Acheronta  - Revista de Psicoanálisis y Cultura
Inscrições da Psicanálise na Cultura Brasileira: modelos de tratamento e modos de subjetivação
Christian Ingo Lenz Dunker

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1. Aspectos da História da Psicanálise no Brasil

A trajetória da Psicanálise no Brasil começa nos anos 20. Este período pode ser caracterizado por formas múltiplas de modernização: industrialização, urbanização e crescimento de camadas médias na sociedade. Neste contexto a psicanálise é recebida essencialmente como uma antropologia capaz de dissolver certos problemas ideológicos que dominam a arena intelectual da época.

De um lado podemos situar os herdeiros ou partidários declarados da política do "branqueamento" (Schwarcz, 1995). Estes reivindicavam que o Brasil somente seria um país viável se pudesse conter a degeneração de sua população em uma população negra. Eram seriamente inspirados no positivismo social de Comte. Sua presença, na cultura brasileira, pode ser demonstrada inclusive pelo lema inscrito em nossa bandeira: "ordem e progresso".

Em oposição a esta tradição temos a perspectiva que reivindica o Brasil como uma terra de mistura de raças. Esta posição evolui para o chamado "movimento antropofágico. A idéia central, presente em alguns animadores da Semana de Arte Moderna de 1922, como Oswald de Andrade, é que a cultura brasileira é uma cultura, que come outras culturas. Produz sua própria forma de humano, agora transmutada por uma incorporação canibalesca".

A congruência desta última posição com a assimilação de psicanálise depende do fato que esta forneceria uma forma universal da subjetividade humana, não centrada na raça, nos aspectos visíveis e públicos do ser, mas em processos internos, invisíveis mas universais. Isto fica parcialmente atestado se examinamos as primeiras produções em psicanálise no Brasil. A ênfase está na teoria geral do simbolismo ou em aplicações ao campo da estética, virtualmente distantes do ponto de vista clínico.

Portanto, além de um certo alinhamento progressista a psicanálise contribui para o próprio deslocamento do problema do âmbito antropológico para o psicológico. Isso se mostra convergente com o processo de individualização que atravessa a sociedade da época.

Há ainda um terceiro aspecto a considerar. Entre os precursores da psicanálise no Brasil encontramos médicos que trabalharam ativamente na construção de nosso sistema psiquiátrico asilar: Juliano Moreira, e Franco da Rocha, por exemplo (Mokrej, 1995). Eles estão erguendo um dos maiores parques manicomiais da América Latina. Ainda hoje temos cidades inteiras construídas no sentido foucaultino da "grande internação", do século de XVII europeu. Uma combinação de criminalidade, miséria e loucura conjugada no mesmo lugar. Neste cenário a psicanálise aparece como um substrato ideológico no contexto autonomização da psiquiatria brasileira.

A assimilação disciplinar da psicanálise, atestada pela sua associação posterior ao "movimento higienista", combina-se portanto com uma assimilação liberal, atestada pela sua associação ás vanguardas intelectuais e artísticas. Esta dupla filiação estende-se até à década de 50. Por um lado a serviço do projeto desenvolvimentista, a psicanálise era um útil instrumento ideológico para subsidiar a política de distribuição de saúde mental, educação e progresso, assim como servia para os que viam com distanciamento e crítica os efeitos assistencialistas e patriarcalistas de tal proposta.

Mas até meados da década de cinqüenta um fato interessante torna enigmática a disseminação de psicanálise. Havia uma aliança com práticas e discursos educacionais e psiquiátricas, uma presença relativa na cultura, mas, paradoxalmente não havia psicanalistas no país.

2. A Assimilação Social de Psicanálise

Este retrato começa lentamente a mudar nos anos sessenta. Os primeiros analistas vieram para o Brasil, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, no pós-guerra. Começa o processo de implantação de instituições psicanalíticas. A presença na universidade cresce. Quando a psicologia é estabelecida como uma prática independente, com seus próprios departamentos e faculdades, a psicanálise constitui uma das forças mais importantes neste processo. Isso constitui uma diferença significativa diante de outros centros europeus e mesmo latino americanos, onde sabidamente o sistema universitário desenvolveu-se antes.

Neste momento a implantação social da psicanálise muda substancialmente. De sua associação com um pensamento de vanguarda, crítico e subversivo, ela passa ao caráter de uma atividade aristocrática, ligada a nomes de famílias tradicionais, herdeiros da aristocracia rural urbanizada. A perspectiva de ascensão social que ela parece prometer começa a nutrir o imaginário elitista que até hoje paira sobre sua prática.

Paralelamente a psicanálise passa ser incorporada por outro grupo social importante: os filhos da imigração. Neste período as grandes ondas de Italianos, espanhóis, alemães e japoneses se interromperam. No espírito de assimilação e mistura da cultura brasileira esta segunda e terceira geração de imigrantes está às voltas com a reconstrução de sua história e a sedimentação de sua identidade. Tarefa para a qual a psicanálise, tanto como dispositivo terapêutico, como projeto profissional, parecia ser um discurso atrativo.

O corporativismo psiquiátrico e o elitismo provinciano redundam na consolidação de um rígido sistema de formação nas mãos dos analistas didatas. Aqui psicanálise é claramente admitida no círculo de ideologia compatível com nossa forma tradicional de organizar o poder. Em outras palavras: debilidade de dispositivos públicos de regulamentação, hegemonia das alianças familiares, administração patriarcal, direta e de fidelidade bilateral.

A forma clássica do individualismo, com uma distinção clara entre o espaço público e o espaço privado, não se aplica à subjetividade brasileira sem algumas ressalvas. Em outras palavras, nós sentimos uma desconfiança clara e sistemática frente a tudo que nos apareça como um ideal coletivo, público e independente de interesses pessoais ou privados. As mudanças na política, justiça, polícia ou educação são interpretadas ambiguamente: como um sinal de prosperidade e como indicativo de uma nova máscara para a forma tradicional de opressão.

Neste contexto, a psicanálise soa compatível em muitos sentidos. Seu sistema de legitimidade é baseado na genealogia. Um analista necessariamente fez sua própria análise com outro analista, e assim por diante até Freud, o pai de fundador. Seu dispositivo técnico, baseado na transferência, pode, infelizmente, ser usado como meio de perpetuar submissão e dependência. Sua teoria pode ser lida como abordando conflitos que, nascidos no espaço familiar, explicariam e reduzem as contradições da arena pública. A psicanálise além de tudo traz consigo, uma parte de um "estilo de vida europeu". Este é um sinal de modernidade e proximidade com o poder central, em um país que se sente na periferia do mundo. Esta associação da psicanálise a um estilo de vida nos ajuda a compreender sua imensa popularização, no discurso do senso comum. Como diversos autores já apontaram a psicanálise incorporou-se à cultura brasileira de forma muito mais forte e pregnante do que em centros onde ela é historicamente muito mais antiga como Inglaterra ou Alemanha.

