Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
A transferencia no discurso psicanalítico apos Freud:
Uma revisão bibliográfica
Janaina Franciele Camargo - Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto

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Introdução

Trata-se, aqui, de psicanálise na universidade. Ao nosso ver, isso diz respeito a emprestar instrumentos acadêmicos à pesquisa psicanalítica. Trata-se de instrumentos de pesquisa teórica, de pesquisa por revisões e de outras formas de investigação que a universidade, em geral, tem melhores condições de executar que outras instituições, talvez mesmo que as escolas de psicanálise, seja por disposição de tempo, de recursos e, mesmo, de ferramentas (que muitas vezes dependem de uma formação específica de pesquisador).

O presente trabalho, em particular, surgiu dentro do projeto Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Civilização, da Universidade Estadual de Maringá (Paraná), cuja finalidade é a de "gestar" idéias em psicanálise, de maneira a transformar algumas delas em projetos de pesquisa. Ele diz respeito, pois, à "gestação" de uma dessas idéias.

Após encerrarmos um projeto de pesquisa acerca do discurso psicanalítico sobre a histeria nos anos após Freud, buscando e examinando textos indexados pela Associação Americana de Psicologia (APA), pensamos que o mesmo procedimento poderia ser feito com relação à transferência, também com relação ao pós-Freud. Desse modo procedemos a um primeiro levantamento e exame dos resumos encontrados. O objetivo era o de averiguar a viabilidade de um projeto com os artigos propriamente. Pois bem, o texto que ora apresentamos diz respeito a essa parte inicial ou "gestacional". Trata-se do exame dos "abstracts" que encontramos sobre a transferência, relativos aos artigos indexados pela APA acima mencionados e, como já foi dito, atinentes ao discurso pós-freudiano sobre a transferência. Buscamos resumos de artigos publicados em revistas psicanalíticas e fizemos uma posterior leitura e análise (divisão em categorias temáticas) dos mesmos para, em seguida, discutir em linhas gerais o material encontrado, visando uma compreensão dos destinos do estudo da transferência no pensamento analítico contemporâneo. No entanto, antes de entrarmos nos resultados propriamente, vejamos, em linhas muito gerais —e como forma de darmos um contexto ao trabalho— como a transferência aparece para Freud.

Para esse autor, o material apresentado pelo paciente traria em si representações e afetos dirigidos ao terapeuta, seja de forma encoberta, ou seja, de forma explícita, cuja característica seria a "distorção" da realidade, e a isso atribui o nome de transferência. Tais "distorções" seriam resultado da presentificação de fantasmas infantis do paciente, e sua atuação na relação com o analista consistiria numa tentativa de por esses fantasmas infantis em ato, consistindo, assim, a transferência numa espécie de acting-out. A transferência seria, desse modo, aquela que prestaria "o inestimável serviço de tornar imediatos e manifestos os impulsos eróticos ocultos e esquecidos do paciente" (Freud, 1912). Esta regressão que se desenvolve na transferência seria, pois, de grande importância para que desejos, afetos, formas de se relacionar e fantasias infantis apareçam de forma convincente e significativa para o tratamento. Ora, se o que se tem como "distorção" da realidade aparece como a forma, a mais próxima possível, de uma outra realidade, aquela do inconsciente e do desejo. Esse é, pois, um momento na obra de Freud que se assemelha muito àquele em que o autor abandona a idéia de trauma de sedução, como evento material e, não decepcionado, consegue enquadrar o mesmo problema, o do trauma, num outro plano, que é o da fantasia, o da realidade psíquica (Carta a Fliess n. 69).

Embora permaneça como muito importante no contexto psicanalítico, o conceito de transferência teria sofrido mudanças no decorrer do tempo, tanto devido ao contexto histórico quanto às diferentes escolas psicanalíticas que se desenvolveram. Um exemplo de mudança está na proposta de James Strachey que, segundo Sandler (1986), afirmava que a única interpretação psicanalítica de fato verdadeira seria aquela que toma a transferência como objeto.

Assim, o conceito de transferência tornou-se bastante amplo e, atualmente, várias visões sobre o assunto coexistem. O que se pretende com este trabalho não é se chegar a uma precisão do conceito e nem a exposição exaustiva de todas essas visões, mas, sim, expor alguns elementos que aparecem no material analisado.

O levantamento dos resumos, já dissemos, foi levado a cabo por meio de pesquisa no banco de dados eletrônico da American Psychology Association (APA) – PsycINFO. Foram encontrados 6134 resumos disponíveis, distribuídos em datas que variam de 1913 a 2005.

Frente à grande quantidade de resumos encontrados, estabelecemos que fosse feita a leitura de ¼ do material, de modo que, a cada resumo lido, três eram descartados. Fizemos uma tentativa de estabelecer categorias para o material, visando a proposição de critérios de escolha para pesquisas posteriores. Num primeiro exame e tentativa de categorização, notamos que alguns dos temas-categorias que apareceram de forma insistente foram aqueles que relacionam a transferência com: adolescentes; crianças; personalidades narcísicas; estados borderline; diferenças socioculturais entre terapeuta e paciente; terapia de grupo; gravidez da terapeuta; psicoterapia breve; fim do tratamento; sexo e gênero, a que podemos relacionar temas gerais ligados à homossexualidade e ao gênero sexual do paciente e do terapeuta; transferência erótica e erotizada; e, além disso, introduzimos a categoria "teorias", que busca explicitar o ponto de vista teórico dos artigos. Cada categoria dessas é examinada através de textos de várias épocas.

Vejamos, pois, esses temas.

