cooperação dinâmica local-global, de caráter auto-ordenadora, eventualmente produziria estados em que condicionantes múltiplos se encontrariam satisfeitos. Tais estados de equilíbrio dinâmico corresponderiam a individuações coerentes com elementos no domínio da sintaxe dos tempos, i.e., o nível (Manifesto) da língua propriamente dito. Toda esta configuração resultante pode, alternativamente, ser vislumbrada como uma espécie de rede holográfica dinâmica, continuamente a "dobrar-se" (enfolding itself) e "desdobrar-se" (unfolding itself)—cf. Bohm, 1980—ao longo da comunicação ou pensamento apoiado na língua, e aludida explicitamente pelas diversas configurações (ou padrões) evidentes na sintaxe dos tempos. (Estes padrões obviamente encerariam os condicionantes que os motivaram ao nível lingüístico Manifesto—para que se possa sempre derivar significado.)

O significado flui tal como um continuum, figurando a nível global; a sintaxe, por seu lado, continuamente a se fazer, apresenta atributos tanto locais e lineares, como não-locais e globais. A sintaxe, como estrutura (i.e., as configurações que constituem o objeto tradicional do estudo lingüístico) exibe caráter local, fazendo-se parecer, em comparação, com uma série de instantâneos toscos dos muitos estados de equilíbrio dinâmico ou harmonia, atingidos por entre condicionantes (não raro) conflitantes, nos quais todo o sistema vai se assentando em seu fluxo enquanto evolve.

No domínio lingüístico, cada tempo verbal goza de uma "descrição ou configuração padrão (default)," ou seja, uma "associação ou relacionamento padrão (default)" que se estende através das várias dimensões-TC. Mas de modo análogo a que o significado lexical de um termo determina-se efetivamente apenas em contexto, também aos tempos verbais só é atribuído significado à medida em que se desenrola a comunicação ou o pensamento apoiado na língua. Ademais, tendo em vista o caráter criativo da língua humana, a elaboração de "receitas" para os vários usos dos tempos constituiria de fato uma ambição utópica. Visto a atividade cognitiva (e comunicativa, pois) ostentar um caráter não-linear, dinâmico, uma mera "descrição padrão (default)" para qualquer tempo verbal é obviamente insuficiente para dar conta dos diversos significados têmpero-cognitivos que os tempos verbais transmitem à medida em que evolve a comunicação, ou seja, em contexto. Além disso, a abordagem Têmpero-Cognitiva revela que os tempos e seus advérbios e conectivos adjetos são também portadores de significado que ultrapassa o significado morfo-sintático-lexical conspícuo, ou seja, o que tradicionalmente se entende ou toma por significado. Portanto, em lugar de regras para a utilização dos tempos verbais (estas inevitavelmente implicando em uma desairosa lista incompleta de exceções), a abordagem-TC interessa-se pelas configurações emergentes no Hiperespaço-TC e sua motivação. Estas configurações têm a possibilidade de oferecer meios adequados para explicar, ou justificar, cada utilização de um tempo verbal que possa ser encontrada. O TCM constitui, assim, um esforço de encontro aos cuidados expressos por Dreyfus e Dreyfus e por Enkvist, visto estar capacitado para conciliar procedimentos racionais e arracionais—isto, além de estar também capacitado para acomodar input e output díspares (21).

Ir a la 2º parte

 

Volver al sumario del Número 4
Revista de Psicoanálisis y Cultura
Número 4 - Diciembre 1996
www.acheronta.org