Por outro lado isso nos faz entender por que, em que pese tal disseminação, o Brasil não tenha produzido, até bem pouco tempo, sua própria tradição de debate teórico no campo da psicanálise. Nós importamos idéias e as usamos "fora do lugar", como apontou Schwartz (1989).

3. A Tradição Inglesa

Isso nos traz para um fato curioso. Apesar da herança francesa de nosso sistema universitário, da influência americana em nosso contexto econômico e do perfil germânico de nossos pioneiros psicanalistas, a primeira psicanálise a prosperar no Brasil foi à britânica. Klein e Bion, que faz conferências no Brasil nos anos setenta, são nomes de peso na história da psicanálise no Brasil. Diversos temas, enfatizados por estes autores, são congruentes com uma perspectiva liberal, melhor adaptada às transformações sociais verificadas na segunda metade do século XX (Roudinesco, 2000, p.135). A valorização do papel materno, da subjetividade da criança e o cenário de confusão, angústia e ambigüidade destrutiva, que caracterizariam a cena primitiva da subjetividade, permitem articular o essencialismo do passado, característico da esfera da pessoa, a sua resolução pela instauração de uma mediação e separação adequada, entre a esfera pública e a esfera privada. O infantil, ou pré-edipiano, surge assim em associação ao traumático, ao indiscriminado e à pura intensidade sem mediação. Daí a primazia, no plano da técnica, de noções como as de contrato, setting e neutralidade analítica, todas elas, suportes para a atividade crucial de discriminação, separação e simbolização. A abordagem da interpretação e da transferência, centrada em um processo tradutivo, e o horizonte de integração entre os maus e bons objetos (posição depressiva), nos informam ainda sobre a confiança depositada na proporcionalidade e reconciliação possível entre o mundo interno e o mundo externo.

Mas se a psicanálise inglesa mostra-se sensível aos problemas derivados da crise da dimensão da pessoa sua absorção em uma sociedade com uma frágil e incipiente tradição liberal, como a do Brasil dos anos 60, não deixou de representar um problema. Desde o período republicano até o desenvolvimentismo dos anos 70, passando pelo populismo da era Vargas, o país acostumou-se a aliar o discurso liberal a uma prática disciplinar. Neste sentido o declínio do poder simbólico e imaginário do pai, se fez sentir de modo mais lento e preservando antigos dispositivos no Brasil. A fraca coesão de movimentos baseados em minorias organizadas: mulheres, afro-descendentes ou homossexuais, por exemplo, e a fragilidade da coesão ideológica na formação e ação dos partidos políticos, atesta a tardia consolidação da sociedade civil brasileira e o estatuto instável de suas instituições. Gianetti (1994) mostrou como historicamente as idéias econômicas de extração liberal, acabaram, se traduzindo, no Brasil, na construção e sedimentação de um sistema que alimenta vícios públicos em prol de benefícios privados. Da corrupção endêmica ao clientelismo e a cartelização há uma desconfiança quanto ao caráter realmente público da esfera pública. Um traço característico da incorporação de projetos liberais no Brasil.

Ora, não nos parece ter sido outro o caminho tomado na entrada no pensamento psicanalítico liberal de extração inglesa. Caminho que leva à reação lacaniana ocorrida no final dos anos 70, mas que já se indicara na saída da psicanálise oficial dos dispositivos universitários, gerando como subproduto à "psicoterapia de base psicanalítica". Como uma mercadoria preciosa era necessário restringir-lhe o acesso para manter seu valor. Restringir sua transmissão, ao acentuar o valor da experiência pessoalizada. Bloquear seus meios de contestação e transformação pública pelo enfraquecimento do papel ocupado pela teoria. Estabelecer minuciosos dispositivos burocráticos para garantir a legitimidade da prática e da filiação institucional. Enfim, um processo que reproduz a servidão que procura, por outro lado criticar.

Mas a influência inglesa veio também indiretamente da Argentina. A psicanálise argentina traz uma consciência mais clara sobre colonização e é historicamente associada a uma influência crítica. Aberastury, Pichon Rivière e Bleger e seus discípulos emigrados nos mostram como a tradição britânica pôde ser usada também como uma resistência a situações culturais opressivas. Sua influência, decisiva para a reentrada da psicanálise nas instituições de saúde mental, deve muito ao caráter de contestação política que motivou vários psicanalistas argentinos a saírem do seu país de origem, dominado pela ditadura militar. Ainda nos anos setenta um problema similar foi enfrentado na psicanálise argentina. O acirramento de tais contradições levou vários psicanalistas à composição do grupo Plataforma. Este não foi o único movimento de crítica organizada a disciplinarização da psicanálise nos anos 70, mas certamente nos interessa mais de perto pela presença direta de alguns remanescentes, ou das idéias por eles inspiradas, no cenário brasileiro. A defesa do pluralismo teórico, a aproximação com o trabalho em instituições e a crítica do corporativismo marcam a disseminação de tais idéias. Trata-se aqui da valorização de outro aspecto da subjetivação liberal, mais advertida dos impasses e fracassos que sua promessa carrega, mais próximo, por exemplo de Toqueville do que de Weber.

Mas a tradição britânica, de maneira geral, significa, no Brasil, uma perspectiva muito rígida e conservadora. Leva, inicialmente, a face da "sociedade" no duplo sentido. Sociedade significa, a forma institucional, jurídica e cultural que organiza uma comunidade, mas "sociedade" significa, em um particular sentido metonímico, o pequeno grupo, descendente da burguesia rural ou urbana, que parece fazer as regras do país.

No princípio dos anos setenta esta implantação causa a expulsão dos analistas, ligados à Associação Psicanalítica Internacional, da USP, onde eles estabelecem o modelo clínico em uso ainda hoje. A expulsão, organizada por estudantes liberais ligados ao comportamentalismo e ao ideário científico em Psicologia, é um sinal de como a psicanálise podia ser identificada com o discurso interno de autocolonização. Em outras palavras a colonização que permanece viva e atuante em um Estado formalmente independente.

O episódio dá a nós um retrato de como um discurso liberal, baseado na subjetividade individualizada, como a psicanálise britânica original, podia ser incorporado como um movimento disciplinar, quando se estabelece em uma cultura com uma tradição liberal incipiente.

4. Modos de Subjetivação e Complexos Discursivos

Esta situação produz uma incorporação particular do que Parker (1997) chamou de complexos discursivos da modernidade em psicanálise. Eles estão largamente presentes na representação popular da psicanálise e constituem eixos para a interpretação, nomeação e apresentação do sofrimento psíquico. Constituem, por assim dizer um vocabulário e uma gramática, coletivamente compartilhados, capazes de dar sustentação, localização e legitimidade para os sintomas, no sentido psicanalítico do termo. Estes complexos discursivos formam, por assim dizer, um saber que posiciona e torna possível a procura de um psicanalista. Prescrevem o que se pode, o que se deve falar nesta situação e quando se deve recorrer a ela, bem como o que se pode dela esperar.