Transferência e pacientes adolescentes

O tema da transferência aparece relacionado à adolescência de diversas formas, mas é comum em quase todo o material lido o fato deste tipo de paciente ter bastante dificuldade em estabelecer transferência, pois se relata com freqüência que o adolescente não se envolve, ou demora em fazê-lo e, além disso, apresenta aspectos agressivos em relação ao terapeuta. Staub (1943), por exemplo, afirma que a técnica para lidar com delinqüentes juvenis requer um período preparatório no qual o analista tem que estar ativo para adquirir confiança e estabelecer uma transferência forte e positiva permitindo, em suas palavras, que as forças controladoras e restauradoras do ego operem. Zavitzianos (1967) explora problemas da técnica na análise de delinqüentes juvenis ao afirmar que o medo de se envolver na transferência explica porque nos primeiros estágios do tratamento há acting-outs de diversas formas. Freqüentemente, então, estabelece-se uma relação de maneira forte, a qual servirá de proteção contra o envolvimento transferencial. Weiss (1981), por sua vez, explora a importância da transferência negativa no tratamento de adolescentes e de delinqüentes juvenis. O autor afirma que, nesses casos, a hostilidade no tratamento não deve ser eliminada, mas deve ser vista como um aspecto da psicopatologia do paciente, e deve ser tratada assim como os demais aspectos. Ferruta (2001) pensa a adolescência como uma época favorável para uma reorganização do funcionamento psíquico e como um projeto pessoal de subjetivação. A partir desta perspectiva, a autora tenta entender os comportamentos agressivos e sádicos do adolescente. Isso envolve uma evolução especialmente dramática e complexa do processo transferencial e contratransferencial. Flechner (2003) também trata da agressividade e da violência na adolescência, afirmando que toda ação do adolescente tem uma conotação de risco. Focalizando na atuação do adolescente, a autora mostra a questão de como criar, através do eixo transferência-contratransferência, dentro da sessão analítica, um espaço que dê lugar à capacidade de pensar e, assim, permitir a antecipação da ação. Gensler (2005) revisa o livro de Etty Cohen "Playing hard at life: a relational approach to treating multiply traumatized adolescents", o qual propõe três fases na evolução da transferência e contratransferência entre o terapeuta e o paciente adolescente. A primeira fase envolveria resistência e aliança antiterapêutica, em seguida haveria a fase da segurança, marcada por sinais de ternura mútua, e a próxima fase seria a erótica, na qual a confusão entre ternura e paixão sexual tornar-se-ia central. Cohen descreve a tendência dos adolescentes traumatizados, durante a primeira fase, a manterem-se desligados do terapeuta, queixando-se de que a terapia é uma perda de tempo e fazendo o terapeuta sentir-se inútil. Nestes autores percebemos que o foco está nas dificuldades, devido aos aspectos agressivos dos adolescentes, de estabelecimento de uma transferência que permita o trabalho analítico. Ao comentar o caso de um garoto de 15 anos, Van-der-Most (1984) afirma que, embora não haja emergência da neurose de transferência durante a psicoterapia com adolescentes, eles podem, na terapia de longo prazo, elaborar parte de suas transferências objetais. Isso é, então, interessante, pois deixa no ar o problema de se existe ou não a análise de adolescentes. Num artigo publicado no Brasil, Caron & Seewald (1988) comentam a contratransferência na análise de crianças e adolescentes, afirmando que por ser muito difícil tratar estes dois grupos, os psicanalistas tendem a abandonar seu trabalho com eles, preferindo tratar somente adultos. Os fatores que mais acentuam os problemas contratransferenciais seriam: agressão, sedução, revelação da sexualidade infantil, juntamente com a dificuldade de se comunicar com as crianças, o que provoca no analista ansiedade, raiva e sentimento de culpa.

As relações transferenciais no tratamento de crianças

Quanto à transferência no tratamento de crianças, Sandler (1970) considera que não há diferença entre o conteúdo do material que emerge de pacientes adultos e crianças, de forma que ocorreria o mesmo com os tipos de relações estabelecidas. O autor, pela linha de Freud, afirma que a transferência é a situação psicanalítica que facilita a emergência de certos aspectos das relações objetais e considera todos os aspectos da relação paciente/analista como repetições das relações objetais do passado, tanto na análise de crianças quanto de adultos. Fraibe (1966) considera que as crianças são bastante sensíveis à análise no período de latência e Christoffel (1953) afirma que certos tipos de psicoterapia psicanalítica "não clássica" se desenvolveram no tratamento de crianças e psicóticos. Neubauer (1980) busca examinar as condições necessárias para a emergência da transferência e da neurose de transferência em crianças, além de também afirmar que a transferência se refere à continuação do passado no presente. Num resumo referente a um seminário seu, Anna Freud (1983) discute algumas semelhanças na análise de adultos e crianças, em especial aquelas referentes à transferência. Por uma tendência semelhante, que defende a análise de crianças enquanto tal, com todos os elementos de uma análise, temos Gurman (1993), que comenta um artigo de Arminda Aberastury, publicado em 1946, e afirma não ver diferenças conceituais no tratamento de crianças e adultos, considerando que as primeiras também são capazes de verbalizar seus pensamentos e simbolizar. Essa é uma via kleiniana e sabemos que Melanie Klein sempre defendeu essa proposta. O autor discute ainda o papel da transferência como um instrumento para a cura da criança. Bauers (1994), porém, discute os fatores especiais da transferência na psicoterapia analítica de crianças, comparando tais fatores com os processos transferenciais no tratamento de adultos. Três fatores que influenciariam o tratamento de crianças são citados: a rede de relacionamentos oferecida, a imaturidade do desenvolvimento egóico da criança e a severidade da desordem. Os fatores são discutidos com base no conceito de transferência de Anna Freud. Próximo a essa mesma discussão temos Myers (2001), que compara as teorias da transferência e do tratamento infantil de Melanie Klein e Anna Freud. A partir de uma revisão e análise da literatura sobre o assunto, a autora busca as raízes das discordâncias entre ambas e examina como elas aplicaram suas teorias acerca da transferência a dois aspectos do tratamento infantil: a aptidão da criança para o tratamento e a interpretação da transferência. Meyers afirma que a base para as divergências entre estes dois aspectos estaria na diferença entre as teorias do desenvolvimento humano de M. Klein e A. Freud. De um lado, Melanie Klein, segundo o autor, enfatiza a importância das primeiras relações objetais, as fantasias inconscientes e a ansiedade primitiva. Sua teoria de um precoce desenvolvimento do ego suporta a sua posição de que toda criança desenvolve transferência com relação ao seu analista e é, portanto, passível de ser tratada. Ela acreditava que a interpretação das camadas supostas como mais primitivas poderiam diminuir a angústia, melhorar as relações objetais e fortalecer o ego. Ainda segundo Meyers, Anna Freud focava-se mais no papel do ego e na análise das defesas e não acreditava que todas as crianças poderiam ser analisadas pela psicanálise. Segundo ela, as crianças nasciam com um ego fraco e pouco desenvolvido e não desenvolviam uma imediata transferência com seus analistas, alem de talvez nunca conseguirem desenvolver uma completa neurose de transferência, devido a ligação que possuem com seus pais. Para Anna Freud deveria primeiro dirigir suas interpretações ao ego e só depois as camadas mais inconscientes, na medida em que o ego da criança se torne mais forte durante o tratamento. Por um outro caminho temático, Houzel (1996), por seu lado, fala do trabalho terapêutico com crianças psicóticas e afirma que ele requer uma compreensão especial da transferência e da contratransferência. Utiliza estudos de caso para afirmar que crianças psicóticas dividem os aspectos paternos e maternos do objeto num nível muito primitivo. Sugere que os terapeutas devem entender estes aspectos maternos e paternos e reintegrá-los em sua própria contratransferência.