Transferência, trauma e intelectualização, constituiriam assim arestas do imaginário cultural no qual a psicanálise se instala no mundo europeu e anglo-saxônico em particular. Não estamos falando dos conceitos à que tais termos remetem, mas a uma certa forma de saber que atravessa a formação de subjetividades compatíveis com a psicanálise. A questão então é saber se tais complexos discursivos são constituem bons parâmetros para pensar a difusão da psicanálise no Brasil, dado seu caráter particular que já indicamos anteriormente.

Um elemento a levar em conta, na apreensão de complexos discursivos é sua capacidade para instalar-se como interpretantes para contradições sociais e para os modos de subjetivação hegemônicos em um determinado estado social

Pretendo sustentar que uma parte da discrepância e deriva teórica, que se verifica no uso destes três conceitos, dentro de tradições psicanalíticas, depende do modo como estes são interpretados, diante de diferentes conjunturas, que caracterizam os modos de subjetivação.

Tais conjunturas, que constituem o espaço psicológico da modernidade, especialmente a partir do século XIX, se distribuem a partir de três projetos fundamentais, retomando aqui a tese de Figueiredo (1994). Brevemente podemos nomear tais projetos da seguinte maneira: liberalismo, romantismo e regime disciplinar. Eles podem fazer alianças ou produzir antagonismos, apresentando-se normalmente em combinação. Mas, cada um deles, se fizermos uma separação artificial, contém sua própria tecnologia para configurar e gerir subjetividades.

O liberalismo produz sujeitos, o romantismo produz pessoas e o regime disciplinar produz indivíduos. Faço aqui uma associação entre estas três tradições, formadoras da sociedade ocidental moderna, com modos específicos de subjetivação no Brasil, descritos por Figueiredo (1995). Gostaria de introduzir estas tecnologias, dando um feitio e algumas exemplificações que se diferenciam um pouco das propostas por Figueiredo, uma vez que pretendo fazê-las convergir especificamente para a interpretação da inscrição cultural da psicanálise no Brasil.

(1) Na esfera da pessoa traduz-se a dimensão de subjetivação própria ao mundo do compromisso familiar, das relações diretas, das fidelidades e proteções que Gilberto Freire (1989, p. 282) isolou tão bem ao falar do patriarcalismo nacional. Na esfera da pessoa nós encontramos a centralidade dos laços relativos ao universo familiar. Os temas românticos do retorno às origens, da natureza, da família, da sociedade orgânica e da experiência autêntica, acabam por se amparar na revalorização da dimensão da pessoa. A pessoa implica assim num sistema de identidades posicionais, de lenta modificação mas ao mesmo tempo garantia de reciprocidade e clientelismo que verificamos em diferentes extratos de nossa sociedade. O malandro, é a figura tipo desse estilo de subjetivação. É nessa linha que Antonio Cândido (1981, p. 303) apontou "Memórias de um Sargento de Milícias" como romance fundamental na formação de nossa literatura e da relação desta com a dialética nacional. Pessoa é um termo do teatro mas também do direito. Talvez seja nessa linha que a dimensão privilegiada aqui seja a da relação com a lei, entendida como pacto convencional simbolicamente constituído. Lei, cujo caráter híbrido em sua implantação nacional revela compromisso entre vícios privados e benefícios públicos. Lei que em todas as fases de seu processo apresentaria contradições gritantes, quando analisada de um ponto de vista liberal ou mesmo crítico. Lei portanto suspeita, pela presença dos interesses que subvertem os contratos que ela torna possível. Aqui os atores reais do contrato sustentam a lei. Esta depende de uma relação não simétrica, onde a confiança é exposta às mudanças contingenciais do interesse dos atores. A narrativa típica associada com a pessoa é aquela que se organiza em torno do poder da experiência. Biografias, relatos pessoais, documentários e outras formações discursivas que tentam tornar concêntricos a enunciação e enunciado. Para a pessoa a esfera pública deve refletir e se submeter ao espaço privado, e não o oposto.

Aqui podemos ver a condição, em termos dos modos de subjetivação, para a disseminação da transferência como um complexo discursivo da psicanálise. A repetição do modelo familiar em autêntica confusão do espaço pública com o espaço privado seria a cena original da subjetividade.

(2) Na esfera do sujeito Figueiredo identifica a vertente de subjetivação eventualmente ligada ao ideário liberal e moderno de autofundação, transparência, e universalidade formal. Sujeito é uma expressão originária da filosofia e mais precisamente da epistemologia, isto é, aquilo que conhece e que para tanto precisa passar por um processo de purificação (o método), de ordenação (a técnica) e de auto-organização (a ordem). Somente após este trajeto podemos encontrar os atributos que de saída lhe são supostos: universalidade, identidade, transcendência e potência lingüística de comunicação total. A identidade psicológica, em face do sujeito é assim, uma identidade funcional, expurgada do que se poderia chamar de subjetividade mas carregada de autonomia. O sujeito, na cultura nacional, se expressa bem através do que Sérgio Buarque de Holanda (1995, p. 139) chamou de "o homem cordial". É aquele que segue regras porque se reconhece na sua confecção e que administra com sobriedade as tensões entre sua esfera privada e sua esfera pública, ou entre a casa e a rua, o que, em geral, a dimensão da pessoa confunde ou sobrepõe. O sujeito, neste sentido é sempre paratópico, isto é, sobrevoa a distância, administrando suas ações e se autocontrolando para isso. Paratópico porque está insistentemente em outro lugar, fora da cena. Como assinala Mainguenau (1992), a paratopia é um recurso literário que oferece uma posição distanciada de enunciação que permite à narrativa olhar a realidade com outros olhos. O errante solitário, o louco, o náufrago, o estrangeiro são exemplos típicos de personagens paratópicos. Neste sentido a melhor expressão literária do sujeito, na cultura brasileira, se mostra em "Memórias Póstumas de Braz Cubas", onde literalmente o narrador (sujeito) fala da posição de morto ao nos revelar os meandros de suas desventuras como pessoa. A incidência da lei para o sujeito não se faz pela via do contrato pessoalizado mas pela suposição de esta possui algum fundamento transcendente ou puramente formal. Assim a lei tornada paratópica possui características que são co-extensivas ao próprio sujeito.

Como nós podemos ver a intelectualização é um complexo discursivo estritamente ligado à dimensão do sujeito. A perspectiva de produzir uma meta narrativa privilegiada sob si mesmo sob forma de autoconhecimento torna-se então um projeto amparado por uma semântica segura e por uma gramática universal.

(3) Finalmente a dimensão do indivíduo, ou do mero indivíduo, como diz Figueiredo, se organiza em torno e em contraponto à noção de massa. O termo indivíduo remonta à química e à noção de elemento irredutível e de ocorrência regular e constante. Indivíduo é uma condição de razoável indiferenciação e conseqüentemente de igualdade ou uniformização. No indivíduo vigora uma identidade representacional, isto é, ele é o que ele representa em suas ações e atos. Sem nenhum privilégio ou distanciamento ele se entende como mais um que pode ser substituído, trocado ou valorizado como qualquer outro que desempenhe o mesmo papel. Se a pessoa é sempre autor e o sujeito é o suposto diretor da peça o indivíduo é mais bem retratado pela posição de mero ator. Ele representa mas não torna idiossincrático seu roteiro. Ele representa e faz o público saber que ele está representando. O indivíduo é anônimo e desfruta das vantagens do anonimato. Nelson Rodrigues, especialmente nas tragédias cariocas e nos contos suburbanos, retratou com agudeza o momento de sedimentação da cultura do indivíduo no Brasil da década de 60. A lei, na esfera do indivíduo, adquire a conotação de norma. Disciplina à qual todos devem se submeter, ela é impessoal mas não formal, pois se expressa em regras e regulamentos indissociáveis de dispositivos materiais e práticas de sustentação. . Na forma de narrativa tipicamente associada ao regime disciplinar e ao indivíduo predomina a estratégia de dissolver a enunciação no enunciado, tornando-o paradoxal, absurdo ou inlocalizável. Kafka era um mestre neste procedimento.

A experiência crítica que psicanálise introduz para lidar com esta face de modernidade é o trauma. Apesar das transformações este conceito tem na teoria freudiana, a atração social que esta noção ainda tem no senso comum está ligada a sua capacidade de isolar uma experiência crucial como fundando os desvios da subjetividade.

Pessoa, sujeito e indivíduo engendram formas de sofrimento subjetivo muito diferentes e por isso demandam tipos de tratamento igualmente diversos. Cada qual resolve a contradição engendrada por seus meios de subjetivação a partir de dispositivos diferentes. A pessoa procura o conselheiro, o amigo ou, na mais pura tradição da elaboração coletiva, lida com este sofrimento através do que Walter Benjamin (1996, p. 165) chamou de Erfahrung, i sto é integrando sua experiência a uma narrativa coletiva, oral e mítica.

O sujeito, ao contrário, demanda processos mais ou menos formais de regulação e estabilização de si mesmo. A história ao qual ele integra seu sofrimento é basicamente individual, ele demanda autoconhecimento para legitimar sua autonomia.

O indivíduo, por sua vez, procura solução para seu sofrimento na vivência, a Erlebnis de Benjamin (opus cit) ou ainda na técnica, que poderia ser aplicada indiferentemente. Sua demanda não é de autodomínio mas de autenticidade, não é de saber mas de bem estar. Do ponto de vista da resposta cultural a este sofrimento podemos supor que a farmacologia da felicidade se ajusta ao indivíduo assim como os manuais de auto-ajuda parecem dirigidos para o sujeito. As práticas religiosas e para-religiosas orientadas para a cura, por sua vez, atingem mais diretamente a esfera da pessoa.

5. Transferência e Personalismo Romântico

Como apontamos acima a cultura brasileira é marcada, historicamente, por um forte personalismo. A principal conseqüência disso é a extensão do estilo de vida familiar para a esfera pública. Como nos lembra um dito popular: "Para os amigos tudo, para os inimigos a lei".

Família não quer dizer apenas os laços de sangue e submissão natural mas também suas extensões para o universo inteiro de pessoas protegidas, aliadas e agregadas. As origens deste sistema foram largamente estudadas pelo pensamento sociológico brasileiro clássico.

Este sistema remonta as formas de relação desenvolvidas durante o período colonial, marcado pela escravidão . Nossos chefes rurais estabeleceram a prática do abuso sexual das mulheres escravas. Mas apesar da violência opressiva, representada por tal prática institucionalizada, os filhos destas relações foram inicialmente tolerados e gradualmente integrados na família. Isso fez com que alguns autores como Gilberto Freire aludissem ao Brasil como uma "democracia racial" e alimentasse o imaginário do Brasil como uma cultura sexualmente exótica e permissiva.

Esta situação sugere um caminho particular para lidar com o passado. Este acaba sendo organizado por uma conveniência aliada ao esquecimento. Por outro lado tudo passa a depender da confiança que temos em nossas relações pessoais no presente.

A transferência, neste contexto, será facilmente aceita como um complexo discursivo, especialmente se interpretamos no aqui e agora da situação analítica. Neste modo discursivo a realidade da relação, e a verdade que dela se depreende, pode facilmente ser suposta como construída arbitrariamente. A dimensão da pessoa inclui um modo peculiar de transferência do poder. Encontrar por traz desta relação de poder, e do analista que as encarna, as figuras do universo familiar, torna-se assim uma experiência deveras persuasiva.

Aqui podemos dar um exemplo. Durante o regime militar, entre 1964 e 1978, podemos ver uma imensa difusão da psicanálise no Brasil, especialmente entre as camadas médias. Em alguns períodos, fazer uma psicanálise fazia parte do estilo de vida da classe média-alta. Como Figueira (1981) afirma, em um estudo comparativo entre a Inglaterra e o Brasil, nos tornamos consumidores pesados de psicanálise. Para um país pobre é um fato curioso.

Mas nós temos que considerar certos aspectos. Durante este período o regime militar fecha ou reduz o incentivo para "artefatos intelectuais" perigosos como a Filosofia, a Sociologia e Ciência Política. Por outro lado aparece diretamente, na política educacional do país, apoio para uma disciplina aparentemente mais prática e necessária: a Psicologia.

Psicologia e Psicanálise, fornecem a resposta ideológica para a interpretação de certas "anomalias" sociais que pareciam tomar conta do país. Nos anos setenta a hegemonia do modo de subjetivação centrado na pessoa começa a ruir. As mulheres ingressam no universo d trabalho assalariado, a opressão sexual é posta em questão o país entra em uma crise econômica e social.

A retórica mobilizada para sustentar a resposta psicológica para esta mudança social pode ser localizada na teoria psicológica de desenvolvimento. Isto é particularmente convergente com o discurso economia oficial daquele tempo. O país precisa de desenvolvimento (para superar o subdesenvolvimento). Todos os esforços e sacrifícios se autorizam em nome disto. Esta aproximação foi indicada por Burman (1999), que por intermédio de uma fina análise comparativa entre as duas formas discursivas sobre o desenvolvimento acusou a cumplicidade retórica, semântica e imagética entre ambos. A estratégia da retórica desenvolvimentista consiste em naturalizar a história no âmbito da pessoa e torna-la isomórfica à história social. Esta segunda natureza pode então ser comparada a um modelo de desenvolvimento. Aquele que o analista, menos avisado pode ter em mente durante a transferência. Isso produz um código de interpretação. Os ângulos deste código, no caso da transferência, como complexo discursivo são formados pelas figuras familiares: o pai, a mãe e os irmãos em especial.