Percebemos, enfim, que, no que diz respeito à transferência no tratamento infantil, ainda predominam as correntes de Anna Freud e Melanie Klein. Vejamos que há autores que afirmam que o tratamento de crianças tende a ser igual ao de adultos, enquanto outros demonstram as diferenças entre ambos os tipos de pacientes. Mas, de qualquer forma, notamos que, segundo os autores, a transferência pode se estabelecer em crianças, embora não haja consenso acerca da neurose de transferência. Seja como for, é em torno desse debate que se desenvolvem a maior parte dos artigos. Isso evidentemente não é estranho, é uma particularidade da análise de crianças, tal como ela ainda se encontra desde os embates entre as duas grandes autoras.

A transferência e a questão do narcisismo

A transferência relacionada ao tema do narcisismo foi bastante recorrente e a maior parte dos artigos a esse respeito se identificavam de algum modo como representantes da Psicologia do Self. Isso muito possivelmente se deve ao fato de que a Psicologia do Self, que tem Heinz Kohut como principal teórico, discuta bastante as personalidades ditas narcísicas e as tome como objeto principal de suas teorias.

Num artigo de 1968, o próprio Kohut discute o tratamento psicanalítico das desordens de personalidade narcísicas. O autor examina duas transferências mobilizadas no tratamento deste tipo de personalidade: a transferência idealizada, ativação terapêutica da imagem parental idealizada; e a transferência especular, a ativação terapêutica do grandioso self. Groen (1978), por seu lado, considera que muito se tem falado sobre as transferências e defesas narcísicas no analisando, mas pouco se discute as características de personalidades narcísicas que podem também estar presentes no analista, o que pode complicar consideravelmente a análise. O autor toma como ponto de partida para a discussão a visão de Kohut sobre a transferência narcísica, ou seja, a transferência idealizada e especular. Spotnitz (1979) trata do tema da contratransferência narcísica, definindo-a por uma espécie, digamos, de correspondência simétrica, isto é, como as reações afetivas do terapeuta em relação ao paciente que está num estado de transferência narcísica. Somente a resolução desta contratransferência poderia tornar efetivo o tratamento destes pacientes pré-edipianos.

Manzano (1991) discute esse mesmo fenômeno da transferência narcísica como podendo arruinar o tratamento analítico. Este tipo de transferência envolveria uma relação fusional com o analista, que, por sua vez, responderia contratransferencialmente com uma fusão inconsciente de sua identidade com a do analisando.

Este sentimento contratransferencial de estar fundido ao paciente é descrito por diversos autores. Mas alguns autores que estudamos viram esta dimensão narcísica da transferência como algo positivo, como a busca pelo paciente de uma auto-imagem unitária, de modo que o analista deve funcionar como um espelho que reflete a auto-imagem do paciente, para que este seja capaz de construir uma imagem de si por meio do encontro com o outro.

Margolis (1994) afirma, sem muitas dúvidas, que a transferência do paciente narcísico (ou pré-edípico) é narcísica em vez de uma relação objetal, o que, evidentemente, é esperado e é uma opinião que é compartilhada por diversos autores. Margolis descreve a transferência negativa e suas implicações para a terapia e afirma que as ligações entre paciente e analista podem ter significado para o paciente narcísico, porém somente se elas tomarem a forma de intercâmbios emocionais. O papel do analista na construção da terapia e da transferência narcísica também é discutido. A transferência narcísica pode reproduzir na terapia o estado self-objetal que ocorre no período do narcisismo primário, levando o paciente narcísico a reexperienciar e elaborar com o analista os traumas afetivos de seus primeiros anos de vida. Em outro artigo do mesmo ano, Margolis (1994b) trata da contratransferência narcísica, a qual é caracterizada como um produto de uma identificação do analista com seu paciente narcísico.

Meadow (1996), por sua vez, afirma que a teoria psicanalítica moderna assegura que a transferência é possível em pessoas com desordens psicóticas ou narcísicas sob condições especiais. O mesmo autor afirma em um outro artigo do mesmo ano (Meadow, 1996b) que, sobre as transferências pré-edípicas, também conhecidas como transferências narcísicas, pode-se pensar em duas fases: o período pré-objetal/pré-verbal e a fase na qual a linguagem está se estruturando. As palavras do analista são ouvidas de maneiras diferentes nessas duas fases. Para saber onde o paciente está na sua regressão, o analista se concentra na transferência, que é a experiência do paciente no aqui e agora. Percebe-se que a reconstrução do passado é especulativa e com os conflitos pré-verbais o analista não poderia chegar ao modo visual e auditivo de o paciente se organizar em sua experiência. Para estar com o paciente em sua regressão, o analista deve lembrar-se de que, aí, imagens são o mundo "real", enquanto pessoas reais, incluindo o analista, são simplesmente as sombras ou reflexos do seu mundo interno.

Schwartz (1974) pergunta-se se os casos de transtorno de personalidade narcísica podem ser diferenciados, e no caso de haver uma categoria específica para esses tipos de desordens, se haveria um fenômeno claro de transferência narcísica, e conclui que sim. É interessante que dentre os resumos lidos, não encontramos outros autores, após esta data, que lançassem dúvidas acerca da existência da transferência narcísica.