Um estudo paradigmático, desenvolvido pelo exército, durante o regime militar, pode nos ajudar a compreender como a transferência e o desenvolvimento tomaram um lugar privilegiado. Trata-se de um estudo psicológico (Coimbra, 1994), para responder por que uma pessoa entra em um estilo de vida subversivo. O que causa este "problema" considerado na esfera do "desajustamento psicológico" ? A resposta: tais indivíduos provêm de "famílias desestruturadas". Pais separados em associação com uma infância anormal, produzem assim uma rebeldia ... deslocada. A cura: psicanálise, onde eles poderiam restabelecer a velha e boa ordem.

O contexto é bem parecido com a que podemos notar no Dora (Freud, 1905). "Ponha-a nos eixos e deixe-me continuar em meu estilo de vida", diria o pai da Dora. A compreensão posterior de Freud sobre o fracasso do tratamento indica a complexidade da questão, ele não prestara a devida atenção à transferência.

6. Trauma e Individualismo Disciplinar

Mas os anos setenta no Brasil são marcados por outras modificações sociais. O movimento migratório para as grandes cidades aumenta. A industrialização dos anos cinqüenta começa a se desdobrar. Uma classe média baixa está consolidada e crescente no país. Sob os auspícios do desenvolvimento, da modernidade e da nova urbanização o país entra definitivamente na esfera da cultura de massa. A antiga configuração familiar sofre algumas mudanças. Como vimos anteriormente há um grupo crescente de indivíduos anônimos, que perdem parcialmente sua identidade cultural, pela migração e pela entrada em um universo fabril massificante. Trata-se de pessoas, que repentinamente são tomadas sob uma cultura disciplinar e individualizante. Deste modo, pessoas serão identificadas com sua função no sistema, não mais com suas raízes familiares.

Esta perda de referência simbólica é assimilada no quadro do complexo discursivo dominado pela noção de trauma. A noção de trauma fornece um modelo onde se trata de encontrar algo no passado, não no presente, que torna esta perda de referência compreensível. Por outro lado o trauma, individualiza a história. Isso constitui uma resposta para aqueles que não se reconhecem na complexidade de uma cultura altamente psicologizada.

Mas este poder de singularização, que aparece no complexo discursivo representado pelo trauma, prescreve o modo através do qual ele pode ser dissolvido: outra experiência crucial. Forma-se assim as condições para o controle desta experiência crucial por meio de uma "pura técnica". Esta aparece muito bem representada na forma rígida e disciplinar que toma conta das Associações Psicanalíticas e inspira indiretamente a formação de novos analistas. Outra face deste processo se mostra na concentração de estudos teóricos centrados na técnica psicanalítica, que caracterizam a produção psicanalítica brasileira deste período.

Um exemplo da capacidade de combinação entre trauma e individualismo tecnicista aparece no conhecido caso Amilcar "Lobo" (Kupermann, 1995). Tratava-se de um aspirante a psicanalista, médico, ao mesmo tempo em que realiza sua formação em psicanálise, trabalha no aparato militar de repressão. Sua função precisa era para sustentar as "pessoas torturadas acordadas, durante sessões de tortura. Eles, assim como no tratamento psicanalítico, deviam "continuar falando". A situação não é vivida sem conflito. O candidato pede ajuda para seu analista e para alguns companheiros da Instituição. Não recebe uma resposta direta, mas há uma indicação difusa de que podia se tratar de um problema analítico, um problema pessoal, a ser resolvido no contexto de transferência.

Seu próprio ponto de vista, nesta situação, é muito interessante. Ele argumenta, que se ele está a se comprometer com tal prática no presente, isso pode ser atribuído a algum trauma escondido, no passado e em seu interior. O argumento é bastante congruente com uma formação discursiva típica do individualismo, a saber, o raciocínio burocrático. Trata-se de um modo de responder a questões que interrogam diretamente o sujeito remetendo-as a um outro. "Não é minha responsabilidade, siga para o próximo balcão, que "alguém" se ocupará disto". O fato que este "outro-alguém", é o próprio sujeito não parece representar uma diferença significativa. O simples fato que se está relatando o ocorrido a seu "superior imediato", em transferência, é bastante eximir a implicação subjetiva.

Mas o caso tem raízes mais profundas. O analista de Amílcar Lobo fez sua própria análise com um dos dois primeiros analistas pioneiros no Brasil: Werner Kemper. Este está credenciado por sua formação no Instituto Psicanalítico de Berlim. Imigra para o Brasil depois da guerra. Após o incidente com Amílcar Lobo a opinião pública é informada que Kemper trabalhara em um centro conhecido pela sua colaboração com o nazismo, durante a segunda guerra. Assim podemos localizar uma linha de continuidade, da obediência e submissão sustentada pelo conhecimento do trauma à obediência cultivada em certas formações analíticas.

Segundo Kupperman (1995) o incidente ilustra como a transferência, e a formação psicanalítica, pode ser sustentada como uma reprodução de certas relações do poder, que configuram seu lugar social. Isto nos ajuda a entender por que, neste período, pacientes de psicanálise são predominantemente mulheres. O complexo discursivo do trauma tem como subproduto identificar o paciente indicado para a psicanálise com a fragilidade, a fraqueza de espírito e a falta de vontade para superar as próprias limitações. O indivíduo insatisfeito com sua própria condição de indivíduo. A identificação ideológica da mulher com este lugar parece um agente favorecedor para sua captura neste complexo discursivo.

7. Intelectualização e Sujeito Liberal

Este último exemplo, do psicanalista-torturador, expressa ainda um modo particular de lidar com o trauma. Sua operação depende da possibilidade de intelectualizar a própria subjetividade, de representá-la como um objeto para a consciência, objeto repleto de conteúdos e positividade.

No fim dos anos setenta podemos observar três formas de resistência crescentes dentro da cultura psicológica brasileira. O lacanismo, as práticas corporais de extração reichiana bioenergética ou psicodramática e a psicologia analítica junguiana tornam-se alternativas imediatas ao fechamento individualista e disciplinar da psicanálise oficial, doravante associada à ortodoxia. O corpo contra a palavra ... contra o espírito, assim se rearticula a reação liberal e romântica contra o individualismo.

Alguns fatores podem ajudar a compreender a penetração do pensamento de Lacan no Brasil. O aspecto liberal como este tende a considerar a questão da formação de analistas se combina com as objeções críticas contra a psicanálise do eu, de extração americana e fortemente centrada no individualismo. Tais objeções soam como uma perspectiva racional para desconstruir, internamente, a base de sustentação teórica da psicanálise disciplinar, apontando indiretamente seus compromissos ideológicos. O curioso é que as críticas de Lacan são dirigidas frontalmente à psicanálise do eu, uma tradição historicamente muito fraca na psicanálise brasileira. No entanto tais críticas são re-alocadas de modo a incluir a psicanálise inglesa. Outro traço da captação liberal do discurso lacaniano reside em sua defesa de um programa científico para a psicanálise. Programa expresso no entanto em uma forma poética combinada a uma retórica erudita.

Ciência em estreita vinculação como uma ética, não como uma tradição epistêmica objetivista, tal plataforma se coadunou muito bem aos anseios de liberdade e rigor próprios ao espaço liberal. Neste sentido Freud define-se, a si próprio, como um liberal na medida em que confia na "ciência" como capaz de oferecer uma visão de mundo Weltanshaung, compatível com a psicanálise.

A linguagem, conceito central na teoria de Lacan, configura um campo para a psicanálise onde a dicotomia entre o interno e o externo, é superada. A oposição simples entre o mundo interno e o mundo externo (realidade), que parecia traduzir claramente, a oposição e incomensurabilidade entre o espaço privado e o espaço público, no pensamento de Klein e Bion, fica assim subvertida em prol da distinção entre imaginário, simbólico e real.

No Brasil existe uma declaração popular para expressar o aspecto ilusivo do mundo público: "Para inglês ver". Trata-se de um modo caricato ou sabidamente falso de apresentar-se ou aludir a alguma ação pública. A expressão não quer dizer apenas enganar ou enganar o outro representando um papel. Ela contém ainda uma auto-ironia acerca do reconhecimento da artificialidade da situação. Tal expressão, assim como a particular forma de cordialidade do homem brasileiro, indicam o caráter complexo e dialético das relações entre o público e o privado no Brasil. A posição de Lacan, de fato parece mais congruente para tematizar esta complexidade. Poderíamos ainda interpretar a recente expansão do pensamento de Winnicott segundo premissa semelhante. A valorização da categoria de sujeito, no primeiro caso e de self (mais próximo da pessoa), no segundo, ilustram respectivamente a aparição de formas modificadas do liberalismo e do romantismo clássico.

O sujeito, considerado por Lacan, distancia-se do experiencialismo ligado ao complexo discursivo do trauma e do desenvolvimentismo de extração romântica. A subjetividade dividida, exilada de qualquer síntese possível, alia-se assim a uma ética que incorpora o fracasso do projeto liberal clássico, uma ética trágica. Por outro lado as objeções que se lhe costumam levantar constituem argumentos clássicos contra o liberalismo: intelectualização, perda da experiência e estereotipia na forma de apresentação pública.

Mas se a recepção inicial do discurso de inspiração lacaniana possui um veio crítico sua implantação não deixou de reproduzir o mal que visava combater. Sua crônica dificuldade em integrar-se à sociedade civil, pela fragilidade de suas instituições, o caráter, por vezes sectário, de apresentação de sua doutrina e a crescente disciplinarização, no plano da formação, tem mostrado como, a par de sua entrada nas universidades, a intelectualização liberal em que se apóia ainda não foi submetida a um movimento de crítica interna e sistemática. Tal movimento seria crucial para avaliar até que ponto ela resiste à sua incorporação por ideologias da pós-modernidade.

A partir da década de 80 a psicanálise adquire uma nova inscrição cultural no Brasil. Ela se afasta de uma aliança com as vanguardas, que caracteriza os primórdios de sua entrada no país. Por outro lado os dispositivos de controle, distribuição e legitimação de sua prática, que conferem um tom disciplinar à sua difusão, no pós-guerra, encontram-se seriamente contestados. Alguns movimentos merecem destaque neste processo.

A expansão de sua presença nas universidades, com relativo descentramento em relação à psicologia, acrescida de um forte impulso editorial, contribuiu para uma desterritorialização da teoria psicanalítica. Surge uma tradição tecnicamente mais refinada na análise do texto freudiana, empenhada na leitura reconstrutiva e conceitual da obra dos clássicos em psicanálise. Deste modo a hegemonia do saber teórico, antes localizada em contextos institucionais, profundamente dependentes da figura do autor ou da pessoa em posição de mestria, torna-se relativizada.

O crescimento e proliferação de associações formadoras de psicanalistas, grupos de trabalho e reuniões de estudo, mais ou menos informais, amplia o acesso ao estudo dos textos psicanalíticos, produzindo também uma rede de apoio às práticas de supervisão. O fenômeno das transferências cruzadas (Mezan, 1980), onde aspirantes à prática da psicanálise, pertencentes a um grupo, realizam suas próprias análises com um analista pertencente a outro grupo contribui para a exogenia e hibridização da formação. A formação passa a ultrapassar uma única filiação associativa.

A liberalização da formação traz consigo preocupações que giram em torno da legitimidade e da impostura. Preocupações antes parcialmente encobertas pela adesão a uma grande narrativa, que envolvia a formação psicanalítica, agora aparecem conjugadas a uma flexibilização do setting, da freqüência, do pagamento e de antigas constantes do contrato analítico, responsáveis pela garantia de sua uniformidade. Tal flexibilização responde a uma mudança no tipo de paciente que procura a psicanálise e o contexto onde esta se exerce, que deixa de ser unicamente o consultório.

A lenta mas contínua assimilação em instituições de saúde mental, mas também em práticas ligadas à educação, como a psicopedagogia, e a contextos hospitalares e jurídicos geram híbridos clínicos: "psicoterapia de base analítica", "escuta analítica", "referencial psicanalítico", são eufemismos que revelam a incerteza e o cuidado, às vezes temeroso, quanto à legitimidade da inscrição de tais práticas clínicas na esfera da psicanálise. Mas o fato crucial é que a emergência de tais práticas e sua discussão cada vez mais sistemática no âmbito das Associações Psicanalíticas revela um distanciamento em relação à posição de autoridade e soberania que antes caracterizava o assunto.

A aparição de um novo conjunto de autores de referência, contemporâneos ou não, é um outro aspecto desta abertura. Lacan, Winnicott, Ferenczy, os "franceses não lacanianos" (Green, Auglanier, Stein) passam a freqüentar as discussões teóricas que migram da referência central em um autor para a vinculação a uma tradição ou um grupo de autores, sob os quais se reconhece uma influência e um interesse. Sinal desta multiplicidade é também o incremento de produções claramente marcadas, senão pela originalidade, pela tentativa de produzi-la. Deixa de haver uma predominância completa de textos de sistematização, apresentação ou divulgação e encontramos esboços de um debate brasileiro sobre a psicanálise. Curiosamente isso se realiza em um momento onde o contato com outros centros importantes se generaliza e a experiência da análise realizada em outras culturas torna-se mais freqüente.

Mas se a prática, a formação e a teorização parecem reger-se pelo signo da multiplicidade observa-se, paralelamente uma tensão cada vez mais aguda com a psiquiatria de inspiração genético-farmacológica. Em que pese o caráter muitas vezes falacioso da comparação entre tais projetos clínicos, que traz à cena aspectos incomensuráveis, dadas certas diferenças epistemológicas e éticas, a tensão é verificada no plano social de produção da subjetividade. Dispositivos sociais de captura e localização do mal estar, na esfera de um determinado regime de saber são dependentes, em última instância da forma como respondem aos diferentes modos de subjetivação, em curso em um dado campo simbólico, que é a cultura. A psiquiatria genético-farmacológica não se reduz à regulação mecânica dos estados de humor. Ela está inserida em um dispositivo mais amplo regido pela ética da eficácia e da funcionalidade, profundamente antinômico com certos aspectos do projeto clínico proposto pela psicanálise.