O paciente borderline na transferência

A transferência do paciente dito borderline é, em geral, caracterizada sobretudo como problema: paciente-limite, relação no limite, pode-se dizer. Predominam afirmações acerca dos aspectos agressivos, autodestrutivos, sadomasoquistas e odiados do sujeito, que seriam projetados no analista, de maneira tal que tornariam a relação problemática.

O paciente borderline, segundo Epstein (1981), estabelece uma transferência narcísica negativa e ataca o analista severamente como se este fosse um inimigo ou perseguidor. Essa resistência massiva pode gerar dificuldades contratransferenciais ou levar o analista a pensar que o paciente não é analisável. O autor fala sobre como a agressividade e auto-destrutividade do paciente é projetada no terapeuta, e como esse último pode ajudar o paciente a sair da necessidade de uma transferência self-objetal negativa para uma positiva (Self-objetos, na teoria de Kohut, são aqueles objetos cujo suporte serve para o sujeito construir o seu próprio self). Ainda nesse sentido, Pekowsky (1988) discute a transferência sadomasoquista em pacientes borderline e sugere que este fenômeno é parte de uma transferência complicada que serve a funções libidinais, de resistência e de defesa. A combinação de teste de realidade pobre e regressão sob stress torna esta transferência particularmente difícil para o terapeuta lidar. O autor sugere, que ao lidar com estes pacientes, o terapeuta deva interpretar a função desta transferência, de modo que ajude a formar uma aliança terapêutica para que se trabalhe com os problemas do superego sádico.

Summers (1988) defende a idéia de que pacientes borderline podem ser tratados com sucesso pela terapia psicanalítica, e a principal questão é a psicose de transferência que aí pode surgir e que deve ser solucionada pela interpretação.

Gabbard (1991) destaca que o ódio de transferência apresenta o maior obstáculo para o trabalho analítico com pacientes borderline, pois neste grupo o analista é odiado de modo que parece indiferente à interpretação. A persistente identificação projetiva de aspectos odiados do paciente pode desgastar a habilidade do analista de manter uma postura analítica e levar a formas de acting-out contratransferencial. De outro lado, Waska (2005) afirma que acting-out com características de autodestruição freqüentemente estão presentes na transferência de pacientes borderline e são seguidos de uma atitude contrária à mudança, e autodestrutiva, provinda da pulsão de morte.

Cahn (1999) trata do tema da dificuldade do tratamento psicanalítico em pacientes borderline adolescentes. O autor sugere que a significação das relações objetais que estes pacientes introduzem na relação analítica cria todos os problemas transferenciais, considerando que as dificuldades transferenciais do paciente estão ligadas à sua primitiva interação com sua mãe.

Diferenças socioculturais entre terapeuta e paciente

Encontramos também resumos de artigos referentes a diferenças socioculturais entre terapeuta e paciente. Todos consideram que as diferenças culturais afetam o resultado psicanalítico. Isso pode ocorrer, segundo Zaphiropoulos (1982), se o analista superestimar a universalidade dos símbolos e complexos psicanalíticos ou se apoiar demais no seu suposto conhecimento acerca da cultura do paciente. O sentimento mútuo de estranhamento que pode haver entre as partes pode levar à emergência prematura de reações transferenciais negativas.

Antinucci Mark (1990) discute as dificuldades de análise quando esta é conduzida numa língua estrangeira pelo paciente ou pelo terapeuta. Segundo a autora, a tradução é considerada uma metáfora para a relação paciente-analista e é autônoma e independente da transferência. Foster (1992) conclui que a presença de um sistema dual de línguas modifica aspectos fundamentais do processo de tratamento do paciente bilíngüe. O autor propõe que quando as duas línguas são usadas no tratamento, a troca de idioma pode disparar mudanças poderosas na transferência, já que experiências afetivas e relações objetais primárias são revividas unicamente na língua em que foram vividas. Lijtmaer (1999) apresenta um caso em que a transferência ocorreu quando uma paciente bilíngüe mudou para sua primeira língua durante uma sessão e comenta a influência da escolha do idioma no tratamento e seus efeitos na transferência-contratransferência.

Millan (1996) afirma que a forma como pacientes e terapeutas internalizam os valores, crenças culturais e estrutura de classe de suas sociedades está sempre presente no consultório psicanalítico e sempre se torna manifesto como reações transferenciais e contratransferenciais. Altman (1999) considera como um ponto de vista psicanalítico contribui para uma compreensão das dinâmicas do trabalho terapêutico que ocorre em clínicas públicas, com foco particular nas questões raciais, de classe social e culturais e como elas influenciam na transferência e na contratransferência.

Para além da transferência dual: Grupos

Embora o problema da transferência dual, do paciente para o analista, ainda seja o mais discutido, temos também algo da transferência em grupo, sob diversos aspectos. Grotjahn (1969) apresenta três situações transferenciais existentes dentro do grupo analítico: transferência para o terapeuta, para os outros membros do grupo e para o grupo como uma figura materna. Lipshutz (1952) afirma que pacientes sendo tratados em psicanálise individual passaram a participar de grupos junto ao trabalho individual. Como resultado as resistências foram vencidas mais prontamente, material associativo e sonhos foram mais compreensíveis para o paciente e estes se tornaram mais ciente das transferências e a contratransferência se torna uma experiência mais rica e estimulante. Whipple (1979), neste mesmo sentido, sugere que as dificuldades da resolução da transferência na fase de término da análise ou da terapia psicanalítica podem ser amenizadas se, em alguns casos, for utilizada a terapia de grupo juntamente com o tratamento individual. Ao colocar o paciente em um grupo dirigido pelo seu analista original, ajuda-se a imprimir realidade ao relacionamento entre analista e paciente, o que auxiliaria na resolução da transferência. A resolução da transferência é também considerada a parte mais importante da análise de grupo.

Battegay (1976) discute o Complexo de Édipo, a competição e o narcisismo no grupo. Afirma que no grupo analítico o terapeuta é impelido para o centro dos conflitos edipianos e de rivalidade dos membros do grupo por meio da transferência. Horwitz (1994), por outro lado, afirma que o comportamento de um grupo pode ser entendido em três níveis: o consciente-racional, a transferência determinada edipicamente e a transferência materna pré-edípica. Os níveis mais racionais estariam associados à diluição da transferência, enquanto os níveis mais primitivos acompanhariam a intensificação da transferência. A técnica do terapeuta e a patologia dos pacientes do grupo determinam quais aspectos serão enfatizados e usados.

Percebemos que, acerca do grupo, vários autores consideram que há emergência de situações originais da infância por meio da transferência, assim como na análise individual. Tal repetição pode ocorrer em relação ao analista ou aos outros membros do grupo.

Mudanças na transferência devido à gravidez da analista

Outro tema que nos chamou muito a atenção foi aquele relacionado ao aspecto tomado pela transferência frente à gravidez da terapeuta. Vários autores publicam relatos de caso a esse respeito. Um exemplo é o artigo de Mariotti (1993), que considera as reações de dois pacientes expressas na transferência. A primeira foi uma mulher cuja gravidez seguiu a da autora, num modelo imitativo em que ambas negavam qualquer diferença entre elas, o que também desenvolveu na paciente a sua capacidade de ser mãe. O segundo foi um homem que inicialmente entendeu a gravidez da terapeuta como uma rejeição a ele, assim como as duas pacientes descritas por Ulanov (1973). Encontramos também, em outros resumos, autores que relatam que o paciente pode experimentar raiva por sentir-se abandonado e rivalidade em relação à criança da terapeuta, etc.

Wedderkopp (1990) afirma que a gravidez da terapeuta intensifica a transferência e a contratransferência, assim como o trabalho terapêutico se torna mais forte e fluido, com potencial para uma significante mudança terapêutica. Deben-Mager (1993) também notou que a gravidez da analista intensifica a transferência e exige do paciente a capacidade para experienciar a intensidade dos sentimentos evocados. Além disso, o acting-out mostra-se mais intenso.

Gettlinger (1999) descreve uma situação analítica com múltiplas repercussões na transferência e na contratransferência. Tratava-se de uma analista grávida interagindo com uma analisando cuja esposa também estava grávida. Inevitavelmente, o analisando observou e conheceu várias coisas acerca da gravidez, e a imagem usual, idealizada, percebida como etérea da analista caiu por terra. Outros autores também mencionaram o fato de que a gravidez da analista leva o paciente a se deparar com um elemento de realidade da vida da terapeuta, que antes não estava presente no setting.

Houve também menção ao impacto da gravidez da analista no grupo terapêutico, o que despertaria diferentes reações individuais nos membros e seria benéfica para o grupo.

A transferência na Psicoterapia breve

A transferência na psicoterapia breve também tem sido discutida nos artigos publicados entre as datas pesquisadas através dos resumos. Szpilka & Knobel (1968) afirmam que a psicoterapia breve difere da psicanálise ao não encorajar a regressão, mantendo-se a relação num nível adulto, e no fato de a transferência ser usada somente quando ela não se torna o eixo do tratamento, evitando a "neurose de transferência". Davanloo (1987), por outro lado, busca mostrar como a psicodinâmica psicanalí tica pode ser integrada dentro da psicoterapia breve, a qual focaliza a revelação e análise das resistências e transferências, portanto, considerando a transferência importante no tratamento. Sifneos (1997) descreve que as técnicas para o tratamento em psicoterapia breve incluem pronta utilização da transferência positiva, concentração em conflitos não resolvidos além de se evitar o desenvolvimento da neurose de transferência, discordando de Spilka & Knobel quanto à utilização da transferência, embora concordando quanto ao fato de que se deve evitar a neurose de transferência. Gelso, Kivlighan, Wine, Jones (1997) estudam o papel interativo entre a transferência controlada pelo terapeuta e o insight nos resultados da psicoterapia breve, afirmando que nos casos bem sucedidos, a transferência cresce nos primeiros três quartos do tratamento e então declina, enquanto nos mal sucedidos ela continua a crescer ao longo do tratamento. Frances & Perry (1996) mostram três opiniões acerca da transferência na psicoterapia breve: "conservadores" acreditam que a interpretação da transferência é indispensável na psicanálise tradicional mas não tem lugar nas terapias breves; a visão "radical" afirma que a interpretação da transferência é a técnica mais poderosa para promover m udanças, mesmo em terapias breves; os "céticos" acreditam que técnicas específicas como a interpretação da transferência têm pouco impacto quando comparadas a características interpessoais não específicas comuns em todas as psicoterapias. Os autores tentam conciliar estas posições, sugerindo diretrizes clínicas para indicar quando as interpretações da transferência são ou não possíveis e apropriadas na terapia focal. Notamos, pois, que estas três opiniões realmente coexistem quando se trata do uso e da importância da transferência nos tratamentos breves.

Fim do tratamento e seus efeitos

O tema da transferência no final do tratamento também surgiu no material estudado, distribuído por diversas épocas. Além disso, encontramos também textos cuja preocupação dizia respeito ao destino da transferência após o fim do tratamento. Acerca disso, citamos, entre vários, apenas dois resumos. Oremland, Blacker & Norman (1975) buscam saber o que ocorre com a transferência após o fim do tratamento ao descrever dois casos que pareciam bem sucedidos, mas que nas entrevistas de acompanhamento, dois anos depois, se mostraram, segundo os autores, incompletos. Diatkine (1988) se pergunta como o fenômeno da transferência desaparece quando a relação analítica termina. Para ele a resposta parece ser a de que o processo psíquico da transferência continua mesmo quando as duas partes da relação decidem se separar.

Rosenthal (1988) busca estudar se o critério para o fim da análise deveria ser o desaparecimento dos sintomas, a elaboração do conflito edipiano, a resolução da neurose de transferência, ou uma combinação de todos.