De certa forma, a mudança crucial verificada na psicanálise brasileira, nas duas últimas décadas, não diz respeito às transformações institucionais, teóricas e formativas pelas quais esta passou, mas a uma transformação do discurso com a qual ela se depara na experiência de uma análise. Uma transformação nos analisantes talvez preceda e determine a modificação sofrida pelas concepções de tratamento

9. Modos de Subjetivação e Formas de Demanda

A entrada da psicanálise no universo institucional da saúde pública é antiga no Brasil. Após a primeira fase, marcada pela inclusão no aparato psiquiátrico-asilar, cabe lembrar ainda a iniciativa das "visitadoras" de saúde mental, na década de 60 em São Paulo e a Clínica Social Katrin Kemper (1972-1991), no Rio de Janeiro. A recente expansão das clínicas de inspiração psicanalítica em hospitais e no sistema jurídico assistencial é mais um indício de que o caráter estritamente "liberal", da prática ligada ao consultório particular, submeteu-se a certas concessões em território nacional.

Tendo em vista a associação histórica entre as instituições, especialmente às que se orientam para a saúde e educação, e a formação de uma cultura hegemonicamente dominada pela figura do indivíduo, em termos dos modos de subjetivação, podemos sugerir que a psicanálise sempre se desenvolveu à sombra do caráter tipicamente homogeneizador e administrado que tais instituições soem imprimir às relações. Assim, uma cultura com sérios problemas para submeter à esfera da pessoa à do indivíduo, tal como propõe uma face do projeto da modernidade, acaba por gerar soluções de compromisso e conflitos para os quais a psicanálise, enquanto teoria do conflito e da insubmissão à racionalidade instrumental, acaba por corresponder. Surgiu assim um falso problema: como adaptar a psicanálise às classes populares ? Durante algum tempo isso significou a conjugação de certas estratégias clínicas envolvendo grupos ou ainda um debate sobre a questão do pagamento. Como se o acesso de camadas mais populares à psicanálise dependesse da adequação desta às contingências das instituições onde esta se realizaria e não dos sujeitos a quem se destina. Freire Costa (1994) mostrou como o problema de fato reside na especificidade do discurso e na concepção do sofrimento psíquico que este veicula. A suposição de que os sujeitos em questão responderiam a um modo de subjetivação plenamente liberal mostrou-se contraproducente com a realidade discursiva sobre a qual se havia de lidar. A divisão entre a condição de indivíduo, usuário de instituições de saúde pública, e a pessoa, com seus enraizamentos comunitários e familiares, prescreve modos de apresentação do sofrimento psíquico muito particulares e formas de enunciação da demanda diversas do universo altamente psicologizado de onde provem os psicanalistas. Por exemplo, Carvalho (1995) estudando a procura por apoio médico psicológico em gestantes de um centro de saúde de uma região pobre no estado de São Paulo constatou que tal procura se orientava por um "desejo de serem mães modernas". A ruptura com uma tradição de nascimentos acompanhados por parteiras, realizados em casa e participados com a família não obedecia a uma demanda de funcionalidade, segurança ou eficácia mas a significantes como "atualizada", "moderna" e "nova".

No entanto, quanto mais nos aproximamos do discurso europeu "original", e seus dignatários institucionais psicanalíticos, mais distante ficamos desta contradição entre indivíduo e pessoa. Surge, no seu lugar, um deslocamento para a tensão entre pessoa e sujeito e uma prática dirigida às camadas médias, que de toda forma parecem fugir, quando possível, dos dispositivos públicos de atendimento. A situação cultural que melhor reflete esta inscrição da demanda de análise é o que podemos chamar de rupturas simbólicas. Trata-se de situações onde o sujeito provem direta ou indiretamente de um universo simbólico dominado pela figura da pessoa e que se vê lançado em outro universo onde deve responder como sujeito. Isso pode ocorrer pelo deslocamento geográfico de uma região rural para a cidade, ou de um centro menor para uma metrópole, mas também em sujeitos que atravessam um processo de ascensão social. Situação contrária, mas de igual teor, se verifica em pacientes que provém de universos culturais onde a figura do sujeito é hegemônica e que tem que se haver com uma cultura altamente pessoalizada. É o caso de famílias de imigrantes, mas também de certos extratos da antiga aristocracia brasileira. Como apontou Figueiredo (1996) a presença de estrangeiros e descendentes de estrangeiros entre os analisante e analistas brasileiros é um fato a destacar.

Mais recentemente uma nova prática tem alcançado a classe média. Prática representada pelo consumo crescente de psicotrópicos, pelo avanço midiático da psiquiatria biológica e pela demarcação, administração e controle extensivo dos modos de apresentação do sofrimento psíquico, do qual o DSM-IV é um exemplo. Sem nos determos nos meandros deste fenômeno é importante salientar como ele "individualiza" o mal estar psicológico, tornando-o homogêneo, constante e idêntico a si mesmo no tempo e no espaço. Em outras palavras ele perde sua ligação com uma história pessoal produzindo inversamente uma desimplicação do sujeito diante de seu sofrimento. Ele não precisa mais de uma trama narrativa singular para ser pensado, nem mesmo do reconhecimento do desejo particular que nele se articula ou de uma situação idiossincrática como a transferência para ser diagnosticado. Em outras palavras, o sofrimento subjetivo torna-se público, como tal disciplinarizado, acessível às técnicas de cura de massa, bem como a seus mecanismos próprios de financiamento e controle. Os transtornos do pânico, as depressões, as síndromes de La Tourrette bem como as fobias sociais e as diversas formas de drogadição são quadros que se impõe universalmente, independente do sujeito. Seu diagnóstico funciona como uma espécie de atestado de isenção, é algo exterior que determina e compele o sujeito a uma situação que se lhe impõe de fora, isto é desde sua natureza de organismo. Mas justamente para alcançarem tal estatuto devem isolar as particularidades, as diferenças, as disposições pessoais a este ou aquele traço. A herança genética substitui assim o tema das relações familiares, e suas heranças simbólicas, o "treinamento cognitivo" substitui a elaboração, a execução do protocolo terapêutico substitui a direção do tratamento.