O problema da resolução da neurose de transferência como critério para o fim do tratamento pode ser visto nos autores que se seguem. Vallespir (1993) explora diferentes aspectos da conclusão da análise, especialmente a dimensão transferencial. Menções ao amor, desejo e morte sugerem convergências com o fim de uma relação diádica em que esses três elementos estão envolvidos. Material, especialmente onírico, de dois pacientes da autora ilustra dimensões do fim da análise através de movimentos finais ocorrendo nas reações transferenciais dos pacientes. Shechter (1993) afirma que critérios usados por psicanalistas para assegurar o fim são: intuição, mudança estrutural, redução do sintoma, diminuição do conflito e da ansiedade e início da redução da neurose de transferência. A autora ilustra um caso em que a analista e a paciente nutriram fantasias de término, e propõe que elementos transferenciais destas fantasias devem ser interpretados para o paciente, enquanto os contratransferenciais devem ser trabalhados na auto-análise, ou a terminação será prematura. Ruderman (1999) afirma que esta fase pode reativar, ou ativar pela primeira vez, memórias de intrusão e perda das primeiras fases de desenvolvimento do paciente, por meio da transferência.

Sexo e gênero e temas relacionados

O tema sexo e gênero, no qual, como já dissemos, incluímos temas gerais relacionados à homossexualidade e ao gênero do paciente e do terapeuta, além do tema da transferência erótica e erotizada, recebeu maior atenção nos anos 90, embora tenha estado presente em todas as épocas pesquisadas. Marmor (1976) discute alguns aspectos psicodinâmicos da sedução de pacientes mulheres por seus psicoterapeutas, concluindo que quando um terapeuta empresta realidade às fantasias erotizadas da transferência de suas pacientes, fomenta uma séria confusão entre realidade e fantasia, que é bastante prejudicial ao tratamento. Covington (1996) discute as estratégias a que os analistas devem, segundo ela, recorrer quando confrontados pelo amor transferencial da parte de analisandos do sexo oposto, afirmando que, quando colocada diante do amor transferencial de um paciente atraente, sentiu-se tentada a ceder a seus desejos e a seus próprios sentimentos contratransferenciais. Ela afirma que somente uma total resistência a essas "tentações", combinada a uma acolhedora atitude de compreensão e de empatia, pode salvar este tipo de análise. Uma atitude de medo, rejeição e defesa pode levar a análise ao fracasso. Andrade (1996) ilustra o aspecto erotizado da transferência e contratransferência, narrando um caso de sua própria prática no qual ele mostra os problemas contratransferenciais envolvidos na manutenção da "abstinência" proposta por Freud, frente a uma bela e sedutora analisanda. O seu amor transferencial beirava o psicótico, e o autor esteve ciente, durante toda a análise, de que a transferência erotizada está mais próxima da hostilidade do que do amor. May (1986), por outro lado, trata dos efeitos dos sentimentos sexualizados do terapeuta em relação ao paciente na contratransferência e afirma que esta experiência de atração sexual por parte do terapeuta, se controlada, pode representar um fator positivo no processo psicanalítico.

Uma outra questão ligada a este tema foi a transferência e contratransferência na homossexualidade. Sobre isto Kwawer (1980) diz que a literatura sobre a homossexualidade se deslocou da ênfase nas questões edipianas para se focar nas relações maternas primitivas, e que problemas nestas últimas são recapituladas na transferência homossexual. Este autor aponta para a ausência de discussões acerca da contratransferência no tratamento de homossexuais, mas percebemos que quase todos os demais resumos lidos sobre o tema, de datas posteriores a esta, tratavam da questão constratransferencial. Por exemplo, Isay (1993) descreve questões relacionadas a ter um gay assumido como analista e afirma que a descoberta da homossexualidade do analista pode beneficiar o progresso do tratamento de um paciente gay, pois pacientes gays sempre pensam que seus terapeutas são heterossexuais devido à internalização da idéia preconceituosa de que os homossexuais são "doentes". O autor discute ainda a questão da contratransferência de terapeutas gays trabalhando com pacientes gays portadores de HIV. Phillips (2001) afirma que a cultura heterossexual ocidental cerca o rapaz homossexualmente inclinado num clima de superestimulação erótica que afeta fortemente o seu desenvolvimento e adaptação sexual adulta. Sua afirmação é ilustrada através do caso de um homem homossexual que dividiu a cama com seu irmão desde a infância até a adolescência. A análise da ligação transferencial do paciente, que repetidamente dormia no divã, gradualmente revelou o impacto psíquico de sua superestimulação diária: a criação de um mundo interno atormentado por desejos.

Alguns resumos trataram da transferência e contratransferência erótica e erotizada que podem se desenvolver no decorrer da análise em que pacientes ou terapeutas homossexuais estão envolvidos, assim como em outros tipos de paciente. Rosiello (2003) discute questões específicas da transferência e contratransferência homoeróticas que surgem quando paciente e analista são mulheres. A autora apresenta material clínico sobre a transferência erótica de três pacientes em tratamento psicanalítico: uma bissexual, outra heterossexual e a terceira lésbica. O foco do artigo é a contratransferência erótica, pois é em seu campo que a transferência erótica sempre emperra ou é eliminada. Ruderman (1992) também discute a natureza da contratransferência identificada em mulheres psicanalistas tratando de pacientes femininas e a idéia de que temas compartilhados e questões na interação da transferência e contratransferência podem resultar em experiências de reparação e crescimento para ambas as envolvidas.

Quanto a esta questão da influência que o gênero dos envolvidos exerce no tratamento, Lester (1985) discute a transferência erotizada e afirma que é quase ausente o estudo de pacientes masculinos que desenvolvem uma transferência erotizada em relação às suas analistas. A expressão dos impulsos eróticos do paciente para a analista pode ser inibida pela fantasia esmagadora da mãe pré-edipiana. Em contraste, esse tipo de sentimento erótico é livremente expresso pela paciente feminina. Gornick (1994) examina os mecanismos de relação entre determinantes internos e externos da transferência em situações terapêuticas envolvendo uma terapeuta e um paciente do sexo masculino. A maioria das terapeutas entrevistadas relatou a predominância de transferência materna, mas também descreveram a presença de transferência erótica. Altman (1995), contudo, afirma que são as analistas que podem ser menos prontas do que os analistas para relatar a transferência erotizada, talvez devido à pressão social vinda da natureza das fantasias e questões confidenciais. Terapeutas homens tratando pacientes mulheres podem privilegiar a sexualidade dos desejos transferenciais e analistas mulheres tratando de homens podem acentuar os desejos de cuidados e fusão. Schaverien (1996) afirma que na literatura sobre transferência e contratransferência eróticas entre a mulher analista e o paciente homem, considera-se menos provável que mulheres analistas atuem a sexualidade com seus pacientes do que os analistas homens. Geralmente afirma-se que pacientes do sexo masculino não estabelecem transferências eróticas e analistas do sexo feminino não estabelecem contratransferências eróticas com seus pacientes. Porém o autor discorda de tal visão. Notman & Nadelson (2004), como outros autores pesquisados, afirmam que o gênero influencia a psicanálise e a psicoterapia de diferentes formas e discutem o assunto com referência à terapeuta e analista mulher. A escolha da terapeuta é influenciada por idéias realistas, transferenciais e estereotipadas como: desejos de um modelo, fantasias inconscientes de uma mãe melhor e idéias de que as mulheres são mais cuidadoras. As manifestações transferenciais e contratransferenciais dizem respeito a variações na transferência erótica e erotizada, transferência materna e paterna e contratransferência erótica paterna. Algumas limitações do tratamento realizado entre pessoas de gêneros diferentes são indicadas.

Eber (1990) afirma que a transferência erotizada, pensada como um produto de pacientes borderline, surge num contexto intersubjetivo específico envolvendo paciente e analista, de modo que ambos podem funcionar como self-objeto um do outro, de modo que a situação psicanalítica pode ser erotizada por um ou ambos os participantes. Kavaler-Adler (1992) afirma que a transferência erótica aparece nos casos em que analistas mulheres tratam homens e que a transferência erótica é, primeiramente, um fenômeno de relação objetal, em vez de meramente narcísico, como a Psicologia do Self afirma. Em sua forma completa, ela expressaria uma combinação de desejos genitais pelo outro, combinada com desejos por ternura e amor.

Bernardez (1994) descreve o uso da transferência erotizada como uma ferramenta para reconstruir o trauma sexual infantil através do material do paciente e da correspondente contratransferência do terapeuta. Queen (2004) examina, de um ponto de vista kohutiano, o papel da transferência e da contratransferência eróticas encontradas na relação psicanalítica no desenvolvimento do self. A hipótese é a de que, a partir do exame da transferência e da contratransferência eróticas na relação terapêutica, pode-se conseguir um vislumbre acerca do desenvolvimento do self, particularmente no que diz respeito à formação de um self subjetivo com capacidade para o desejo relacional. Para os dois últimos autores a transferência erótica pode ser um elemento positivo para o processo de tratamento.

Os resumos encontrados consideram que a interpretação dos elementos sexuais no discurso do analisando mobilizam elementos sexuais na própria identidade do analista, o que parece ser evidente, de modo que se fala também em contratransferência erótica. Isso desafia a crença de que sempre que sentimentos eróticos emergem no espaço psicanalítico, o analista assume o papel do pai ou mãe edípicos, pois a sexualidade adulta pós-edípica também surge na relação entre os dois envolvidos. Além disso, existem divergências quanto ao papel da transferência erótica, que para alguns autores está repleta de agressão e ódio e é prejudicial ao tratamento, e para outros é positiva, se for manejada adequadamente.

Medicação vista como "facilitadora" da transferência

O problema da transferência relacionada à administração de medicamentos apareceu poucas vezes, porém nos pareceu interessante alocá-la em uma categoria própria. Bychowski (1937) mostra que a mudança mais significante numa personalidade esquizofrênica após um choque de insulina é o aumento do grau de transferência de que o paciente é capaz. Isso leva, segundo o autor, a possíveis resoluções catárticas, se o paciente for cuidadosamente dirigido e a transferência constantemente fortalecida. Feinsilver (1983) apresenta o caso de um paciente esquizofrênico, atendido em ambulatório, admitido após tentar suicídio, cuja psicoterapia se encontrava num impasse. A administração da medicação (Stelazine) supostamente levou a uma elaboração da psicose de transferência e à emergência de uma aliança e disposição para refletir. Um outro caso é o apresentado por Wylie & Wylie (1987), no qual uma mulher de 39 anos parecia adequada para o tratamento psicanalítico, mas permanecia incapaz de desenvolver uma transferência analisável. Descobriu-se mais tarde que a paciente sofria de uma depressão atípica, ligada a uma anormalidade neuroquímica. A análise se modificou após a administração de Phenelzina durante dez meses. Tais mudanças não só na análise, mas também na vida privada da paciente, apóiam a hipótese de que a vulnerabilidade afetiva da paciente havia inibido sua habilidade para estabelecer a transferência. Isso traz à tona a questão de que se a transferência ocorre espontaneamente durante o tratamento, ou fora dele, ou se ela deve ser estimulada e facilitada por meio de alguns recursos. Vários problemas aí surgem para discussão, tais como aqueles atinentes a quem administrou o recurso; se assim fazendo não teria vindo a ocupar indevidamente o lugar do suposto saber. Mas, é claro que não podemos rejeitar nenhum recurso simplesmente em nome de uma ortodoxia. ..

Teorias

Dependendo do ponto de vista teórico explicativo, a transferência pode ser considerada como produto de identificações projetivas ou como fenômeno transicional ou, por vezes, como self-objetal. Ela pode também ser diferenciada da aliança terapêutica ou, mesmo, identificada com essa ou, ainda, comparada ao que ocorre no Zen-Budismo, mas, seja como for, essa variedade não impede que ela seja sempre vista como um meio para a cura. Steiner (1988), ao discutir a transferência a partir de um ângulo kleiniano, afirma que os pacientes usam seus analistas para atuar conflitos internos e ansiedades através da transferência, projetando partes de si e de seus objetos internos no analista. De Paola (1989), também baseando seus argumentos em M. Klein, enfatiza os conceitos de identificação projetiva e transferência psicótica na interação analítica com pacientes psicóticos. Ainda tomando como referência a teoria kleiniana, Cycon (1996) afirma que, na análise, os objetos internalizados do paciente são transferidos para o analista e influenciam suas reações. Waska (1999) afirma que o processo de identificação projetiva é o fator central da transferência na técnica kleiniana.