Mas o uso da expressão "substitui" no parágrafo acima pode sugerir uma plena paridade entre os projetos clínicos da psicanálise e da psiquiatria contemporânea. Paridade que permitiria sua comparação em termos de eficácia, custo, rapidez e desempenho, todas elas expressões caras ao universo semântico da individualização disciplinar e instrumental. Esta paridade é discutível sob diversos aspectos, ético ou epistêmico por exemplo, no entanto ela representa sobretudo uma disparidade em termos dos modos de subjetivação envolvidos em cada caso. A clínica psiquiátrica é uma clínica realizada para e por indivíduos, a psicanálise, ao contrário, depende de uma crise na esfera da individualização e de uma tensão desta para com a esfera do sujeito ou da pessoa, para se instalar socialmente. Um exemplo das restrições a que o projeto clínico psiquiátrico está sujeito, deste ponto de vista, é o florescimento de uma vasta literatura autobiográfica em torno dos efeitos da medicação. Relatos pessoais, depoimentos coletivos, testemunhos de vida (cujo modelo parece ter sido a experiência dos Alcoólatras Anônimos) procuram assim relativizar o caráter puramente individualizante da clínica psicofarmacológica.

Isso nos traz a uma terceira contradição que a inscrição cultural da psicanálise vem respondendo no Brasil. A expansão cultural do discurso psiquiátrico deveria, em tese, representar um sensível abalo à procura pela psicanálise. No entanto o efeito parece ter sido exatamente inverso e aqui podemos recorrer também ao que se verifica em outros países. A França, por exemplo, o maior consumidor mundial de psicotrópicos (Roudinesco, 2000), é também um país onde a psicanálise encontra grande popularização. No Brasil tem crescido grandemente a procura pela psicanálise por parte de indivíduos que passam por um diagnóstico psiquiátrico e encontram-se como usuários de medicação por longos períodos. Tudo se passa como se a individualização do sofrimento psíquico, pela sua nomeação formal ou informal, abrisse uma demanda de subjetivação, e não a fechasse como poderia ser a primeira impressão. Tal nomeação parece instabilizar outros saberes que envolviam o mal estar psíquico. Saberes religiosos, mítico-familiares, oriundos de psicologias informais (como a auto-ajuda) ou tributários do discurso moral, são assim laicizados, despersonalizados e des-subjetivados. O efeito é a criação ou incremento da tensão entre indivíduo e sujeito, a partir da qual se pode entender uma nova inscrição cultural da psicanálise.

10. Conclusão:

Podemos afirmar, após este breve percurso, que a psicanálise adquire contornos próprios no Brasil, sempre marcada por certos deslocamentos. Tais deslocamentos não são determinados apenas pela colocação de idéias e práticas fora de seus lugares "originais". O provincianismo intelectual e a capacidade de incorporar paradigmas estrangeiros de modo a transformá-los em discursos de fachada ou modas passageiras certamente está presente no contexto que examinamos. No entanto isso não é suficiente para explicar a pregnância e extensão da presença da psicanálise no Brasil. Pregnância que se atesta por sua antiguidade e expressão na cultura. Extensão que se mostra em associações, instituições, dispositivos universitários, para-universitários e editoriais mas fundamentalmente e sobretudo pela efetiva prática da psicanálise.

Argumento que tal fato deriva, mesmo que secundariamente, da contínua e generalizada contradição que atravessa a conjugação dos principais modos de subjetivação na modernidade, no caso brasileiro. Ao contrário de outros centros onde o projeto liberal, por exemplo, chegou a se consolidar como uma realização político, jurídica e institucional, adquirindo uma estabilidade que levou à reação romântica, pela via do retorno ao passado, ou disciplinar, pela via do controle das diferenças, no Brasil esse é um projeto tardio. A curiosa combinação entre as formas de relação centradas na pessoa, e na família, com uma individualização burocrático disciplinar, não funcional, parece ter colocado o projeto de constituição da subjetividade na esfera do sujeito liberal, como uma solução, lá onde ela era sentida como um problema, ou seja nos centros de formação ideológica europeus.

Por exemplo, a técnica da confissão, segundo Foucault (1984), teria sido um elemento importante para a passagem do dispositivo da aliança para o da sexualidade. Neste sentido a confissão, em toda sua complexidade no esmiuçamento da subjetividade se apresentaria como uma condição do dispositivo psicanalítico. Ora, no Brasil a confissão nunca chegou a adquirir um contorno sequer próximo do que se verificou na Europa. A Inquisição obteve resultados pífios em suas visitas ao Brasil, a delação não era uma prática aceita e os ritos sagrados sempre tiveram dificuldade em se traduzir em experiências de interiorização. O clero secular, ao contrário, acabou por integrar-se e submeter-se ao poder patriarcal familiar. A exceção do jesuitismo, expulso e proscrito no século XVIII, os dispositivo de disciplinarização e docilização da subjetividade aparecem, no mais das vezes como ineficazes. A religião católica e as formas sincréticas a ela conjugadas, jamais se estabeleceram como plenos dispositivos de massificação, homogeneização que associam a massa ao anonimato. O mesmo se poderia aduzir da fraca presença do imaginário militar, em contraste ao feitio de outras sociedades latino americanas. Produzimos, ao contrário formações disciplinares altamente pessoalizadas, como o tenentismo e o coronelismo, ou no caso do campo religioso o messianismo.

A esfera da pessoa, por sua vez, só aparece como uma experiência miticamente perdida, e portanto a ser resgatada, quando se consideram contextos como o da imigração, da migração ou de experiências de desenraizamento como as descritas por Todorov (1999) e Zizek (1990). Sob outras circunstâncias o modo de vida centrado na pessoa parecia vivo demais para ser idealizado. A sociedade organicamente baseada na família não pertencia a um passado corrompido, mas a um presente opressor. O que sugere que o declínio da imago paterna seja um fenômeno tardio no caso brasileiro. Isso permite entender a assimilação inusitada do freudismo ao imaginário nacional. Neste contexto esperar autenticidade e supor a verdade interiorizada, na esfera das relações entre pessoas, aparecerá como uma franca ingenuidade. Compare-se, neste sentido a assimilação do ideário humanista, da psicanálise de Kohut, por exemplo, no Brasil e em um país como os Estados Unidos.

Vemos com isso que no Brasil a persistência de modos de relação centrados na pessoa, acabam por se adaptar e submeter projetos mais próximos da individualização e da constituição de sujeitos, no sentido liberal, e não o contrário. Este deslocamento, como vimos, articula os pontos mais problemáticos da presença da psicanálise no Brasil, mas também permitem entender sua contribuição e originalidade face à psicanálise no mundo.

Roudinesco (2000) aponta duas condições para a implantação da psicanálise em uma determinada sociedade: a existência de um saber psiquiátrico, capaz de laicizar o sofrimento psíquico, e a existência de um estado de direito que permita a livre transmissão do saber. Ambas as condições se verificam no caso brasileiro, mas com ressalvas. A emergência de um saber psiquiátrico se fez sem aniquilamento ou domínio das práticas mágico religiosas. A livre circulação do saber na verdade se restringiu a uma camada muito pequena da população, não pela via do controle ou censura (na maior parte do tempo) mas através de complexas e renitentes estratégias de exclusão social. Se tais vicissitudes mantêm alguma relação interna com a difusão cultural da psicanálise, esta é uma questão que resta responder.

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Revista de Psicoanálisis y Cultura
Número 15 - Julio 2002
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