Outros autores discutem a relação da transferência com o fenômeno transicional. Downey (1978), por exemplo, diz-nos que o fenômeno transicional é revivido na transferência, enquanto que para Murray (1974) o terapeuta torna-se o próprio objeto transicional para o paciente, e serviria como uma defesa contra a ansiedade. Para Treurniet (1987), do mesmo modo, o processo de neurose de transferência possui todas as qualidades de um fenômeno transicional, pois ambos são uma regressão a serviço do ego. Tratando, ainda, de outro ponto também presente nas teorias de Winnicott, temos Balsam (1984), que afirma que elementos de um "falso self" presentes na transferência podem levar o indivíduo a parecer um analisando perfeito, mas isso não passaria de uma defesa contra aspectos negativos e traumáticos de seu "verdadeiro self". Goldbaum (1992) descreve a sensação de inautenticidade que o analista tem ao tratar estes pacientes que apresentariam um "falso self", e afirma que isso teria origem na infância, quando, por exemplo, uma mãe, que não é "suficientemente" boa, forçaria a criança a encobrir algo que ela sabe que trará ansiedade e desprazer. Merbaum (1999) afirma que a preocupação materna primária, conceito de Winnicott, pode ser considerada análoga à transferência materno-infantil narcísica.

Kernberg (1988) fala sobre a técnica psicanalítica quando derivada da Psicologia do Ego ou da Teoria das Relações Objetais. Descreve como o foco nas relações objetais dominantes, na transferência, modifica os critérios econômicos, dinâmicos e estruturais para interpretação. O mesmo autor afirma, em artigo de 1990, que procura dar ênfase às relações objetais internalizadas, mais do que ao tema do impulso e da defesa, e que espera que as associações livres do paciente levem à emergência, na transferência, destas relações, que ressurgem nas interações atuais entre paciente e analista. Trata-se, pois, de uma espécie de mescla da teoria das relações objetais e da Psicologia do ego, com uma forte tendência para a primeira. Simo (2000) afirma que quando a capacidade dos objetos internos do indivíduo está prejudicada, somente um objeto externo, representado pelo analista, pode restaurar transferencialmente a força de reparação destes objetos internos.

Encontramos ainda questões acerca da relação entre terapeuta e paciente, tanto transferencial quanto "real", que a maioria dos autores separa, embora alguns englobem sob o título de transferência qualquer tipo de relação entre terapeuta e paciente. Adler (1980) afirma que, para pacientes "primitivos", como borderline ou narcísicos, as qualidades reais ou objetivas do analista são percebidas após as transferências self-objetais haverem sido estabelecidas, e a aliança terapêutica madura deriva da resolução dessas transferências self-objetais. O autor considera ainda que a aliança terapêutica é bastante tênue em pacientes "primitivos" e se desenvolve lentamente em neuróticos. Mello (1980) afirma que a relação entre psicanalista e paciente pode ser pensada como um triângulo formado pelo paciente, suas memórias e emoções e o analista com sua perspectiva externa. O paciente pode, ao mesmo tempo, dirigir-se ao analista como uma pessoa "real" e, na relação transferencial, como um objeto amado. Paolino (1982) diz que a relação entre analista e paciente ocorre em quatro dimensões - neurose de transferência, aliança terapêutica, aliança narcísica e relação real – e que cada uma delas deve ser reconhecida e utilizada tanto pelo analista como pelo paciente para que o tratamento seja bem sucedido. Porém, Evans (1976) conclui que transferência e aliança terapêutica não podem ser facilmente diferenciadas a não ser que o paciente esteja pronto para alcançar uma imagem madura e realista de si e do analista. Numa ampliação do conceito, tratando até mesmo de relações fora da terapia, Stunkard (1951) afirma que a relação que ocorre no tratamento é igual à relação entre mestre e discípulo no Zen-Budismo.

Percebemos uma presença marcante da Psicologia do Self, e um autor bastante citado nos resumos de artigos foi Heiz Kohut, de modo que conceitos como transferência especular, transferência idealizada e transferência self-objetal aparecem repetidas vezes. Na Psicologia do Self, a transferência especular e as expectativas diante de uma imago parental idealizada oferecem um lugar para a transferência não apenas como uma repetição do passado, mas sim a repetição de uma necessidade de desenvolvimento do self que não teria sido atendida. Kohut (1988) afirma que há duas funções psicológicas básicas na infância que, se falharem, não permitem um desenvolvimento saudável. Estas são funções de self-objeto dos pais como espelho para o sadio exibicionismo da criança e como imagens idealizadas. Tais funções e suas possíveis falhas podem retornar durante a transferência.

Mantendo a sua origemPode-se perceber, enfim, que a transferência, apesar das variações que ocorrem de uma linha psicanalítica para outra ou dentro de uma mesma linha, ainda é considerada o campo que possibilita o trabalho terapêutico ou analítico, e, de maneira geral, considera-se que é na transferência e na neurose de transferência que o passado do paciente se torna presente. Este passado pode estar tanto ligado aos conflitos edipianos quanto a conflitos mais primitivos, ou podem ser memórias de experiências positivas com figuras importantes do passado que são deslocadas para o analista, como afirma Pfeffer (1980).

Vimos ainda que alguns autores consideram que a transferência não ocorre espontaneamente no tratamento, mas pode ser facilitada tanto pelo próprio ambiente analítico, que promove a regressão, ou por meios farmacológicos.

O tema que foi mais recorrente no material analisado foi o da sexualidade e transferência erótica e erotizada. Talvez isso tenha ocorrido devido ao fato de que a teoria psicanalítica valoriza este tema e também pelo fato de termos feito desta uma categoria bastante ampla. Este tema apareceu em todas as épocas, porém tornou-se mais predominante a partir do final dos anos 80. Devido à grande quantidade de material, não pudemos colocar aqui todos os temas encontrados na pesquisa, ou mesmo descrever detalhadamente os temas estabelecidos. Tentamos, desta forma, buscar resumos que possuíssem semelhanças dentro de um mesmo tema, pois se nos propuséssemos a tratar das diferenças entre eles, o trabalho se tornaria muito extenso.

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Revista de Psicoanálisis y Cultura
Número 24 - Diciembre 2007
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